De favela a polo urbano, Nova Lima cresce, valoriza e ganha vida independente
Na região norte, o bairro passou por transformação e se tornou referência em comércio e infraestrutura
O Nova Lima, bairro mais populoso de Campo Grande, deixou para trás a fama de perigoso e hoje é sinônimo de valorização e movimento. Com 436 quarteirões e mais de 41 mil moradores, na região norte da cidade, o bairro se transformou em referência em comércio e infraestrutura e passou a atrair quem busca qualidade de vida e boas oportunidades de negócio.
RESUMO
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O bairro Nova Lima, localizado na região norte de Campo Grande (MS), transformou-se de uma área isolada em um importante polo urbano. Com mais de 41 mil habitantes distribuídos em 436 quarteirões, o local que já foi considerado perigoso tornou-se referência em comércio e infraestrutura. A valorização da região foi impulsionada por investimentos em pavimentação, drenagem e pela instalação do Shopping Bosque dos Ipês. Segundo moradores antigos, um terreno que custava R$ 8 mil em 2010 hoje não é vendido por menos de R$ 180 mil. O bairro conta com ampla infraestrutura, incluindo supermercados, bancos, escolas e unidades de saúde.
Segundo a vice-presidente do Creci (Conselho Regional de Corretores de Imóveis), Simone Leal, o crescimento é resultado de investimentos em obras de pavimentação e drenagem, da chegada de um shopping há 12 anos, da expansão imobiliária e da multiplicação de empresas e serviços na região.
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Ainda conforme Simone, o aumento da população reflete a valorização da área, que se tornou polo populacional. “O Nova Lima passou a chamar a atenção de investidores e contribuiu para o crescimento socioeconômico da cidade, influenciando a valorização de outros bairros e estimulando o surgimento de novos negócios”, destaca.
Morador há 35 anos do bairro, Pedro Domingos Faustino, o Pedrão, é presidente da Associação de Moradores e dono de uma pastelaria. Os dois imóveis ficam um ao lado do outro na Rua Jerônimo de Albuquerque. Ele lembra bem do tempo em que o ônibus sequer entrava no bairro. “Quando cheguei aqui, o ônibus parava na entrada do Terminal Nova Bahia e a gente vinha a pé”.
Sem o mínimo de estrutura, o solo arenoso do bairro dificultava a perfuração de poços comuns. Só era possível ter água comprando. "Seu Nicolau, que também era dono de uma serraria, distribuía água para a população e, para quem morava mais longe, fazia a entrega em carroças." Foi só no fim dos anos 1990 que o governo perfurou o poço artesiano, e a Sanesul (Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul) passou a distribuir a água.

Porém, Pedrão relembra que o “boom” do bairro começou especialmente com a chegada do Shopping Bosque dos Ipês e do condomínio Alphaville. “De 2010 para cá, um terreno que custava R$ 8 mil passou a valer R$ 80 mil. Hoje, não se compra lote por menos de R$ 180 mil”, afirma. Ele cita também a implantação da ETE Botas (Estação de Tratamento de Esgoto), que vai beneficiar toda a região. “Não vai mais ter casa sem saneamento”, comemora.
O presidente garante que o bairro oferece quase tudo o que os moradores precisam: supermercados, atacadistas, postos de saúde, escolas, creches, bancos e comércios variados. “Temos três UBSFs, clínica da família, posto de saúde 24 horas e o pelotão do 11º Batalhão da Polícia Militar. Hoje, o Nova Lima é um bairro excelente para se viver”, afirma.
História - A história de desenvolvimento do Nova Lima começa no outro extremo, como favela, cheia de barracos e ocupações irregulares. Por isso, a atuação de lideranças comunitárias foi fundamental. Pedrão recorda nomes como seu Alcides, sem lembrar o sobrenome. Ele foi o primeiro presidente da associação, e junto a outros moradores conquistou o asfalto e os serviços públicos. “Hoje todas as ruas estão asfaltadas. As últimas a receberem pavimentação são a Albertina Pimentel e o alargamento da Rua Lino Villacha, que liga ao São Julião”, conta.
Apesar das conquistas, ainda há demandas. “O que falta é uma praça de esportes, uma área de lazer para idosos e uma base do Corpo de Bombeiros”, aponta. Segundo Pedrão, há terreno disponível e ofícios já foram encaminhados ao Estado. A comunidade também pede escola em tempo integral.
Memórias - A comerciante Neuza Francisca do Carmo, de 50 anos, dona da loja Neuza Modas, atua há oito anos no corredor do Nova Lima, área que por muito tempo foi considerada perigosa. Ela aluga o ponto na Rua Marquês de Herval e recebe clientes do entorno. “Antes aqui era só mato. Hoje o movimento é bom, as pessoas vêm comprar, e o bairro cresceu muito. Só tive problemas com furtos, mas, no geral, melhorou bastante”, relata.

O morador Sebastião Ribeiro Chaves, 76 anos, vive há 20 anos na Travessa Manoel Pereira da Silva, no corredor do Nova Lima, chamado assim por ser a rota por onde passava a boiada até o antigo frigorifico Matel. “Antes não tinha creche e o colégio ficava longe. Hoje temos tudo: escola, posto de saúde, supermercado. Me sinto bem aqui e conheço todo mundo”, afirma.
A diarista Sandra Cristina Segoves Henrique, 52 anos, que também vive na mesma rua há 45 anos, viu de perto a transformação. “Criei meus filhos aqui. O bairro mudou muito: hoje tem banco, lotérica e comércio. Só falta mesmo uma creche e mais lazer para os idosos”, afirma.

Quase centro - O Nova Lima que já foi considerado afastado do Centro hoje é um bairro autossuficiente. “Todo mundo dizia que era longe, mas não é. Temos vias rápidas, acesso fácil, comércio variado. Hoje quem mora aqui trabalha aqui mesmo”, resume Pedrão. Os três filhos dele vivem e trabalham no bairro.
O vereador Carlos Augusto Borges, conhecido como Carlão, do PSB (Partido Socialista Brasileiro), de 60 anos, nasceu e cresceu no Nova Lima. Foi presidente da associação de moradores e uma das lideranças mais atuantes da região. Ele acompanhou de perto a luta da comunidade por infraestrutura e dignidade, lembrando que, no passado, o bairro era considerado uma favela, conhecido como o “buracão”, uma área de ocupação.
“O Nova Lima deve muito a duas pessoas: o senhor José Tavares, dono da Matel, que asfaltou a Rua Zulmira Borba, e ao seu Nicolau, que dava emprego e água aos moradores. Quando cheguei, o bairro tinha mais mato que casa. Andava seis quarteirões para achar uma residência”, relembra.

Ainda conforme Carlão, antes não havia segurança, energia nem rede de água. O carro atolava no areião, e o único ônibus passava na rodovia, de hora em hora. Era um bairro difícil de morar. A primeira escola foi a Escola Lino Villacha; depois veio a Hércules Maymone. “Tudo foi conquistado com muito esforço”, conta.
O vereador também lembra do “buracão do Nova Lima”, de onde foi retirada terra para a construção da Avenida Ernesto Geisel e que, por anos, virou lixão. “Na década de 1990, o corredor do Nova Lima era perigoso, tinha até corda na rua e cobravam para entrar. Era um bairro violento. Hoje, é o contrário: valorizado, com empresas, bancos e comércio forte”, diz.
Carlão destaca que o crescimento foi fruto da vontade política e da mobilização popular. “O que fez o Nova Lima se desenvolver foi o trabalho e a força das pessoas. O bairro virou um polo com indústria, comércio, lazer e moradia. Mas ainda precisamos de uma escola em tempo integral, mais segurança e iluminação pública adequada”, afirma.
Mesmo morando hoje na região da Coronel Antonino, o vereador mantém os laços com o bairro que o formou. “O Nova Lima se fez com luta. Hoje, lá tem tudo: pizzarias boas, áreas de lazer, áreas com piscinas para alugar, casas novas sendo construídas. Aos sábados, a Jerônimo de Albuquerque fica lotada por causa do comércio noturno”.

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