Bolsonaristas na Assembleia veem legitimidade em supertaxação de Trump ao Brasil
Parlamentares atribuem tarifa de 50% à postura internacional do governo Lula e dizem que medida é legítima
A tarifa de 50% imposta por Donald Trump a todos os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, anunciada na quarta-feira (9), repercutiu também na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. A reportagem ouviu parlamentares bolsonaristas que, em sua maioria, atribuíram a decisão à política externa do governo Lula e defenderam a legitimidade da medida norte-americana.
RESUMO
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Parlamentares bolsonaristas da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul defendem a legitimidade da tarifa de 50% imposta por Donald Trump às exportações brasileiras para os Estados Unidos. Os deputados atribuem a medida à política externa do governo Lula e às decisões tomadas durante a reunião do Brics. Enquanto alguns parlamentares criticam a diplomacia do atual governo, outros demonstram preocupação com os impactos econômicos para o estado, especialmente nos setores de carne bovina e celulose. O presidente da Assembleia, Gerson Claro, defende que a questão seja tratada com equilíbrio, priorizando o diálogo diplomático entre os países.
Para o deputado Carlos Alberto David, o Coronel David (PL), a taxação imposta por Trump é uma resposta clara ao que ele considera falhas na diplomacia do governo brasileiro. “Acho que ela é resultante dessa política totalmente equivocada do presidente Lula, do seu governo, quanto às relações internacionais que estão sendo mantidas e alguns recados que estão sendo mandados também, quando o presidente Lula está com outras nações, como foi o caso do Brics, e que causa um estranhamento muito grande. A diplomacia do presidente Lula é como ele, pequeno e incompetente.”
David ainda citou reportagem exibida pelo Jornal Nacional como base para sustentar a tese de que a decisão de Trump é uma retaliação geopolítica. “Ontem, inclusive, uma matéria do Jornal Nacional, da correspondente internacional, na Casa Branca, conversou com integrantes do governo Trump onde ela disse que o governo Trump admitiu que estas medidas foram decorrentes daquilo que foi tratado na reunião do Brics. É uma guerra comercial, entendeu? Tem muita gente querendo levar pro lado da política, mas só mostra que o governo Lula é incompetente nessa questão da diplomacia.”
Apesar das críticas, o parlamentar admite que a diplomacia deve ser o caminho para resolver a questão. “Eu acho que sim. Tudo vai depender agora da diplomacia brasileira. Eu acho que esses conflitos decorrentes de guerra comercial, eles são resolvidos com a diplomacia. A diplomacia agora do governo Lula tem que mostrar a sua cara e mostrar que realmente defende os interesses do Brasil. Até o momento, o chefe da nação não fez nada disso.”
A deputada Mara Caseiro (PSDB), que está prestes migrar para o PL, também fez críticas contundentes ao governo federal. Para ela, a medida de Trump é reflexo da imagem negativa que o Brasil tem transmitido ao exterior sob a gestão Lula:
“O Brasil está tomando um rumo muito ruim quando a senhora fala em termos de globalização, e acho que o nosso Presidente da República tem que rever também as suas falas, que também têm interferido em outros países. Entendo que o momento agora é, primeiro, de diálogo. Acho que a gente não pode simplesmente, como é que eu posso falar, a gente não pode aqui dizer que somente o Trump está errado. Nós temos que ver o que está acontecendo para que o Trump tome uma decisão dessas.”
A parlamentar ainda abordou a crise institucional no Brasil como fator que teria motivado a decisão dos EUA. “Nós temos um Congresso Nacional que está de cócoras e que não tem autonomia mais. Perdeu-se a autonomia. Nós temos hoje um STF que manda no Brasil, tomando medidas duras para crimes, digamos, irrelevantes, mediante a crimes que nós temos, que são muito maiores”
Ela ainda fez um apelo por mais diplomacia. “Acho que o pior de tudo é tomar medidas drásticas agora contra os Estados Unidos antes de sentar numa mesa e discutir com diplomacia essa medida que o Trump tomou. Olha, do ponto de vista do Trump hoje, é justo o que ele entende que está fazendo. Para nós brasileiros, claro que não”.
O deputado João Henrique Catan (PL) foi além e disse que espera mais medidas como a de Trump. Para ele, a medida é legítima e tem fundamentos: “Em primeiro lugar eu acho fantástico essa sensação e eu estou esperando mais. Quando a gente joga essa carga política no Supremo Tribunal Federal, a gente coloca lá pessoas que foram indicadas pelo PT, decisões que as pessoas não concordam.”
Ele também apontou violações a tratados internacionais como motivadores para a medida americana. “Foi abordado também a violação da liberdade de expressão. A liberdade de expressão é um pacto que é um tratado internacional. A maneira de intervenção na liberdade de expressão, principalmente das empresas de plataformas digitais dos Estados Unidos, TSE, tudo isso já ficou demonstrado”.

Já o deputado Pedro Pedrossian Neto (PSD) demonstrou preocupação com o impacto da tarifa na economia de Mato Grosso do Sul, especialmente no setor de carnes. “São 235 milhões de dólares só no setor de carne bovina que nós exportamos. Não é o nosso principal parceiro comercial, certamente, que é, no caso, a China e o Sudeste Asiático. Mas é um parceiro comercial importante para a carne bovina.”
Pedrossian ressaltou que o governo Trump costuma anunciar medidas e, por vezes, recuar antes de implementá-las. “O governo Trump tem se notabilizado por anunciar e voltar atrás também. Vamos aguardar o andamento disso”
Ele defendeu a atuação técnica e institucional. “Assusta que os americanos estejam agindo dessa maneira e, na verdade, politizando o comércio internacional. Isso aqui é Brasil. É o nosso interesse nacional. É o interesse do Mato Grosso do Sul”, finalizou.
O presidente da Assembleia Legislativa, Gerson Claro (PP), também se posicionou e reforçou a necessidade de equilíbrio e responsabilidade mútua entre os governos. “Primeiro, infelizmente, a política tarifária utilizada pelo presidente Trump não é com relação ao Brasil personalizada. Infelizmente, até por astúcia, o assunto se tornou mais político-ideológico do que uma política de tarifa que é comum aos países”
Durante a fala, Gerson chegou a ler um trecho da carta enviada pelo ex-presidente americano, destacando a importância de se interpretar o gesto com cautela e foco na diplomacia. Em seguida, defendeu um posicionamento sereno por parte do Brasil.
“Acho que o que precisa neste momento é de equilíbrio, é tratar com responsabilidade, tanto do governo brasileiro quanto do governo americano. Acho que tem que tirar do campo político e ideológico”, disse.
Para Gerson Claro, cabe ao presidente Lula atuar como chefe de Estado e buscar diálogo. “A responsabilidade é do presidente Lula de tocar essa política, independente do funcionamento ideológico do Trump, ele é chefe de Estado, ele é o nosso presidente da República e acho sim que ele vai ter a capacidade de sentar, assim como senta com a China, assim como no Brics, negociar com a Rússia”
O presidente da Casa lembrou ainda que setores econômicos de Mato Grosso do Sul podem ser diretamente afetados pela tarifa: “Até porque no Mato Grosso do Sul nós temos a celulose, nós temos carnes exportadas para lá, nós temos a questão do etanol Não é no campo político e ideológico, é no campo das relações diplomáticas.”
Por fim, demonstrou confiança em que o diálogo prevalecerá. “Mais uma vez, eu acredito que o presidente vai acompanhar o papel dele de presidente e deverá ter uma conversa com o presidente americano na chegada do bom tempo”.