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Capital

Além de “professores”, quadrilha tinha projetistas, contadora e “tatus”

Manicure, pedreiros, empresário, ex-presidiário, ex-candidato a vereador e os “especialistas” em roubos a bancos formavam bando

Anahi Zurutuza e Clayton Neves | 23/12/2019 13:58
Da esquerda para a direita, Eliane, Gilson, Francisco, Lourinaldo, Robson e Wellington, na Garras (Fotos: Henrique Kawaminami)
Da esquerda para a direita, Eliane, Gilson, Francisco, Lourinaldo, Robson e Wellington, na Garras (Fotos: Henrique Kawaminami)

Extremamente organizada, a quadrilha que planejava roubar central do Banco do Brasil em Campo Grande não tinha um, mas vários mentores, ou “professores” ao estilo da série “La Casa de Papel”. Outras pessoas exerciam as funções de projetistas, contadora e “tatus”, como eram chamados os homens que trabalhavam na escavação do túnel de 70 metros para chegar ao cofre da agência. Os integrantes são de estados do Nordeste, São Paulo e Mato Grosso.

Classificado pela investigação como um dos mentores do crime, está José Willians Nunes Pereira da Silva, 48 anos, natural de Caxias (MA). Ele foi morto em confronto com policiais da Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Bancos, Assaltos e Sequestros) na madrugada desse domingo (22).

Segundo o delegado João Paulo Sartori, além de ser um dos idealizadores do roubo, ele ajudava na escavação e estava à frente da “contenção”, que seria fazer a resistência armada em caso de invasão policial.

José Willians foi preso em novembro de 1998, acusado de participar de roubo a uma agência da Caixa na Rua Augusta, em São Paulo, no dia 17 de outubro daquele ano. Foram roubados R$ 6 milhões em joias de 5 mil clientes. José foi preso na zona norte da capital paulista. Na casa dele, os policiais encontraram três walkies-talkies, revólver calibre 32 e montante de joia.

Identificado por enquanto como Renato Nascimento Santana, de 42 anos, também é considerado um dos líderes e foi morto na ação policial. A polícia suspeita que ele usava identidade falsa e ainda trabalha para encontrar a real identidade dele, uma vez que outro integrante do bando que foi preso ontem revelou a polícia que conheceu Renato na cadeia e foi contratado por ele para o “trabalho”.

Delegado João Paulo Sartori, em entrevista coletiva (Foto: Henrique Kawaminami)
Delegado João Paulo Sartori, em entrevista coletiva (Foto: Henrique Kawaminami)

Projeto e contas - O grupo contava com dois projetistas. Robson do Nascimento, nascido em Floresta Azul, na Bahia, é dono de empresa de construção que fica no Mato Grosso e dava consultoria para o bando. Ele foi preso numa das casas que a quadrilha locou em Campo Grande.

Lourinaldo Belisário de Santana, de 51 anos, foi “convidado” pela expertise. Nascido em Sertânia, no Pernambuco, quando preso em São Paulo, ele tentou fuga por um túnel. Segundo a polícia, Lourinaldo foi identificado como um dos presos que projetou e cavou o acesso, mas foi trocado de cela antes de conseguir escapar.

A rondoniense e manicure, Eliane Goulart, de 36 anos, trabalhava como contadora. Ela era responsável, conforme a investigação, pelas compras de equipamentos, alimentos e tudo que fosse necessário para viabilizar o plano, além da prestação de contas. Ela é mulher de Robson.

A polícia estima que a quadrilha já havia gasto R$ 1 milhão na operacionalização do esquema. O montante foi usado para pagar o aluguel da casa de onde partiu o túnel que já chegava quase debaixo do cofre da agência e de outros imóveis de apoio –havia rotatividade e chegaram a 6–, as contas de água e luz, a alimentação e o pagamento dos operários para cavar o acesso subterrâneo.

Os homens que trabalhavam na escavação –a polícia ainda não divulgou exatamente quantos–, recebiam R$ 2 mil por semana pelo trabalho. Há pelo menos 25 pessoas envolvidas, apurou o Campo Grande News, embora sete tenham sido presos e dois mortos. Sartori não comentou sobre foragidos.

Túnel que ligava QG da quadrilha à agência tinha 70 metros de comprimento e foi cavado a 6 metros de profundidade (Foto: Henrique Kawaminami)
Túnel que ligava QG da quadrilha à agência tinha 70 metros de comprimento e foi cavado a 6 metros de profundidade (Foto: Henrique Kawaminami)

“Tatus” – Mais quatro homens foram presos na ação de domingo. Wellington Luiz dos Santos Junior, de 28 anos, natural Iperó (SP), Francisco Marcelo Ribeiro, de 41 anos, natural do Estado de Santana do Acaraú, no Ceará, e Gilson Aires da Costa, de 43 anos, também cearense, são pedreiros e foram “contratados” para a escavação.

Em 2016, Gilson foi candidato a vereador em Campos Sales (CE) pelo Democratas.

Bruno Oliveira de Souza, de 30 anos e também de São Paulo, era outro que trabalhava como “tatu”. Ele foi baleado e está internado na Santa Casa de Campo Grande.

Segundo o delegado, Bruno dirigia o caminhão comprado pela quadrilha para transportar o que os ladrões conseguissem roubar quando a Garras fez a abordagem na madrugada deste domingo. O motorista teria jogado o carro para cima de policiais, foi baleado e dirigiu até o hospital, onde foi abordado.

A ideia da quadrilha era não usar explosivos. Por isso, “no braço” e ajuda de um macaco hidráulico, os operários cavavam cerca de 2 metros de túnel por dia. Foram encontrados cerca de 100 metros cúbicos de terra ensacada na base da organização criminosa.

O corredor debaixo da terra, que já tinha cerca de 70 metros de comprimento, começou a ser cavado de uma edícula nos fundos da residência na Rua Minas Gerais, próxima à agência que funciona na Avenida Presidente Castelo Branco, na região do Bairro Coronel Antonino, em Campo Grande.

Todos os identificados passaram por audiência de custódia nesta manhã e continuarão presos por tempo indeterminado.

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