Cobertor é companheiro de quem enfrenta frio e escuro na fila do auxílio
Até na sexta-feira fila de pouco mais de 20 pessoas ainda se formava na Caixa Federal com quem chegou antes de amanhecer
Josielma Maria Monteiro da Silva acordou 3h30 nas Moreninhas com o frio estalando na madrugada desta sexta-feira (8) para tomar banho e chegar a tempo de não enfrentar tanta fila na frente de uma agência da Caixa Econômica Federal na Rua 13 de Maio em Campo Grande. Para escapar do frio que se enfrenta no escuro, o cobertor é companheiro.
A fila saía da Rua 13 de Maio e dobrava a Rua Marechal com o público que ainda não conseguiu receber a primeira parcela do auxílio emergencial do governo, de R$ 600.
“Estava muito frio”, disse ela, que é cozinheira, mas foi demitida do trabalho e chegou ali às 4h20. Junto dela, pouco mais de 20 pessoas – número muito menor do que os mais de mil que se aglomeraram nas filas de agências no início da semana – formavam uma linha tentando se aquecer enquanto esperavam atendimento para receber.
“Já estava tentando resolver essa questão, outras vezes que fui tinha muita gente na fila. Resolvi vir mais cedo, vim das Moreninhas. Eu acordei bem mais cedo, 3h30, pra tomar banho e vir”, contou ela, que veio na garupa de uma motocicleta.
“Preciso fazer compras para casa”, contou a faxineira Eunice Motta, 58.
Eunice parecia ser a única, que além da preocupação com o sustento, temia também a saúde e por isso mantinha distância de outras pessoas. “Moro no Jardim Carioca com meu marido e filha, estou parada, tenho minhas diárias, mas trabalho para pessoas de idade, estou esperando pra ver o que vai acontecer em relação a doença”, disse.
“Esse negócio tem que acabar logo para me chamarem de volta”, lamentou a faxineira.
Eunice contou que esperava há 15 minutos na fila por volta das 7h30.
Quem se arriscou com o frio e as patologias que ocorrem nessa época e também com o novo vírus foi a idosa Izaura Perugi, de 83. Diferente de outras pessoas, ela saiu do Jardim Parati apenas para utilizar o agência porque disse não confiar no caixa eletrônico. Ela teme golpes de estelionatários juntos aos idosos.
Sozinha, na manhã fria, pegou um ônibus e foi até o centro da cidade. “Não tem outra pessoa, tem que ser eu. Nunca gostei de pegar no caixa, todo mês eu vou. Não desanimo não, toda vida trabalhei no frio”, revelou ela.