ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SÁBADO  23    CAMPO GRANDE 31º

Capital

Ao saber que perdeu ruas, vizinhança critica ‘condomínio de luxo' ilegal

Para vizinhos, mais ruas facilitariam o acesso à avenida Afonso Pena e ao Parque das Nações

Anahi Zurutuza | 23/08/2016 17:41
A arquiteta Julia Jara acredita que situações como a do Nahima Park estimulam que outras vizinhanças tomem a mesma atitude e se apropriem de ruas (Foto: Fernando Antunes)
A arquiteta Julia Jara acredita que situações como a do Nahima Park estimulam que outras vizinhanças tomem a mesma atitude e se apropriem de ruas (Foto: Fernando Antunes)
Giliane queria poder cortar caminho até o Parque das Nações pela rua Nahima (Foto: Fernando Antunes)
Giliane queria poder cortar caminho até o Parque das Nações pela rua Nahima (Foto: Fernando Antunes)
‘Condomínio’ construiu muro para separar área verde e as três Nahimas da rua Gardênia (Foto: Fernando Antunes)
‘Condomínio’ construiu muro para separar área verde e as três Nahimas da rua Gardênia (Foto: Fernando Antunes)

Tem gente que mesmo depois de toda a divulgação sobre a ordem de derrubada da portaria do “condomínio” Nahima Park, nos altos da Avenida Afonso Pena, nem sabia que as ruas Nahima, Nahima 1 e Nahima 2 existiam. Alguns outros moradores do Cidade Jardim – bairro nobre de Campo Grande localizado nos fundos do “residencial” – tomaram conhecimento há pouco tempo e ficaram indignados.

Moradora da Rua Junquilhos, no Cidade Jardim – no leste da Capital – há três anos, a arquiteta Julia Jara, 23, ficou sabendo pela imprensa sobre a apropriação das três Nahimas e não gostou da notícia. “É um atitude completamente errada destes moradores [do Nahima Park]”.

Julia condena a justificativa usada pelos donos de casas no “residencial”. “Garantir a segurança deles não é desculpa, porque se fosse assim, qualquer vizinhança poderia decidir fechar a rua onde mora. Por onde as pessoas teriam acesso? Todo mundo teria de andar de helicóptero”, exemplificou.

A servidora pública Aline Aparecida de Souza, 31, mudou-se há uma semana para a rua Antúrio e ficou sabendo da situação pela reportagem. “Até tinha ouvido alguma coisa, mas não sabia que era esse condomínio aqui”.

Ela também criticou o fechamento das ruas. “Dificulta o acesso. Se não é condomínio, não é e ponto. Para a gente aqui do bairro, seria melhor ter mais ruas por onde a gente poderia cair direto na Afonso Pena e não precisar fazer o retorno”.

A consultora de vendas Giliane de Oliveira, 26, mora em bairro um pouco mais afastado, o Arnaldo Estevão de Figueiredo, mas frequenta o Parque das Nações Indígenas diariamente. Faria muita diferença que mais ruas dessem acesso aos altos da Afonso Pena, diz ela. “Eu cruzo o Cidade Jardim e tenho de andar esse pedação para chegar naquela rua [Abdul Kadri], que vai até lá na frente do parque. Seria uma boa poder cortar caminho. Não é uma coisa legal o que fizeram”.

Durante a tarde desta terça-feira (23), a reportagem conversou com duas funcionárias de casas do Cidade Jardim que sequer sabiam da existência da rua, mas como vão a pé até os pontos de parada dos ônibus, disseram que quando precisam pegar o transporte coletivo na Afonso Pena, gostariam de ter mais opções de acesso à avenida. Elas preferiram ter a identidade preservada.

Tanto faz – Há quem não se importe com o fato das três Nahimas, além de uma área verde pública, terem sido cercadas pelos proprietários de 17 casas de alto padrão do Nahima Park. “Moro aqui há três anos e nunca me fez falta ter uma rua a mais”, declarou um morador da rua Gardênia, nos fundos do “condomínio”, que preferiu não revelar o nome.

A equipe do Campo Grande News conseguiu conversar com um morador, também da rua Gardênia, que é a favor da manutenção do condomínio. “Para a segurança deles e nossa segurança. Se aumentar os acesso aqui para o bairro, mais gente da bagunça ali da Afonso Pena vai vir para cá. Nosso bairro está ficando muito perigoso, assaltos acontecem durante o dia. Eu particularmente prefiro que fique tudo como está”, afirmou André, como preferiu se identificar.

Rua Nahima foi fechada com portaria (Foto: Marcos Ermínio)
Rua Nahima foi fechada com portaria (Foto: Marcos Ermínio)

Imbróglio – No dia 1º de agosto, o juiz Fernando Campos determinou a derrubada das portarias e também do muro que obstruem a passagem dos cidadãos campo-grandenses pelas três ruas do bairro Chácara Cachoeira que foram transformadas em “condomínio”. O magistrado marcou a demolição para as 13h do dia 5 deste mês.

Máquinas estavam posicionadas, equipes da Guarda Municipal estavam a postos, e o oficial de Justiça Mário Rodrigues Junior foi até o “residencial” para informar sobre a derrubada. Estava tudo pronto para o cumprimento da determinação, mas Campos suspendeu a ordem depois que a defesa da associação de moradores “entrou em ação”.

Naquele dia, o advogado Juliano Quelho Witzler Ribeiro, que atua como assistente da Procuradoria-Geral do Município no processo que pleiteia a desobstrução do passeio público, também levantou a suspeita de que houve interferência do juiz Carlos Alberto Garcete, morador do Nahima Park, na suspensão de ordem de demolição das guaritas, porque o oficial de Justiça foi chamado na casa do magistrado, quando notificava a síndica.

Para a Prefeitura de Campo Grande, a associação cometeu ilegalidade ao fechar as ruas e desrespeitar a Lei Municipal nº 2.909/92, o Código Municipal de Polícia Administrativa, e o artigo 1.255 do Código Civil, que dita algumas regras específicas para a constituição de um condomínio.
Contudo, o que aconteceu, no fim das contas, é que o juiz da 3ª Vara deu cinco dias para a defesa da entidade que representa os moradores se manifestasse no processo. Os advogados do “condomínio” recorreram então ao TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul).

Nos siga no Google Notícias