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Capital

Às 11 horas a dor aumenta sem a voz da mãe que telefonava todo dia para a filha

Vilma Cardoso Meza, de 60 anos, morreu depois de dias internada com covid em uma UPA da Capital

Lucia Morel | 14/04/2021 10:06
Vilma e a filha, Jane. (Foto: Arquivo pessoal)
Vilma e a filha, Jane. (Foto: Arquivo pessoal)

“Se Deus me permitir, quero ser pro meu filho pelo menos 10% da mãe que ela foi pra gente”. O lamento que corta o coração é da promotora de vendas Jane Carla Cardoso, 30 anos, que perdeu a mãe, Vilma Cardoso Meza, de 60 anos, no dia 31 de março para a covid-19.

Para a filha, a mãe não teve a chance de ter um cuidado adequado antes de morrer, já que ficou “internada” na UPA Vila Almeida de sexta-feira, dia 26 até a noite do dia 30, horas antes de falecer. “Não sei, mas acredito que ela não recebeu o tratamento que precisava”, diz.

Jane e a irmã Patrícia compartilham a saudade, principalmente das ligações certeiras. Chorando, Jane conta que às 11 horas é quando a dor aumenta mais, porque era o horário em que Vilma telefonava perguntando se ela iria ter tempo de ir almoçar. “Minha irmã fala o tempo todo da saudade da ligação da nossa mãe, como faz falta!”.

Vilma passou duas semanas sem um diagnóstico preciso da doença, entre idas e vindas ao posto de saúde, onde disseram apenas que ela estava com uma infecção. Mesmo tomando remédios em casa, a situação piorou até que na sexta-feira, 26, às pressas, elas buscaram um teste pago para saber se o que a mãe tinha era covid.

O resultado foi positivo e então, correram com Vilma para a UPA Vila Almeida, de onde não saiu mais. “Lá já deram oxigênio, ela ficou no balão, até que no sábado de manhã a intubaram, sem nem avisar minha irmã que estava lá o tempo todo”, lamentou.

Com as filhas Patrícia e Jane. (Foto: Arquivo pessoal)
Com as filhas Patrícia e Jane. (Foto: Arquivo pessoal)

Desde então, a tentativa sem fim era de que alguma vaga em leito de UTI em hospital surgisse, o que ocorreu apenas na terça-feira, 30, à noite, por volta das 21 horas.


O estado de saúde de Vilma era tão ruim que o próprio médico do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), segundo Jane, disse a ela que o caminho até o Hospital Universitário era longo e que Vilma poderia não aguentar chegar lá.

“A última conversa com minha mãe foi no sábado de madrugada, ela falou que estava com fome. Mas não podia tirar o oxigênio dela”, lembra, contando ainda que na terça, antes de ser levada para o HU, chegou a tocar no pé de sua mãe enquanto era colocada na ambulância e “estava gelado, muito gelado”.

A expectativa era de que com atendimento hospitalar o quadro revertesse, mas horas depois da internação, veio a notícia do falecimento, por volta das 1h30 da madrugada.

“Quero ser o mínimo da mãe cuidadosa que ela era. Eu tenho crise de ansiedade e fui comprar alho esses dias. Vi que não sabia escolher, porque era ela que sempre fazia tudo”, ressaltou Jane.

Para ela, por alguma ação divina, ela passou o último mês morando com ela, depois de voltar de oito meses na cidade de Sidrolândia. “Lembro até hoje, eu chegando na casa dela às 2h da manhã e ela só disse assim: graças a Deus você voltou”.

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