Advogada é presa 10 dias após ação contra quadrilha que atuava de presídios
Investigação indica que ela era responsável pelo setor de “inteligência” do grupo aliado ao PCC

A advogada Aline Gabriela Brandão, 34 anos, foi presa nesta segunda-feira (17), em Campo Grande. Considerada foragida desde a última semana, ela é apontada como peça-chave da organização criminosa investigada na Operação Blindagem, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado). A prisão dela ocorre dez dias após a força-tarefa ir às ruas para cumprir 76 mandados de prisão e de busca em Mato Grosso do Sul, São Paulo e Santa Catarina, visando desmantelar uma rede de tráfico interestadual comandada por detentos.
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A advogada Aline Gabriela Brandão, 34 anos, foi presa em Campo Grande, sendo apontada como figura central na organização criminosa investigada pela Operação Blindagem. Ela é parceira do traficante Thiago Gabriel Martins da Silva, preso na Bolívia, e atuava no setor de inteligência do grupo aliado ao PCC. A operação, deflagrada em 7 de novembro, expôs uma rede de tráfico interestadual que operava de dentro das prisões, com apoio de servidores corrompidos. O esquema, que movimentava drogas para oito estados brasileiros, foi descoberto após a apreensão de um celular em 2022, resultando em 76 mandados judiciais em três estados.
Aline, que já havia sido alvo de outra operação neste ano, é apontada como parceira e mulher do traficante Thiago Gabriel Martins da Silva, o “Especialista” ou “Thiaguinho”, do PCC (Primeiro Comando da Capital), preso na Bolívia desde agosto de 2023. Na investigação do Gaeco, ela atuava como responsável pelo setor de “inteligência” do grupo aliado ao PCC, ajudando Thiago e o comparsa Kleyton de Souza Silva, o “Tom”, preso em esquema de corrupção dentro do sistema carcerário.
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Em nota, o advogado Marco Aurélio Torres Santos afirmou que Aline Brandão foi envolvida na operação por conta de conversas entre terceiros, em 2022, que tratavam de um episódio de corrupção. "Nessas conversas, a investigação interpretou, de modo equivocado, que ela seria a pessoa denominada 'dona' mencionada nesses diálogos", pontua o defensor.
Ao Campo Grande News, ele alega que, na época, Aline estava se recuperando de uma cesariana, o que corrobora com a versão de que ela não teve participação em crime algum. Aline se apresentou na delegacia nesta segunda-feira.
"Constituindo, na realidade, todas as acusações meras suposições, acrescentando que, mesmo não concordando com a prisão preventiva, ela, confiando fielmente na Justiça, se apresentou espontaneamente para o cumprimento da ordem de custódia, estando, no momento, aguardando a apreciação dos seus pleitos libertários já formulado junto aos Órgãos de Primeiro e Segundo Graus", finalizou o advogado.

Blindagem - Deflagrada no dia 7 de novembro, a Operação Blindagem expôs uma organização criminosa armada, envolvida em tráfico interestadual, corrupção ativa e passiva, usura, comércio ilegal de armas e lavagem de dinheiro. Segundo o Ministério Público, o esquema funcionava de dentro das unidades prisionais, com suporte de servidores corrompidos que garantiam celulares, informações privilegiadas e a permanência de lideranças em presídios de baixa rigidez.
A investigação começou após a apreensão do celular usado por Kleyton dentro de uma cela, em 2022. Em diálogos registrados, ele tratava de negócios milionários com Thiaguinho - que, da Bolívia, enviava fotos com fuzis e pistolas, reforçando a atuação violenta do grupo. Os dois praticavam as chamadas “conduções”, conduzindo vítimas à força para extorquir dívidas ligadas ao tráfico e à agiotagem.
Durante 25 meses de investigação, o Gaeco identificou que o grupo enviava drogas para MS (Mato Grosso do Sul) e ao menos oito estados: São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Acre, Maranhão e Goiás. Para isso, usava caminhões com fundo falso carregados de alimentos, remessas via Sedex, carros de passeio e até vans com passageiros.
A Blindagem cumpriu 35 mandados de prisão preventiva e 41 de busca e apreensão em Campo Grande, Aquidauana, Sidrolândia, Jardim, Bonito, Ponta Porã e Corumbá, além das cidades de Porto Belo e Balneário Piçarras (SC), Itanhaém e Birigui (SP). Nos endereços vistoriados, foram apreendidos dinheiro em reais e dólares, armas, munições e quatro cheques de R$ 200 mil cada, emitidos por bancos de cidades de Santa Catarina. Em Aquidauana, a casa de um investigado já alvo da Operação Balcão de Negócios, em 2019, também foi alvo de buscas.

O nome “Blindagem” faz referência à rede de proteção que a quadrilha mantinha por meio da corrupção de servidores públicos, garantindo a movimentação dos líderes dentro do sistema prisional e o acesso a dados sigilosos de bancos públicos.
"Conhecida" - Aline é figura conhecida no meio policial. Em março, foi presa no Rio Grande do Norte na Operação Chiusura, do Distrito Federal, acusada de gerenciar as finanças de um núcleo do PCC que movimentou R$ 300 milhões em três meses. Foi solta por ter filhos pequenos.
No pedido de prisão atual, o Gaeco destaca que ela acionava um policial penal para obter informações sobre o detento “Tom”, que temia a transferência da Penitenciária de Aquidauana. Em diálogos, ele se referia à advogada como “sua dona”, ao falar com Thiaguinho.
Antes das operações, Aline já havia sido presa por desacato a um delegado. Ela é enteada de “Tio Arantes”, um dos líderes da maior rebelião já registrada em presídio de Mato Grosso do Sul, em 2006.
Ponto de partida - O telefone apreendido dentro da cela com Kleyton foi o fio que puxou toda a investigação. Os promotores descobriram desde a compra e venda de drogas, armas e munições até a cobrança violenta de dívidas e a atuação da cúpula do PCC para autorizar punições.
Com a prisão de Aline nesta segunda-feira, o Gaeco avança em um dos núcleos considerados mais estratégicos da quadrilha: o suporte externo que mantinha viva e blindada a engrenagem criminosa comandada de dentro das prisões.
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