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Capital

Assassino de bebê é descrito como marido obsessivo, mas pai atencioso

Aconteceu nessa tarde a primeira audiência sobre a morte de Miguel. A família materna foi a primeira a ser ouvida pela justiça

Geisy Garnes e Liniker Ribeiro | 09/12/2019 17:10
Evaldo foi escoltado até a sala de audiência da 2ª Vara do Tribunal do Júri (Foto: Kisie Ainoã)
Evaldo foi escoltado até a sala de audiência da 2ª Vara do Tribunal do Júri (Foto: Kisie Ainoã)

“Nunca se mostrou uma pessoa perigosa, falava que queria ficar mais perto do filho”, é assim que Thayelle Cristina Bogado dos Reis, de 21 anos, mãe de Miguel Henrique dos Santos Zenteno descreveu o ex-marido na tarde desta segunda-feira (9). O menino, de apenas 2 anos, foi assassinado pelo próprio pai, Evaldo Christyan Dias Zenteno, de 21 anos, em setembro deste ano, em Campo Grande.

Nesta segunda-feira (9), seis testemunhas de acusação foram ouvidas pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos, pelo Ministério Público Estadual e pela defesa de Evaldo. Entre elas policiais que descobriram o assassinato e a família materna de Miguel: a mãe, o tio e a avó.

Ainda muito abalados com a morte do menino, os três pediram para que Evaldo deixasse a sala de audiência enquanto falavam. No único contado com o réu, no corredor do fórum, a mãe de Miguel se afastou e chorou. Já em depoimento, a família relatou detalhes do comportamento de Evaldo, como pai e marido.

Para o juiz, Thayelle contou que namorou com o réu por três meses antes de casar com ele. Estavam juntos há três anos quando ela resolver se separar e voltar a morar em Aquidauana com a família.

Nos meses longe, Evaldo nunca aceitou o fim do relacionamento e se mostrou possessivo. Ligava diariamente, mandava mensagens pedindo para voltar e até tentava beijar e abraçar a ex-mulher quando se encontrava com ela. Mas como pai, fazia questão de estar perto do filho e se dizia sempre preocupado com o ele.

“Estava separada há três meses. Ele me perseguia, entrava na minha casa, ficava me mandando mensagem, mas se mostrava um pai preocupado, fomos dando mais crédito. Nunca se mostrou uma pessoa perigosa, falava que queria ficar mais perto do filho, que se preocupava com o filho, nunca pensamos”, contou.

A relação de proximidade com o pai era sempre incentivada pela família e por isso, Miguel passava bastante tempo com ele. Dois dias antes do crime, atendendo um pedido de Evaldo e sabendo que o filho estaria com a avó paterna, Thayelle o deixou vir a Campo Grande com o réu. No dia 19 de setembro recebeu a ligação do ex, contando sobre a morte do menino. “Não acreditei. Só quando a médica me ligou”.

Thayelle Cristina sendo consolada pelo irmão, Rogério Eduardo (Foto: Kisie Ainoã)
Thayelle Cristina sendo consolada pelo irmão, Rogério Eduardo (Foto: Kisie Ainoã)

Suspeitas – No momento em que descobriram sobre o assassinato, a família de Miguel lembrou de outro episódio envolvendo Evaldo, uma suposta queda que levou o menino para o hospital. Na data, quem desconfiou que a situação podia ser o primeiro sinal de violência do réu, foi a avó da criança.
Ela também foi ouvida nesta tarde, depois que o filho detalhou em depoimento que foi ela quem conversou com o neto após o acidente.

Em uma das visitas, há cerca de uma semana antes do crime, Evaldo ligou para a ex contado que o menino havia caído da cama enquanto dormia, batido a cabeça e desmaiado. Tanto a mãe, quanto o tio da criança, afirmaram que buscaram Miguel e o levaram para o hospital. Dias depois, o menino contou para a avó que o pai estava com ele na cama durante a queda. “Uma criança que estaria dormindo, não teria visto o pai”, contou ela em depoimento.

Nesta tarde, a família preferiu não falar com a imprensa. Abalados, afirmaram que vão se pronunciar mais para frente, quando as “coisas estiverem mais calmas”. Ainda assim, durante seu depoimento, a Thayelle afirmou que fará justiça pelo filho.

“Coloquei na minha cabeça que não vou baixar a cabeça, vou fazer justiça pelo meu filho, vou lutar pela minha vida, se ele queria me fazer sofrer, não vai conseguir. O Miguel era uma pessoa feliz”.

Abalados, mãe, tio e avó de Miguel preferiram não falar com a imprensa (Foto: Kisie Ainoã)
Abalados, mãe, tio e avó de Miguel preferiram não falar com a imprensa (Foto: Kisie Ainoã)

O caso - Evaldo foi preso depois de levar o filho já morto para a Santa Casa de Campo Grande. Em um primeiro momento afirmou que o menino havia sido jogado em um córrego durante um assalto e por isso a Polícia Militar foi chamada. Nesta tarde, os três policiais ouvidos lembraram que os furos na versão levantaram a desconfiança das equipes e fizeram o jovem confessar ter matado o próprio filho.

Após desmentir a história do assalto, Evaldo alegou que foi orientado por um amigo a tirar a vida do próprio filho para de vingar da ex-mulher, mãe da criança. Ele chegou a levar a polícia até a casa do suspeito, mas no local os as equipes descobriram que Evaldo estava novamente mentindo. Diante da situação, acabou confessando ter cometido o crime sozinho.

Contou que em casa deu banho em Miguel e o colocou para dormir. Com a intenção de fazer a ex-mulher sofrer, por causa de uma suposta traição, encheu uma bacia com água, e colocou a cabeça do filho dentro. A criança ainda estava dormindo. Evaldo falou ainda que se afastou, deixou ele se afogar sozinho. Depois o levou para o hospital.

Evaldo foi preso no dia 19 de setembro e confessou o crime (Foto: Kisie Ainoã)
Evaldo foi preso no dia 19 de setembro e confessou o crime (Foto: Kisie Ainoã)
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