Casal do PCC, traficante e advogada eram sócios de preso “blindado”
Thiago Gabriel e Aline Brandão são investigados por relação com detento que comandava tráfico da cadeia

Alvo da Operação Blindagem, desencadeada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), casal conhecido na cena policial de Mato Grosso do Sul “escapou” da cadeia na semana passada. Contra o traficante Thiago Gabriel Martins da Silva, de 36 anos, e a advogada Aline Gabriela Brandão, 34, ambos apontados como membros da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), havia mandados de prisão preventiva (por tempo indeterminado) a serem cumpridos, mas a força-tarefa não conseguiu capturá-los.
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Se as ordens judiciais não forem revogadas, Thiago e Gabriela figurarão na condição de procurados pela Justiça até 2042 (validade dos mandados). Depois da deflagração da operação, no dia 7 de novembro, o Gaeco informou à Justiça que “não foi dado cumprimento aos mandados de prisão” contra o casal do PCC e outras quatro pessoas que não foram encontradas.
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O Gaeco continuará a caçada. “Contudo, continuarão sendo encetadas diligências para a realização da captura de todos”, diz o registro.

Casal do PCC – Thiago Gabriel, conhecido como “Especialista” ou “Thiaguinho PCC”, ao que tudo indica, está preso na Bolívia desde agosto de 2023. Ele foi capturado durante operação policial contra traficantes e flagrado com granadas de uso restrito e uma aeronave carregada com 400 kg de cocaína.
A DHPP (Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa) chegou a se movimentar para conseguir a extradição do traficante, já que em Mato Grosso do Sul ele responde pelo assassinato do garagista Carlos Reis de Medeiros de Jesus, 52 anos, o “Alma”, cujo corpo nunca foi encontrado. Até outubro deste ano, contudo, “Especialista” permanecia no país vizinho.
Embora se apresente como divorciada atualmente, para o Gaeco, Aline Brandão é mulher e comparsa de Thiago. A Blindagem é a segunda operação da qual ela foi alvo este ano.
Em março, ela chegou a ser presa no Rio Grande do Norte, durante a Operação Chiusura, da Polícia Civil do Distrito Federal, mas teve a prisão substituída por medidas cautelares por ter filhos pequenos e dependentes dos cuidados maternos. A investigação do Distrito Federal aponta Aline como a gestora financeira de um núcleo do PCC em Mato Grosso do Sul que chegou a movimentar R$ 300 milhões em três meses.
Já nas apurações que embasaram o novo pedido de prisão da advogada, Aline aparece como responsável por ajudar o marido no “setor de inteligência” da organização criminosa comandada pelo traficante e por Kleyton de Souza Silva, o “Tom”, que seria aliado do PCC e “sócio” de Thiaguinho em alguns “negócios” – envios de cargas de entorpecentes e extorsões de credores – e preso “blindado” em esquema de corrupção no sistema carcerário de Mato Grosso do Sul.
Em um dos diálogos interceptados pelo Gaeco, Kleyton diz “sua dona” para se referir à advogada quando conversa com Thiaguinho. Ela seria a responsável por contatar o policial penal Alírio Francisco do Carmo para verificar a situação de “Tom”, que temia ser transferido da Penitenciária Estadual de Aquidauana, de segurança média, durante o “bonde” que buscaria outros presos.

As investigações que culminaram na operação da semana passada começaram após a apreensão do celular usado por Kleyton em 2022. Numa das conversas levadas a relatório pelos promotores, em março daquele ano, o detento falava com “Especialista” sobre a venda de drogas.
Vivendo na Bolívia à época, Thiago também enviava muitas fotos de armas o sócio, conforme as apurações. “Nesse contexto, deve ser mencionado que, no repositório de imagens extraído do aparelho celular de Kleyton, foram localizadas diversas fotografias de Thiago Gabriel portando armas de fogo, tais como, um fuzil, arma de guerra de alto poder ofensivo e pistolas, estando uma delas com acessório acoplado (possivelmente uma lanterna tática ou laser) e as ostentando com naturalidade, o que reforça o padrão de atuação violenta e intimidadora que marca a cobrança de dívidas realizadas pelo grupo”, diz trecho da peça que pediu as prisões da Operação Blindagem.
Kleyton e Thiago também eram comparsas na extorsão de credores por meio das chamadas “conduções”, que consistem em levar uma pessoa à força até determinado lugar para que ela seja coagida e violentada a quitar dívidas ou a cumprir ordens impostas pelos criminosos.
Thiaguinho é filho de José Venceslau Alves da Silva, o “Celau”, homem com extensa ficha criminal, que morreu em 2020. Antes de ser alvo de duas operações, Aline Gabriela já havia sido presa por desacato a um delegado da Polícia Civil. Ela é enteada de José Cláudio Arantes, o “Tio Arantes”, traficante e assaltante que foi um dos líderes da pior rebelião já ocorrida em um presídio no Estado, em 2006, patrocinada pela facção paulista.
Outro lado - Apesar de ser considerada foragida, Aline Gabriela já se apresentou no processo por meio de advogado do Rio de Janeiro. Na procuração, assinada por ela para que Marco Aurélio Torres Santos a represente, ela diz morar em endereço no Jardim Bonança, em Campo Grande. O documento é de segunda-feira (10) e ainda não foi apresentada a manifestação da investigada à Justiça.
A reportagem tentou contato com Marco Aurélio, que não atendeu a ligação. Aline Gabriela também não respondeu às mensagens enviadas pelo Campo Grande News via WhatsApp. As defesas dos outros citados ainda não se manifestaram, mas o espaço segue aberto para futuros posicionamentos.

Operação Blindagem – O Gaeco, com apoio do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e do Batalhão de Choque, foi às ruas no dia 7 de novembro para cumprir 76 mandados de prisão e de busca, com o objetivo de desmantelar a organização criminosa armada dedicada ao tráfico de entorpecentes e armas. São investigados ainda crimes de agiotagem (usura) e lavagem de dinheiro.
Os “negócios” comandados de dentro do sistema prisional eram mantidos em Mato Grosso do Sul e em pelo menos outros oito estados: São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Acre, Maranhão e Goiás.
Ainda conforme as apurações do Gaeco, a quadrilha enviava drogas para cidades do interior do Estado e para outras unidades da federação, utilizando métodos variados: caminhões com fundo falso que transportavam alimentos lícitos para camuflar o transporte de entorpecentes, remessas pelo Sedex via Correios e uso de veículos comuns e vans com passageiros.
O nome da operação faz referência à “blindagem” que os criminosos recebiam graças à corrupção de servidores.
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