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Cidades

No Supremo, procurador de MS propõe rastreamento nacional de facções criminosas

Romão Avila cobra integração de dados, reforço na fronteira e endurecimento das punições para faccionados

Por Kamila Alcântara | 18/11/2025 08:08
No Supremo, procurador de MS propõe rastreamento nacional de facções criminosas
Romão Avila Milhan Junior é Procurador-Geral de Justiça de Mato Grosso do Sul (Foto: Paulo Francis)

Em uma reunião marcada pela cobrança coletiva de soluções para o avanço das facções pelo país, o procurador-geral de Justiça de Mato Grosso do Sul, Romão Avila Milhan Junior, detalhou ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), uma lista de problemas que o Estado considera urgentes.

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O Procurador-Geral de Justiça de Mato Grosso do Sul, Romão Avila Milhan Junior, apresentou ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, propostas para combater o crime organizado. Entre as principais demandas estão a integração nacional de dados criminais, maior atenção federal às fronteiras e penas mais rigorosas para membros de facções. Durante reunião que discutiu a ADPF das Favelas e o Marco do Crime Organizado, o procurador destacou que 80% das drogas e armas que entram no Brasil passam por MS. Ele também criticou a atual legislação penal, defendendo tratamento diferenciado para integrantes de organizações criminosas, independentemente do tipo de crime cometido.

A audiência integrou a discussão nacional da ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 635, conhecida como ADPF das Favelas, e do futuro Marco do Crime Organizado.

Para o Campo Grande News, Romão compartilhou que levou a Moraes três pontos principais: integração nacional dos dados criminais, atenção federal à fronteira e endurecimento do cumprimento de penas para integrantes de organizações criminosas.

Integração de dados - O primeiro pedido foi direto. Segundo o procurador-geral, o país não consegue rastrear de forma eficiente integrantes de facções que circulam por diferentes estados. O MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) criou um sistema interno para integrar ocorrências e identificar reincidências, mas a ferramenta não funciona sem dados nacionais.

“Disse a ele duas preocupações relativas à segurança pública como um todo. A primeira é o compartilhamento de dados entre a Secretaria de Segurança Pública e o Ministério Público, em nível nacional. Nós precisamos dos dados de todo o Brasil”, afirmou.

O procurador citou o caso da jornalista Vanessa Ricarte, cuja morte levou à criação do Alerta Lilás, sistema que integra boletins e medidas protetivas para antecipar riscos de violência doméstica. “No caso da Vanessa, o autor (Caio Nascimento) tinha cinco ocorrências registradas, mas esses dados não ficavam condensados na mesma base. Hoje, numa segunda ocorrência da mesma pessoa, já recebemos o alerta”, explicou.

Segundo ele, o mesmo modelo poderia ser adotado nacionalmente, mas depende de acesso às bases do Poder Judiciário e das secretarias estaduais. “Nós já conseguimos fazer isso internamente aqui no Mato Grosso do Sul. Esse sistema pode ser adotado em nível nacional”, disse.

No Supremo, procurador de MS propõe rastreamento nacional de facções criminosas
Romão Avila Milhan Junior fala sobre a importância da integração de dados criminais (Foto: Paulo Francis)

Fronteira vulnerável - O segundo ponto apresentado foi a fronteira. Romão afirmou que 80% das drogas e das armas que entram no Brasil passam pelo Estado, que possui mais de três mil quilômetros de divisa com Paraguai e Bolívia.

“Meu pedido ao ministro foi que precisamos de um olhar da União para a fronteira. Do lado de lá, você vê plantação de maconha e trânsito livre de carros, com total ausência de defesa. Isso é pernicioso para o Estado brasileiro”, relatou.

Ele afirmou que levou procuradores do Rio de Janeiro e da Bahia para verem a situação de perto. “Para enxergarem a realidade do nosso Estado”, disse. O procurador citou ainda que o secretário nacional de Segurança Pública, Mário Luiz Sarrubbo, deve ir ao Estado, junto com a equipe federal responsável pela política de fronteiras.

Endurecimento de penas - O ponto mais sensível da fala foi o pedido por uma legislação que recrudesça o cumprimento de pena de integrantes de facções. Romão criticou o que chamou de “facilitação progressiva” ao longo das últimas décadas.

“O cumprimento da pena no Brasil foi facilitado, muito facilitado. Semiaberto, tornozeleira, assinatura mensal no fórum, dizer que isso é cumprimento efetivo?”, questionou.

O procurador defendeu que, ao identificar que um réu pertence a uma facção, o sistema judicial tenha instrumentos para aplicar tratamentos diferenciados, independentemente de o crime específico ter sido praticado em nome da organização.

“Se você descobre que ele pertence a uma facção, consegue, no corpo da ação penal, ter um recrudescimento. Não só quando o fato é praticado pela organização, mas também no cumprimento de pena e nos benefícios”, explicou.

Segundo ele, esse ponto está sendo discutido em um projeto de lei conduzido pelo ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo, o deputado federal Guilherme Derrite (PP), com participação do Ministério Público.

Até quando? - Apesar de afirmar que Mato Grosso do Sul ainda mantém sensação de segurança acima da média nacional, Romão reconheceu preocupação com o futuro.

“Temos essa sensação por conta do trabalho efetivo da Polícia Militar, do DOF (Departamento de Operações de Fronteira) e do BOP (Batalhão de Operações Policiais), mas esse trabalho tem limite. Quando aumenta o número de atuantes no crime e o efetivo do Estado é limitado, até quando isso vai acontecer?”, disse.

Ele relatou que, ao ouvir procuradores de todo o país, da Amazônia ao Rio Grande do Sul, percebeu que o diagnóstico era o mesmo. “As falas se complementam. Cada estado tem sua individualidade, mas o sentimento geral é que precisamos de um olhar atento e do cumprimento do papel de cada instituição”, termina o procurador.

Ao final da reunião, Moraes registrou formalmente todas as demandas dos estados e confirmou que as discussões serão incorporadas às propostas em análise no Supremo e no Congresso.

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