ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
NOVEMBRO, TERÇA  18    CAMPO GRANDE 25º

Cidades

Ministério cria manual para orientar indígenas em conflitos fundiários

O material nasce como uma ferramenta prática de proteção e prevenção de violência

Por Judson Marinho | 18/11/2025 17:48
Ministério cria manual para orientar indígenas em conflitos fundiários
Lançamento do manual realizando durante o evento da COP30 (Foto: Divulgação / MPI)

O MPI (Ministério dos Povos Indígenas) lançou um manual inédito que reúne, pela primeira vez, instruções claras e acessíveis para orientar povos indígenas sobre como agir em situações de conflito fundiário em todo o país.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) lançou um manual inédito para orientar comunidades indígenas em conflitos fundiários. A publicação detalha como acionar órgãos como a FUNAI, o Ministério Público Federal e forças de segurança, além de explicar direitos fundamentais e mecanismos de proteção. O material, desenvolvido com apoio do Banco Mundial, busca promover soluções pacíficas e fortalecer a autonomia indígena. O manual surge em meio a tensões, como o recente conflito em Mato Grosso do Sul, onde um indígena e um vigilante morreram em confronto. O MPI também anunciou a demarcação da Terra Indígena Ypoi/Triunfo, área disputada há décadas. A cartilha visa prevenir violências e ampliar o acesso à justiça, reforçando a importância do diálogo e da atuação institucional.

A publicação, intitulada Manual de acionamento e resposta em conflitos fundiários envolvendo povos indígenas, foi desenvolvida pelo DEMED/MPI (Departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos Fundiários Indígenas) e detalha, passo a passo, quais órgãos podem ser acionados, como funciona a estrutura do Estado para proteção territorial e quais são os direitos garantidos às comunidades.

Elaborado com apoio do Banco Mundial e do SPF (State and Peacebuilding Fund), o material nasce como uma ferramenta prática de proteção, prevenção de violências e fortalecimento da autonomia indígena diante de tensões recorrentes nos territórios tradicionais. Segundo o MPI, a cartilha busca promover o enfrentamento de conflitos por vias pacíficas, institucionais e baseadas no diálogo, em consonância com tratados internacionais ratificados pelo Brasil, como a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

A cartilha torna esse processo mais acessível ao sistematizar orientações sobre o funcionamento de órgãos como FUNAI (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), Ministério Público Federal, Defensorias, polícias estaduais e federais, forças ambientais e ouvidorias.

O documento também explica que, em situações de risco iminente, as comunidades podem acionar diferentes instâncias do sistema de justiça e segurança pública, sempre priorizando a FUNAI como órgão responsável pela proteção territorial e orientando sobre como proceder em emergências, como acionar a Polícia Federal, a Polícia Militar, a Polícia Rodoviária Federal, o Corpo de Bombeiros e a Guarda Municipal.

Além das orientações práticas, o manual também esclarece direitos fundamentais ligados à demarcação de terras, atuação estatal em casos de invasões, crimes ambientais, ameaças a lideranças e cumprimento de ordens judiciais.

A publicação ainda dedica capítulos ao funcionamento das ouvidorias, ao papel da sociedade civil e aos mecanismos de proteção a defensores de direitos humanos.

Para o MPI, a nova cartilha representa um avanço na democratização da informação e no fortalecimento da segurança das comunidades indígenas. Ao centralizar orientações antes dispersas entre diferentes órgãos, o material se torna uma referência para lideranças, organizações e servidores públicos envolvidos na prevenção e resolução de conflitos no campo.

O secretário-executivo do MPI, Eloy Terena, informou que o material reúne informações claras sobre quais órgãos podem ser acionados, como funcionam os mecanismos de denúncia e quais são as responsabilidades das instituições envolvidas na proteção territorial.

"Que este instrumento fortaleça o acesso à justiça, previna violências e reforce que a solução de conflitos deve sempre passar pelo diálogo, pela atuação institucional e pela paz no campo", declarou Eloy.

Escalada de conflitos em MS (Mato Grosso do Sul) - O manual é lançado dois dias após conflito entre indígenas e seguranças de fazenda na retomada Pyelito Kuê, situada na Fazenda Cachoeira, em Iguatemi, onde vivem mais de 40 Guarani-Kaiowás.

O conflito a tiros aconteceu na madrugada deste domingo (16), durante um ataque ao acampamento erguido pelos indígenas na área reivindicada. Dos 12 barracos erguidos, 10 foram incendiados logo após a invasão.

Para o MPI, a ação teria sido conduzida por pistoleiros. O governo federal acionou órgãos de segurança, enviou equipes do DEMED para acompanhar o caso de perto.

O vigilante, Lucas Fernando da Silva, 23 anos, e o indígena Vicente Fernandes Vilhalva, de 36 anos, morreram durante o confronto. Um homem indígena, Valdecir Alonso Brites, foi preso pela polícia, acusado de matar Vicente e encaminhado para a Delegacia de Polícia Federal em Naviraí.

O confronto resultou em manifestos contra a violência e pedidos de demarcação de terras na Marcha Global dos Povos Indígenas, realizada nesta segunda-feira (17), no início da segunda semana da COP 30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), em Belém (PA).

Ontem (17), o MPI também anunciou a demarcação da TI (Terra Indígena) Ypoi/Triunfo, do povo Guarani Ñandeva, localizada no município de Paranhos. A área é cenário de conflito fundiário há mais de 20 anos e, em 2009, dois professores foram assassinados em uma tentativa de recuperação da posse.