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Capital

“Se precisar morrer, vai morrer”, diz catador sobre conflito no lixão

Aline dos Santos e Natalia Yahn | 23/03/2016 09:42
Rodrigo (de camiseta rosa) diz que catadores vão voltar a fechar o lixão. (Foto: Fernando Antunes)
Rodrigo (de camiseta rosa) diz que catadores vão voltar a fechar o lixão. (Foto: Fernando Antunes)

“Nós vamos fechar a rodovia até que tenha uma solução. Se precisar morrer, vai morrer. Se a gente não morreu dentro do lixão, vai morrer agora”. A declaração do catador Rodrigo Leão Marques retrata o clima de tensão e a previsão de um nova interdição na BR-262, no bairro Dom Antônio Barbosa, em Campo Grande. Apesar do potencial de conflito, não há segurança no local.

Desde 28 de fevereiro, quando a Justiça proibiu acesso dos catadores autônomos à área de transição do lixão, a rodovia tem sofrido interdições. A primeira foi em 2 de março. Os trabalhadores reclamam que ficaram sem fonte de renda e que a UTR (Usina de Triagem de Resíduos), inaugurada em agosto de 2015, não teria material suficiente para todos. Os catadores apontam que o trabalho no lixão poderia render até R$ 100 por dia, valor que caiu para R$ 25 na usina.

Segundo Rodrigo, reunião ontem no MPT (Ministério Público do Trabalho) terminou sem solução para o problema. Eles querem que a área de transição seja reaberta ou que o lixo seja deixado na UTR para a triagem e só depois descartado. Os dois pedidos foram negados. Também foi discutida a possibilidade de ampliar a coleta seletiva em dois setores da cidade. Conforme Rodrigo, a prefeitura paga R$ 100 mil ao Consórcio CG Solurb, que faz a coleta de lixo, por cada área aberta.

Os catadores querem assumir a gestão da usina, que tem quatro cooperativas. Antes do fechamento, do lixão eram 90 trabalhadores, número que dobrou para 180. A estimativa dos catadores é de que a área de transição era fonte de renda para mais de 700 pessoas, sendo 429 “empregos” diretos e 300 pessoas que auxiliam da separação à venda do material reciclável.

Conforme dados apresentados pela Solurb à Justiça, são 727 catadores registrados no lixão. Contudo, somente 457 solicitaram o cadastro e tinham carteira de acesso. Outros 180 cadastrados nunca teriam trabalhado no local.

Tensão – Na noite de ontem (dia 22), vândalos atearam fogo em uma área de mata ao lado da rodovia, próximo à UTR. Segundo o chefe da Guarda Municipal da região do Anhanduizinho, Tomaz de Araújo, o incêndio não foi provocado por quem trabalha na coleta.

“Não são mais os catadores, são vândalos. Eram uns cinco deles, colocaram fogo no mato em volta da UTR e quando chegamos eles sumiram”, disse na manhã de hoje à reportagem, em entrevista por telefone. Um veículo Toyta Bandeirantes foi incendiado. A empresa registrou Boletim de Ocorrência na Depac Piratininga (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário).

Histórico - Em 2012, a Defensoria Pública entrou com ação civil pública e obteve liminar para permitir acesso dos catadores ao lixão, que poderiam fazer a coleta dos recicláveis no local denominado área de transição. A medida deveria valer até a inauguração da UTR, que aconteceu em agosto do ano passado. Com a ativação da usina, a Solurb solicitou a proibição do acesso, que foi concretizada no dia 28 de fevereiro. Os bloqueios da rodovia foram nos dias 2,4, 19  e 21 de março.

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