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Córrego que atraía animais vira ponto de lixo em bairro conhecido pelos pássaros

População teme que descarte afaste araras e tucanos, que dão fama ao Recanto dos Pássaros

Por Gabi Cenciarelli | 22/11/2025 14:52
Córrego que atraía animais vira ponto de lixo em bairro conhecido pelos pássaros
Área verde sofre com descarte irregular (Foto: Osmar Veiga)

No Recanto dos Pássaros,  os moradores sempre disseram que o bairro fazia jus ao nome. Araras cruzando o céu, tucanos pousando nas árvores frutíferas e um córrego que atraía capivaras, quatis e pequenos pássaros tornavam o lugar um ponto de respiro dentro da cidade. Hoje, no entanto, muitos afirmam que essa paisagem começa a se perder, tomada por lixo, descarte irregular e descuido que avançam onde antes havia apenas verde.

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O Recanto dos Pássaros, bairro conhecido pela abundante presença de vida selvagem, enfrenta uma transformação preocupante devido ao descarte irregular de lixo e poluição. Moradores relatam que araras, tucanos e outros animais, antes frequentes na região, aparecem cada vez menos devido ao acúmulo de entulhos e degradação ambiental. O córrego que corta o bairro é o principal afetado, recebendo constantemente móveis descartados e resíduos diversos. Apesar dos esforços individuais de alguns moradores para preservar a natureza local, a situação se agrava. Antigos residentes temem que o bairro, se continuar neste ritmo de degradação, mantenha apenas no nome a referência aos pássaros que o tornaram conhecido.

O córrego que corta o bairro é onde a mudança aparece primeiro. Em vez da água cercada por vegetação, moradores encontram sacolas, móveis jogados, animais mortos e acúmulo constante de entulho. “Tem época que tiram quatro ou cinco caminhões de lixo daqui e no outro dia está igual”, relata Doraci Parecido Oliveira, moradora há 30 anos. Ela diz que já viu de tudo sendo descartado ali. “A natureza beneficia todo mundo, mas se ninguém cuidar, os passarinhos vão embora.”

Doraci tenta, do próprio quintal, preservar um pouco do que ainda resta. Ela conta que instalou uma prateleira de madeira só para alimentar araras e outros pássaros. “Eu ponho quirerinha, ponho água para eles tomarem banho. Eles vêm tudinho. É lindo demais”, diz. Mas o cuidado individual parece insuficiente diante da dimensão do problema.

Córrego que atraía animais vira ponto de lixo em bairro conhecido pelos pássaros
Doraci conta que o córrego sempre acumulou lixo na porta de casa (Foto: Osmar Veiga)

Quem cresceu no bairro reconhece com clareza a transformação. O químico Renan Mauruto Rossi Vieira, 33 anos, volta ao Recanto mesmo morando longe, apenas para mostrar aos filhos o lugar onde passou a infância. “Aqui parecia interior, parecia chácara. O barulho dos pássaros era a diferença do bairro”, lembra. Ele cita o que via quase todos os dias: “Tinha arara vermelha, arara-canindé, tucano. Hoje ainda aparecem, mas bem menos”. Ao caminhar pela margem do córrego, aponta o cenário: “O pessoal joga sofá, entulho, lixo. Isso afasta os animais”.

Renan também comenta que o entorno do córrego recebeu, nos últimos anos, um acúmulo de sucata que antes não existia. “Quando eu era criança, era só um terreno vazio. Agora tem sucata de carro, peças jogadas. Isso acaba puxando mais lixo”, afirma. Para ele, esse não é o único problema, mas um exemplo do quanto o espaço foi tomado pelo descuido.

A mesma percepção aparece no relato de Adriano Santos Lima, 39 anos, que mora no bairro há 25 anos. Ele recorda o tempo em que a região era marcada pela sombra das árvores e pelas frutas que atraíam aves de várias espécies. “Tinha amora, acerola, jamelão. Por isso vinha tanto pássaro”, diz. Hoje, vê o comportamento mudar: “O pessoal joga lixo perto do córrego, bem ali onde sempre teve mais animal. Isso espanta”.

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Moradora há quase 20 anos, Suziara de Araújo, revisora, resume o sentimento de quem ainda enxerga beleza no Recanto, mas teme perdê-la. “Aqui é maravilhoso, mas o pessoal não preserva. Joga lixo demais”, afirma. Ela conta que há trechos próximos ao córrego que “estão assim há anos e nunca foram limpos”.

Há também quem tenha escolhido o bairro justamente pela natureza. Mauro Trindade Saito, 38 anos, comprou um terreno para abrir um autocenter e construir uma vida próxima ao verde. “Sempre gostei daqui porque é fresco, tem vegetação, tem córrego com peixinho”, diz. Mas, ao olhar para o acúmulo de lixo e para a sujeira avançando sobre a mata, demonstra preocupação: “A poluição está tomando espaço. Se continuar assim, o Recanto dos Pássaros perde os pássaros”.

Córrego que atraía animais vira ponto de lixo em bairro conhecido pelos pássaros
Renan volta ao bairro com os filhos para reviver a infância entre pássaros (Foto: Osmar Veiga)

O que se repete entre os moradores, independentemente do tempo de residência, é a mesma constatação: o bairro ainda mantém traços do cenário que o batizou, mas esses traços estão se tornando mais frágeis. As araras ainda pousam em alguns quintais, mas em menor número. Os quatis ainda aparecem, mas com menos frequência. E o canto que antes marcava as manhãs já não cobre mais todos os trechos do bairro.

O Recanto dos Pássaros continua vivo, mas pressionado. Se o verde seguir cedendo espaço ao lixo, como alertam os moradores, o bairro corre o risco de carregar no nome aquilo que a paisagem não conseguirá mais sustentar.

Córrego que atraía animais vira ponto de lixo em bairro conhecido pelos pássaros
Entulho acumulado muda a paisagem do bairro (Foto: Osmar Veiga)

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