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“A gente não tem um dia de paz”: furtos tiram o pouco de quem já vive no limite

Só em 2025, Campo Grande já soma 7.290 furtos, média de mais de 1.200 casos por mês na cidade

Por Gabi Cenciarelli | 23/06/2025 16:23


RESUMO

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Em Campo Grande, furtos de bens essenciais têm afetado drasticamente a vida de pessoas que vivem com recursos limitados. A cidade já registrou 7.290 casos em 2025, com média mensal superior a 1.200 ocorrências, atingindo principalmente moradores de áreas periféricas. Entre as vítimas, destacam-se casos como o do servidor público Felipe dos Santos, que teve sua bicicleta de trabalho furtada, e do aposentado Francisco José Dutra, que perdeu o único carro da família. O jornalista Matheus da Silva também foi alvo de criminosos, tendo os fios elétricos e o padrão de energia furtados no dia de sua mudança para uma nova residência.

Bicicleta usada para trabalhar, carro da família, fios da casa recém-alugada. Para quem vive com o mínimo, cada bem conquistado tem um peso que vai além do valor material, representa esforço, conquista, dignidade. E quando esse pouco é levado no silêncio de uma madrugada ou em plena luz do dia, sobra a revolta. Mais do que prejuízo, os furtos viram um golpe direto na vida de quem já batalha todos os dias para se manter em pé. Só em 2025, Campo Grande já registrou 7.290 casos de furto, reflexo de uma rotina de insegurança e medo.

É o caso do servidor público Felipe dos Santos, de 38 anos, que teve a bicicleta furtada da garagem enquanto dormia. A bike havia sido comprada há apenas seis meses, com ajuda da mãe, que enfrenta um tratamento contra o câncer. “A gente fica à mercê dos bandidos. Essa bicicleta era meu transporte para o trabalho, para ajudar minha mãe. Agora fico com o sentimento de impotência.”

Felipe conta que descobriu o furto ao acordar para limpar a casa. No começo, pensou que o irmão tivesse usado a bike, mas logo viu as imagens do criminoso levando o que restava de tranquilidade. “Fiquei chateado de verdade. A bicicleta era meu jeito de me deslocar — economizava tempo, cuidava da minha saúde. Agora é medo até de dormir.” Ele relata que teve de podar uma árvore da frente de casa, por medo de facilitar novos crimes. “Aqui na Pioneira, não tem um dia de paz. No grupo do bairro, toda semana tem relato de roubo.”

“A gente não tem um dia de paz”: furtos tiram o pouco de quem já vive no limite
Felipe com a bicicleta que usava para trabalhar, e agora foi furtada (Foto: Arquivo Pessoal)

O aposentado Francisco José Dutra, de 58 anos, também sente na pele o que é perder o pouco que se tem. Ele teve o carro da família furtado no último fim de semana — um Uno comprado em 2006 com o dinheiro da rescisão trabalhista da mãe, que havia sido demitida como professora da rede pública. “O valor material era R$ 7,6 mil. Mas o sentimental? Era o único carro que a gente teve. Acompanhou nossos filhos crescendo, faz parte da nossa história.”

O furto aconteceu quando o filho estacionou o carro em frente à casa. Francisco havia acabado de trocar o motor do veículo, num gasto de quase R$ 5 mil. “Fico com as parcelas e sem carro. Eu ainda vou trabalhar de bicicleta, mas minha esposa e meu filho ficaram sem locomoção.”

“A gente não tem um dia de paz”: furtos tiram o pouco de quem já vive no limite
 Uno da família do Francisco José Dutra, que foi furtado (Foto: Arquivo Pessoal)

Já o jornalista Matheus da Silva, de 30 anos, viu o transtorno se instalar no exato dia em que tentava começar uma nova fase. Ele havia acabado de se mudar para uma casa no Centro, quando teve todos os fios e o padrão de energia elétrica furtados. “Foi no mesmo dia da mudança. Tinham acabado de instalar tudo. Levaram os fios, o padrão, e eu tive que correr atrás de tudo de novo.” Sem energia, precisou dormir na casa de amigos até resolver o problema. “A gente já vive na correria, trabalho, mercado, vida, e ainda tem que lidar com isso. No Centro, a insegurança é constante. Você fica nesse estado de alerta o tempo todo.”

A somatória dos relatos evidencia uma realidade dura e recorrente: o crime não escolhe o quanto a vítima tem, mas rouba justamente de quem não tem como repor. Só em 2025, Campo Grande já registrou 7.290 casos de furto, uma média de mais de 1.200 por mês.

Para os que vivem nas periferias ou em regiões esquecidas pelo poder público, o medo e o prejuízo se tornam rotina. Como resume Felipe: “Aqui não tem um dia de paz.”

“A gente não tem um dia de paz”: furtos tiram o pouco de quem já vive no limite
Registro do Matheus após furto no centro (Foto: Arquivo Pessoal)

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