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Capital

Condomínios de luxo ostentam enquanto habitação popular sofre na expansão urbana

De um lado, condomínios com segurança e lazer completo; de outro, casas populares cada vez menores

Por Izabela Cavalcanti e Bruna Marques | 18/06/2025 15:12
Condomínios de luxo ostentam enquanto habitação popular sofre na expansão urbana
Montagem mostra diferença de estrutura para edifício sofisticado no Royal Park e conjunto popular (Foto: Paulo Francis)

É notório que Campo Grande vive uma expansão urbana, repleta de casas e prédios a cada canto. No entanto, existe um contraste gigante nos padrões que servem como outro balizador da concentração de renda.

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Campo Grande experimenta um crescimento urbano desigual, com bairros planejados e condomínios de luxo contrastando com loteamentos populares com infraestrutura precária. Condomínios fechados oferecem segurança, áreas de lazer e moradias espaçosas, enquanto bairros periféricos sofrem com falta de asfalto, saneamento básico e transporte público. Essa disparidade reflete as diferentes realidades socioeconômicas da cidade. Moradores de bairros populares enfrentam desafios diários com a falta de serviços básicos e segurança, enquanto condomínios de alto padrão proporcionam conforto e qualidade de vida. O preço do metro quadrado varia consideravelmente entre as regiões, evidenciando a desigualdade no acesso à moradia.

De um lado, bairros planejados e condomínios fechados com portarias imponentes, ruas arborizadas, sistemas de segurança integrados e áreas de lazer completas. De outro, loteamentos populares que ainda engatinham em infraestrutura básica, como asfalto, saneamento e, em alguns casos, nem transporte público tem.

Campo Grande vive um deficit habitacional de 16.105, de acordo com o relatório Demacamp, publicado em janeiro do ano passado. Essa quantidade é para famílias que sobrevivem apenas com renda que varia de zero a três salários mínimos. No entanto, se isso não for alcançado, serão necessárias 67.583 moradias até 2035.

Apesar dessa carência urgente, os novos projetos imobiliários que se espalham pelos bairros nobres da cidade parecem falar com apenas uma parcela da população: aquela que pode pagar caro.

Condomínios de luxo ostentam enquanto habitação popular sofre na expansão urbana
Projeto mostra como empreendimento vai ser construído no Jardim dos Estados (Foto: Divulgação/HVM)

Neste caso, a lista de novos projetos é extensa. Jardim dos Estados, Royal Park, Chácara dos Poderes, Parque dos Poderes, já estão na mira para ter novos lançamentos luxuosos. Muitos oferecem estruturas semelhantes às de clubes, com piscinas com borda infinita, academias, quadras, espaços gourmet. Além do conforto, há segurança e qualidade de vida.

A Plaenge, por exemplo, está com oito empreendimentos lançados espalhados por Campo Grande. A HVM tem três em andamento. A Jooy dez empreendimentos em fase lançamento e construção.

Um loteamento previsto para ser lançado na Avenida Desembargador Leão Neto do Carmo, Chácara dos Poderes, conta com área privativa entre 502 a 1.351 m². Rede elétrica subterrânea, complexo esportivo, academia, espaço de golfe, espaço para recarga de veículos elétricos estão entre os benefícios. Somente o terreno está sendo anunciado por R$ 4,5 milhões.

Condomínios de luxo ostentam enquanto habitação popular sofre na expansão urbana
Área de lazer arborizada em loteamento na Chácara dos Poderes, com estilo de resort (Foto: Divulgação/Plaenge)

Na beira do Parque das Nações Indígenas, na Rua Ivan Fernandes Pereira, um empreendimento luxuoso conta com área privativa de 346 a 501 m², contendo até 5 suítes. Os apartamentos chegam a ser anunciados por R$ 6,9 milhões.

Na Rua Piratininga, no Jardim dos Estados está sendo construído condomínio com apartamentos de 173 m², de duas a três suítes. Sala de massagem e Yoga, quadra de areia estão entre os diferenciais.

Na Rua Goiás, outro empreendimento está à venda a partir de R$ 1,6 milhão. Além da opção padrão, de 132 m², também tem coberturas com 289m² de área coberta. Lavanderia, coworking estão entre os diferenciais.

Outro lado - Enquanto isso, em bairros mais afastados surgem novos conjuntos habitacionais populares e loteamentos voltados para famílias de baixa renda. O sonho da casa própria, muitas vezes realizado por meio de programas como o "Minha Casa, Minha Vida", vem acompanhado de desafios, começando já pelo aperto de 39 m².

Conforme os EIVs (Estudo de Impacto de Vizinhança) cerca de 15 empreendimentos populares estão previstos para o próximo ano. Além de nem chegar a 50 m², o espaço de lazer conta com piscina e área gourmet.

Moradores de bairros como Jardim Seminário, Aero Rancho, Estrela do Sul, Monte Castelo, por exemplo, convivem com problemas frequentes com a falta de iluminação, matagal, linhas de ônibus escassas, falta de asfalto.

A equipe de reportagem foi até o Bairro Seminário e constatou um retorno distante para acessar a Avenida Prefeito Heráclito Diniz. Na via tem dois condomínios residenciais para pessoas de baixa renda, um já pronto e outro ainda em construção.

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Prédios ao entorno do Shopping Campo Grande e prédios construídos no Jardim Seminário, ao lado de terreno baldio (Foto: Paulo Francis)

Moradores lutaram para conseguir a instalação de um ponto de ônibus em frente ao condomínio. Antes, era preciso andar quase três quadras para conseguir pegar o transporte público. Ir a pé num mercado é cansativo e difícil, já que a quadra no quadrilátero do empreendimento é muito larga, o que torna ainda mais distante.

O pedreiro Uillian Alvez da Silva, de 63 anos, relata sobre a realidade de viver no Jardim Seminário. O contraste que ele percebe é mato alto, falta de segurança, falta de iluminação e a distância para encontrar até um mercado. Ele mora há 11 anos no bairro.

"Aqui é escuro, o pessoal tem medo de andar aqui. Nesse mato esconde ladrão, roubam aqui e a gente fica desassossegado, não pode dormir direito. Para comprar qualquer coisinha tem que andar muito, se não tiver carro não chega. A melhora foi somente o asfalto, desde então mais nada”, reclamou.

Condomínios de luxo ostentam enquanto habitação popular sofre na expansão urbana
Maria Madalena, 51 anos, em frente à casa onde vive com a filha no Bairro Dom Antônio Barbosa (Foto: Henrique Kawaminami)

No Bairro Dom Antônio Barbosa, outras histórias semelhantes reforçam o abismo entre o sonho e a realidade. Maria Madalena Rodrigues de Paula, de 51 anos, do lar, está sem renda desde fevereiro, quando saiu do trabalho em uma creche.

“De lá pra cá não trabalhei mais. Minha casa está atrasada há 10 meses. É R$ 200 por mês. Já estou devendo mais de R$ 2 mil. Fui contemplada em setembro de 2023 pela Agehab”, conta.

Ela divide a casa com a filha de 27 anos, que trabalha como empacotadora em uma distribuidora e é a única fonte de renda da família.

“Como somos só nós duas, pra gente é bom. Não é apertado. Mas a cozinha é bem pequena, só entra uma pessoa por vez. Tive que mandar refazer as caixinhas do banheiro porque voltava tudo na porta da cozinha. Aqui não pode por chuveiro, senão pega fogo. A gente já reclamou disso. No frio, a gente esquenta água. A cozinha é tão pequena que a geladeira fica numa peça improvisada que fiz pra ser lavanderia”, relata.

Condomínios de luxo ostentam enquanto habitação popular sofre na expansão urbana
Na área improvisada nos fundos da residência, Maria mantém a geladeira e alguns utensílios. A cozinha da casa é tão pequena que não comporta os eletrodomésticos essenciais (Foto: Henrique Kawaminami)

Loslayne Kemelly Árias Leão, de 19 anos, operadora de loja, também vive no bairro com a mãe e três irmãs, de 20, 12 e 2 anos. “A casa tem dois quartos e a cozinha é tão pequena que só cabe uma pessoa por vez. Tivemos que aumentar um quarto no fundo”, diz. lembrando do clássico puxadinho brasileiro.

A rotina exige adaptações constantes. “A de 20 e a de 12 dormem no quarto do fundo. Eu, minha mãe e a neném ficamos nos outros. E quando meu irmão, que tem 24 anos, vem, a de 12 dorme com minha mãe, eu durmo com a de 20 e ele fica no fundo. É desconfortável às vezes, principalmente com um banheiro só pra todo mundo. Minha mãe cuida da neném, mas a gente se aperta”, relata.

Condomínios de luxo ostentam enquanto habitação popular sofre na expansão urbana
Casas populares no Bairro Dom Antônio Barbosa, em Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami)

Exigentes - Na visão do presidente do Secovi (Sindicato de Habitação de Mato Grosso do Sul), Geraldo Paiva, o contraste evidencia que quem pode pagar está mais exigentes quando o assunto é moradia.

“A vocação do condomínio clube, seja vertical ou horizontal, seja para faixa de economia mais alta e ou para mais modesta é uma tendência que caiu nas graças do consumidor”, pontuou.

Ele também cita a facilidade que essa pequena parcela da população endinheirada busca, de ter serviços essenciais próximos as residências. “O Plano Diretor de Campo Grande já havia previsto esta tendência, facilitando a vida de 5 minutos, onde todos os serviços e comércios estejam a cinco minutos de sua moradia. Os condomínios clubes são a inserção da área de lazer e esporte dentro deste novo conceito de morar. Construtoras estão se aperfeiçoando cada vez mais nesta demanda sem perder o controle de custo para estes moradores”, destacou.

O preço médio do metro quadrado em Campo Grande varia de R$ 4.562 a R$ 10.961, conforme pesquisa do Índice Fipezap.

No Centro, o metro quadrado está em R$ 4.562; na Vila Nasser, R$ 4.762; no Bairro Cruzeiro, R$ 5.840 /m²; Rita Vieira, R$ 5.847 /m²; São Francisco, R$ 6.260 /m²; Tiradentes, R$ 7.082 /m²; Mata do Jacinto, R$ 7.496 /m²; Carandá Bosque, R$ 9.041 /m²; Jardim dos Estados, R$ 10.551 /m²; e no Bairro Santa Fé, o preço do metro quadrado está custando R$ 10.961.

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Loslayne Kemelly conta como os cômodos da casa que mora com a família são divididos (Foto: Henrique Kawaminami)

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