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Cidades

“Jamais negociei sentença”, afirma advogada alvo de operação da Polícia Federal

Camila Bastos diz que casa foi invadida e considera ordem de busca contra ela desnecessária

Por Anahi Zurutuza | 28/10/2024 16:45
Camila Bastos mostra à reportagem declaração de Imposto de Renda onde consta imóvel citado em relatório da PF (Foto: Paulo Francis)
Camila Bastos mostra à reportagem declaração de Imposto de Renda onde consta imóvel citado em relatório da PF (Foto: Paulo Francis)

Advogada há 12 anos e filha do desembargador Alexandre Aguiar Bastos, Camila Cavalcante Bastos foi surpreendida na manhã da quinta-feira passada, dia 24, com a notícia de que a casa dela estava sendo vasculhada por policiais federais. No local, a mãe dela, os filhos pequenos e a babá das crianças dormiam, quando a equipe da PF (Polícia Federal) chegou, fortemente armada, para cumprir mandado de busca e apreensão autorizado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) para a deflagração da Operação Ultima Ratio.

“Minha casa foi invadida, a porta arrombada, minha família foi exposta e meu nome foi desmoralizado em rede nacional. Minha carreira foi atingida de forma brutal, sendo que isso poderia ter sido evitado com uma simples intimação e uma juntada de documentos. Mas isso não daria notícia, e tampouco teria a função política”, afirma a advogada, que até a semana passada ocupava o cargo de vice-presidente da OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil Seccional de Mato Grosso do Sul) e estava em campanha pela reeleição.

Ela diz que fez questão de dar entrevista para negar publicamente ter qualquer envolvimento com suposto esquema de comércio de sentenças no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) e dizer que está à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento.

É importante deixar claro que meu nome foi citado na decisão apenas como ‘alvo de busca’ para fins de esclarecimento de fatos. Eu não sou investigada, não estou indiciada, tampouco fui denunciada”, explica Camila Bastos.

Após ter tido acesso à decisão judicial que determinou as buscas em sua casa e local de trabalho, Camila diz ter sido citada, em resumo, por dois motivos: a falta da inclusão da compra de um imóvel em 2019 na declaração do Imposto de Renda dela e o fato do pai, Alexandre Batos, ter sido relator em julgamentos de dois processos contra prefeituras que possuem contratos com o escritório em que atua.

“O imóvel em questão, o único de minha propriedade inclusive, foi adquirido enquanto eu estava casada. Na ocasião foi dada uma entrada de 20%, parcelada, e o restante financiado pela conta do meu esposo, à época. Por esta razão foi informado tudo na declaração de Imposto de Renda do meu marido. Não há qualquer ocultação de patrimônio, o imóvel foi devidamente declarado e está financiado até a data de hoje”, afirma, mostrando o documento à reportagem.

Trecho da declaração do IR do ex-marido onde compra de imóvel foi informada à Receita (Foto: Reprodução)
Trecho da declaração do IR do ex-marido onde compra de imóvel foi informada à Receita (Foto: Reprodução)

Camila Bastos também foi atrás das ações judiciais mencionadas pela PF como indícios da participação de pai e filha em suposto conluio. Nos dois casos, o desembargador Alexandre Bastos deu decisões desfavoráveis aos municípios para os quais o escritório da advogada trabalha. “O que desmistifica qualquer ‘favorecimento’”, conclui.

“Meu nome foi incluído no relatório da Polícia Federal como ‘alvo de busca’ tão somente pelo fato de eu ser filha de alguém”, completa a advogada.

Uma das decisões do desembargador Alexandre Bastos negando recurso de prefeitura para qual o escritório de Camila trabalha (Foto: Reprodução)
Uma das decisões do desembargador Alexandre Bastos negando recurso de prefeitura para qual o escritório de Camila trabalha (Foto: Reprodução)

Afastamento – Além do susto e do dano psicológico, Camila diz que a reputação profissional foi prejudicada por ter sido incluída no rol de suspeitos. Ela, então, decidiu se afastar da OAB. “Em respeito à minha instituição, à minha classe e para que não haja qualquer dúvida em relação à lisura das medidas que serão tomadas pela OAB”, diz sobre futuras medidas que serão tomadas diante do que foi apurado pela operação.

A advogada também explica que preferiu não continuar na chapa que disputa o comando da OAB para não atrapalhar o projeto do grupo que compunha. “Em relação à candidatura, ela não é minha, é de um grupo que muito já trabalhou pela advocacia, e ainda vai trabalhar. Não poderia deixar todo este projeto liderado pelo advogado Bitto Pereira, ser atingido de forma negativa”.

Naquela quinta-feira, recorda Camila, ela trabalhava no interior, por isso não estava em casa no momento que mandado de busca foi cumprido. Apesar de toda a repercussão, revela que de sua residência só foram levados dois celulares, um notebook e documento relativo à posse do imóvel. “Não tinha dinheiro na minha casa, não tinha arma na minha casa, não tinha bolsa de valor, não tinha joia. Nada, nada”.

Por fim, a advogada volta a dizer que vai prestar todos os esclarecimentos necessários, embora não haja acusações contra ela. “Me coloco à disposição para o que quer que seja um esclarecimento, porque tem uma coisa que eu tenho absoluta certeza é de que jamais vendi sentença ou fiz negociação”.

Ultima Ratio – Na quinta-feira passada, a Polícia Federal foi às ruas para cumprir 44 mandados de busca e apreensão em Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Brasília (DF) e São Paulo (SP). O STJ ainda deferiu o pedido de afastamento dos sigilos bancário e fiscal de parte dos investigados, além afastar das funções cinco desembargadores e um conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado).

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