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Esportes

Paixão pelo taekwondo, mestre Amadeu revelou campeões e cidadãos no tatame

Aos 88 anos, recebeu na Capital a penúltima graduação desse esporte

Por Silvio de Andrade, de Corumbá | 06/05/2025 08:19
Paixão pelo taekwondo, mestre Amadeu revelou campeões e cidadãos no tatame
Mestre Amadeu recebeu graduação da confederação e federação de taekwondo no dia 28 de abril. (Fotos: Divulgação)

Com olhar compenetrado na TV, assistindo a uma competição de judô, um de seus passatempos hoje, grão-mestre Amadeu Dias de Moura, 88, acompanha no íntimo de seu silencio a movimentação de pessoas na sala da casa da filha Jacqueline (Jaque), ao lado da antiga academia, centro de Corumbá. Ele é o foco das atenções, entre câmeras, troféus, medalhas, acervo de imagens, diplomas e o velho quimono de taekwondo. Seus olhos atentos brilham.

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Grão-mestre Amadeu Dias de Moura, 88 anos, ícone do taekwondo em Mato Grosso do Sul, é tema de documentário que resgata sua trajetória. O curta, com 40 minutos de duração, revela a história do mestre que introduziu o esporte no estado na década de 70, após se tornar um dos primeiros faixas pretas do Brasil. A produção conta com depoimentos emocionados de ex-alunos, amigos e familiares, que destacam não só sua contribuição para o esporte, mas também seu papel humanitário na formação de jovens. Amadeu, que recebeu recentemente o título de 8º dan, graduação de Mestre Sênior, dedicou sua vida ao taekwondo após deixar a Marinha. Sua academia em Corumbá, hoje fechada, formou atletas e cidadãos, oferecendo aulas gratuitas para a maioria dos alunos. O documentário, idealizado por sua filha Jacqueline, busca preservar o legado do mestre que, mesmo enfrentando desafios pessoais, como a depressão após a morte da esposa e o acidente do neto, deixou uma marca indelével na história do taekwondo brasileiro.

Documentário que está sendo produzido vai perpetuar uma história de vida dedicada ao esporte, em especial às artes marciais, e ao próximo – o legado de um homem que introduziu o taekwondo em Mato Grosso, a partir de Corumbá, em meado de 1970, após se tornar um dos primeiros faixas pretas do Brasil, no Rio de Janeiro, onde serviu a Marinha. Uma história que se confunde com o amor àquelas crianças e jovens que formou atletas e cidadãos por décadas.

Paixão pelo taekwondo, mestre Amadeu revelou campeões e cidadãos no tatame
Amadeu ao lado dos filhos e do grande mestre coreano Young Min Kim

Com a morte da esposa (professora Enilda), há três anos, o mestre agravou um processo de depressão que começou com o susto após o acidente envolvendo o neto Felipe Battesti (filho de Jaque), 38, major da Aeronáutica e piloto da Força Aérea Brasileira, em 2018. Ele se salvo ao se ejetar na queda da aeronave, no Rio. Amadeu sofreu um tipo de bloqueio onde afetou a fala, suas respostas são curtas. Na maioria das vezes, não se esforça a comunicar-se com clareza.

“Papai está saudável fisicamente, o problema é mental. Está mais para ouvir, fala quando quer”, resume a filha, turismóloga, envolvida agora no projeto do documentário sobre sua trajetória, com produção do ator e ativista cultural de Corumbá Salim Haqzan. A ideia é preservar o legado do velho mestre, com depoimentos de ex-alunos, amigos e dirigentes. O curta de 40m será disponibilizado nas redes sociais e exibido em festivais.

Paixão pelo taekwondo, mestre Amadeu revelou campeões e cidadãos no tatame
Pioneiro do taekwondo ainda no Mato Grosso. Amadeu se iniciou no karatê, no Rio de Janeiro

Maior graduação - “É um investimento familiar, de resgate, estamos perdendo pessoas e memórias”, diz Salim, 54. Os depoimentos são carregados de emoções. Hoje dono de academia de judô na cidade, o professor Gehad Saleh, 58, foi aluno do mestre e fala com os olhos mareados: “uma pessoa singular. Sua academia foi um lar para mim por mais de 20 anos, meu porto seguro, de superação. Seu lado humano era muito forte, insuperável”.

Reconhecido e celebrado dentro e fora do país como um dos grandes expoentes do taekwondo brasileiro, mestre Amadeu recebeu recentemente, em Campo Grande, o título de 8º dan, graduação de Mestre Sênior e nível elevado de conhecimento e habilidade avançada no esporte, cujo grau máximo é o 9º dan. Título conferido pela Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD) e Federação de Taekwondo do Mato Grosso do Sul (FTKDMS).

Paixão pelo taekwondo, mestre Amadeu revelou campeões e cidadãos no tatame
Na academia em Corumbá com os alunos: dedicação dentro e fora do tatame

Sua academia em Corumbá, na rua Antônio João, hoje fechada, foi uma das referências nesse esporte no Estado, não apenas por revelar grandes atletas - um dos quais o próprio filho, Amadeu Junior, 62, que também se tornou mestre; integrou a delegação brasileira em duas olimpíadas como dirigente da CBTKD; treinou as seleções do México e El Salvador e, atualmente, realiza trabalho de base para a confederação do Paraguai, em Assunção.

Aula de reforço - Após passar para a reserva da Marinha, Amadeu (nasceu em Santo Antônio de Leverger, MT) dedicou-se ao taekwondo integralmente, se revelando uma pessoa humanitária, dedicada ao acolhimento dos vulneráveis e na formação de valores fundamentais (disciplina, respeito e perseverança) dos jovens que frequentavam sua academia. Ajudou muitos deles a sair das drogas e do ócio, se tornando grandes campeões dentro e fora do tatame.

Paixão pelo taekwondo, mestre Amadeu revelou campeões e cidadãos no tatame
Mestre com a filha Jacqueline, que idealizou a produção do documentário. (Foto: Silvio de Andrade)

“Ele acolhia a todos, quem podia pagar ou não a academia”, lembra Jaque, 60. “Não visava lucro, por amor ao esporte; mais de 70% das turmas da academia tinham bolsa. Com o dinheiro da locação de um terreno em Ladário, pagava o aluguel da academia e ainda tirava dinheiro do bolso para custear as viagens da equipe para competir”, cita. “Minha mãe era parceira e até dava aula de reforço (de graça) para as crianças.”

Seu contemporâneo de jornada, grão-mestre (9º dan) coreano Young Min Kim, 80, foi quem trouxe o taekwondo para o Brasil, nos anos de 1970, e um dos avaliadores do rigoroso exame que garantiu a faixa preta a Amadeu, no começo de tudo. Ainda morando no Rio e falando pouco português, Kim abre seu coração: “tenho uma grande admiração pelo Amadeu, um amigo de longo tempo. Prestou relevantes serviços ao esporte do Brasil”.

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