Há interessados na retomada dos trens em MS, garante ministro
A volta da Malha Oeste é discutida na Câmara de Vereadores; até José Dirceu participa do evento

A reabilitação da Malha Oeste, para a retomada do transporte ferroviário em Mato Grosso do Sul, entre Corumbá e Três Lagoas e acesso ao Porto de Santos, envolveria de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões e já teria interessados no setor privado, disse esta manhã o ministro da carreira diplomática do Ministério das Relações Exteriores João Carlos Parkinson, que participa de audiência pública na Câmara de Vereadores de Campo Grande sobre o tema.
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A reabilitação da Malha Oeste para retomada do transporte ferroviário em Mato Grosso do Sul, entre Corumbá e Três Lagoas, demandaria investimentos entre R$ 3 e R$ 4 bilhões. Segundo o ministro João Carlos Parkinson, já existem grupos privados, inclusive estrangeiros, interessados no projeto. A concessão atual está com a Rumo Logística até 2026, mas não há movimentação efetiva para reativação dos trens. Autoridades, incluindo o ex-ministro José Dirceu e o deputado Vander Loubet, defendem a necessidade de pressão política para viabilizar o projeto, considerando a demanda existente e a importância logística para a integração sul-americana.
A concessão está com a empresa Rumo Logística, detentora de uma série de trechos no País, mas não há nenhuma movimentação firme sobre a volta dos trens no Estado. O caso já passou pelo TCU (Tribunal de Contas da União) e deve haver uma nova licitação, em vez de repactuação. O contrato se encerra em 2026. Presente ao debate, o deputado federal Vander Loubet sustenta que é preciso as lideranças políticas do Estado fazerem pressão, uma vez que há demanda para a retomada.
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Parkinson, que também é coordenador nacional dos corredores rodoviário e ferroviário bioceânicos, aponta que é preciso que o Governo Federal defina qual modelo jurídico irá adotar para o tema avançar. “Então, definido o marco jurídico e colocadas com clareza as regras, não vai faltar capital. Há grupos interessados, inclusive estrangeiros”, explicou. Ele foi enfático sobre a necessidade de volta da modalidade. “É um déficit de logística inaceitável em termos de transporte para um estado cuja função geográfica é centralizar a logística central e sul-americana.”
Até o ex-ministro do Governo Lula José Dirceu veio para acompanhar a discussão. Político experiente, ele também destacou a necessidade de haver engajamento e pressão em favor da volta do modal. “Nós temos que mobilizar todas as câmaras municipais da malha oeste, todos aqueles que acreditam na necessidade da integração. É o momento do começo, é importante mobilizar, principalmente Mato Grosso do Sul, que terá desenvolvimento”, sustentou o ex-ministro.
Dirceu citou a urgência de se ampliar a integração sul-americana e os benefícios que estados da fronteira oeste terão com a ampliação de logística para favorecer relações comerciais com a Ásia através do Oceano Pacífico, já havendo cinco rotas em discussão pelo Governo Federal, com Mato Grosso do Sul ligado à chamada Rota Bioceânica ou Corredor Bioceânico de Capricórnio. Para isso se consolidar, “só se pode dar através da logística da energia, da integração ferroviária e rodoviária”, argumentou.
Vander Loubet mencionou que há viabilidade econômica para justificar a volta dos trens para transportar cargas. Ele mencionou a passagem de 600 caminhões por dia pela BR-262 com minérios. Fala-se até em número muito superior, cerca de 800 em períodos em que o Rio Paraguai fica sem condições de navegação para escoar o produto; até por isso o Governo Federal quer fazer a concessão da Hidrovia do Rio Paraguai, com retirada de sedimentos em pontos para favorecer a navegabilidade.
O deputado defendeu que é preciso envolver diferentes agentes políticos, citando até a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, que está empenhada no debate sobre as cinco rotas. Ele também relativizou o debate sobre o tipo de bitola que seria necessário para a volta da circulação, citando que mesmo a menor pode oferecer condições de tráfego com segurança.

A Malha Oeste tem 1,9 mil quilômetros, sendo que o trecho sul-mato-grossense, que vai de Corumbá a Três Lagoas, tem cerca de 600 km. Feita a privatização nos anos 90, várias empresas já se sucederam na concessão.
A empresa atual também é responsável pela chamada Ferronorte, utilizada para transportar grãos de Mato Grosso ao Porto de Santos, e que atravessa o Estado nas regiões norte e nordeste, cruzando o Rio Paraná em Aparecida do Taboado. A Suzano utiliza a ferrovia para enviar a celulose produzida em Ribas do Rio Pardo para exportação e criou um ponto de embarque na região de Inocência. Já a Arauco e a Eldorado, do mesmo setor, farão um ramal ferroviário para se conectar à ferrovia.
O debate desta manhã reuniu uma série de políticos na Câmara, como a deputada federal Camila Jara, os deputados estaduais Pedro Kemp e Zeca do PT, a vereadora Luiza Ribeiro e o secretário estadual de Casa Civil, Eduardo Rocha. Também participaram do debate a vereadora de Bauru, Estela Almagro, e ferroviários, como Roberval Duarte, coordenador do Sindicato dos Ferroviários da Noroeste do Brasil (MS e SP).
O presidente da Câmara, Epaminondas Neto, Papy (PSDB), também considerou que é preciso força política e analisou que a retomada dos trens traria um salto de 20 anos no desenvolvimento. “Sem dúvida nenhuma quando a gente debate isso com grandes lideranças você encontra outros caminhos para também ter a solução. E a questão do investimento, encontrar parceiros privados também para que isso possa sair do papel.”
