Ana dormia no chão e agora não tem onde ficar: perdeu tudo para a chuva
Força da água derrubou o muro da casa e invadiu todos os cômodos, levando lama e sujeira
O relógio marcava a virada do domingo para a segunda-feira, à meia-noite, quando a água invadiu a casa de madeira no Parque do Lageado, em Campo Grande. Junto com ela, o barro, lixo e até insetos tomaram conta dos cômodos. Ana dormia em um colchão de solteiro no chão e sem ter como fazer nada, viu o pouco que tinha ser levado pela enxurrada de lama.
Ana Carla de Liz Fernandes, de 24 anos, morava na casa com os quatro filhos, duas meninas de 8 e 3 anos e dois meninos, de 6 e 4 anos. A família havia se mudado há um mês, depois de uma temporada morando na casa de uma amiga. Aos poucos, a jovem começava a reorganizar a vida e sem emprego, fazia bombons para poder sustentar os filhos.
A casa simples tinha poucos móveis. Na sala, um sofá e uma televisão no chão. A cozinha era preenchido por um fogão doado a família, uma geladeira e uma fruteira, que servia como armário para os alimentos. No quarto, a cama de casal pertencia às crianças e a de solteiro era usada como “guarda-roupa”, o colchão era usado por Ana.
Neste domingo (16), a família foi dormir normalmente. As quatro crianças na cama de casal e Ana no colchão de solteiro no chão do quarto ao lado. “Eu ouvi o barulho do muro cair e do nada a água entrou em casa”, lembrou Ana. “Seu eu não tivesse acordado tinha engolido aquela água”.
A enxurrada veio acompanhada de lama, insetos e lixo, tudo que estava acumulado no terreno dos fundos da casa da família. Segundo a jovem, o terreno do vizinho é mais alto e por isso toda a água da chuva ficou parada no muro, que não aguentou e cedeu para o lado da casa dela.
“Eu tava passando dificuldade, mas tava levando. Não gosto de pedir ajuda, mas não tem outro jeito, por causa das crianças”.
Quando o muro caiu, toda a água invadiu a varanda da casa e a força da enxurrada abriu a porta da cozinha, que estava encostada com um pedaço de madeira. Em pouco tempo, toda a residência estava alagada. Os alimentos, a televisão, o colchão de solteiro, partes das roupas e sapatos que estava guardados em sacolas embaixo de uma das camas, os documentos e até o celular de Ana se perderam com a chuva.
“Eu tinha pouca coisa, mas era o suficiente. Olhando agora nem parece a mesma casa, estava tudo organizadinho”, lamenta.
A ajuda veio dos amigos mais próximos, os mesmos que a abrigaram quando se viu sem emprego e ser ter para onde ir meses atrás. Elisângela Silva Nascimento Costa, de 43 anos, e o marido, ajudaram a retirar as crianças da casa alagada. “Eles estavam dormindo quando tiramos eles de lá. Ela estava em estado de choque, não falava nada”, contou a amiga.
“Só minha filha mais velha viu. Fiquei em estado de choque, não tenho nem palavras”, reforçou Ana, visivelmente abalada com a situação. Com a enxurrada, parte dos brinquedos das crianças também se perderam, assim como roupas e sapatos.
A esperança para a família agora vem, muitas vezes, de desconhecidos. Aos poucos, as doações de quem soube das perdas começam a chegar. “Eu tava passando dificuldade, mas tava levando. Não gosto de pedir ajuda, mas não tem outro jeito, por causa das crianças”.
Quem puder ajudar a família pode entrar contato com Elisângela pelo telefone (67) 99336 5632, ou com o marido dela, Juraci, no (67) 99101 7032.