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Capital

Em meio ao temor do Zika, jornalista fala da superação da microcefalia

Flávia Lima | 08/12/2015 17:28
Alcides Ferreira fala que casos suspeitos de Zika vírus pode ser menores após conclusão de exames.  (Foto:Divulgação)
Alcides Ferreira fala que casos suspeitos de Zika vírus pode ser menores após conclusão de exames. (Foto:Divulgação)
Ana Carolina relata sua experiência com a microcefalia em livro. (Foto:Arquivo pessoal)
Ana Carolina relata sua experiência com a microcefalia em livro. (Foto:Arquivo pessoal)

Dados divulgados nesta terça-feira (8) pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), revelam que as autoridades de saúde investigam 75 casos suspeitos de Zika vírus na Capital. Na semana passada, o levantamento indicava 34 casos, o que representa um aumento de 120% em apenas quatro dias.

No entanto, nenhuma das suspeitas foi confirmada. Segundo o coordenador da Coordenadoria de Controle de Endemias Vetoriais da Sesau, Alcides Ferreira, o aumento no número de casos é considerado normal, já que entre as suspeitas pode haver casos de dengue ou chicungunya.

Mesmo com os descartes, o crescente índice de suspeitas do Zika vírus é fato e tem deixado a população em alerta, principalmente devido a sua relação com os recentes casos de microcefalia no país, que vem aumentando assustadoramente.

De acordo com boletim divulgado esta terça-feira pelo Ministério da Saúde, até o dia cinco de dezembro foram registrados 1.761 casos suspeitos de microcefalia no país.

Em Mato Grosso do Sul, nove casos estão sob investigação, ocupando o 12º lugar no ranking de casos suspeitos.
De acordo com o Núcleo de Vigilância Epidemiológica do Estado, os casos de microcefalias também podem estar associados a outras causas, como exposição à fatores teratogênicos como o uso de álcool e drogas, desnutrição materna, infecção por citomegalovírus, toxoplasmose, rubéola e fatores genéticos.

O boletim da Sesau também aponta que 27 de janeiro a 8 de dezembro, foram 7.614 notificações de doenças transmitidas pelo aedes aegypti, sendo 3.819 casos confirmados de dengue, cinco da forma mais grave e três mortes.

Quanto a chikungunya, neste mesmo período foram 74 notificações, com duas confirmações.

Superação e informação - A explosão de casos de microcefalia no país, relacionados ao Zika vírus tem deixado mães e gestantes apreensivas quanto a transmissão, já que os cinco primeiros meses de gestação são considerados os mais delicados no que diz respeito a formação do cérebro do bebê.

No entanto, o surgimento dos casos têm dado voz aos portadores da doença, que provam que é possível superar o problema e levar uma vida normal, estudando e se dedicando a uma profissão.

É o caso da jornalista Ana Carolina Cáceres, 24. Há um ano, quando ninguém imaginava o surto de microcefalia no país, ela teve sua história de superação contada pelo Lado B, do Campo Grande News.

Arte: Prefeitura de Mairi
Arte: Prefeitura de Mairi

Hoje, ela volta a ganhar os holofotes, mas para tranquilizar os pais que tenham filhos diagnosticados com a doença e, principalmente, alertar sobre a importância do tratamento precoce e da busca pela informação.

Apesar de estar em evidência há pelo menos dois meses devido a sua relação com o Zika vírus, a microcefalia, na opinião de Ana Carolina, ainda é envolta em mistério e pouca informação.

Ela mesma considera como “sorte”, a maneira como conseguiu superar a doença. Assim como na maioria dos casos, o primeiro diagnóstico dado a seus pais era de que ela teria Síndrome de Down e, depois, de que não conseguiria andar.

Inconformados, eles persistiram atrás de informação, até encontrar o neuro pediatra Janivaldo Nunes Lacerda, que na época havia retornado do exterior com novidades sobre a doença e indicou uma cirurgia que pudesse reverter as sequelas da microcefalia.

No total, Ana Carolina passou por sete intervenções cirúrgicas. A primeira, com nove dias, foi para fazer correções na face e retirar parte da estrutura óssea do crânio. O objetivo era dar espaço para que o cérebro crescesse, já que o crânio do portador da doença não atinge o tamanho normal, que é de 34 centímetros.

Considerada de risco, a operação resultou em duas paradas cardíacas, mas após 12 horas os médicos consideraram a intervenção um sucesso.

A demais cirurgias foram para a colocação de uma prótese para cobrir a parte do crânio que perdeu a estrutura óssea, porém o organismo da jornalista rejeitou todas as próteses.

“Desisti de tentar porque consigo levar uma vida normal. Só tomo cuidado quando estou em aglomerações porque não posso bater a cabeça e também nunca pude fazer Educação Física”, relata.

Quanto ao desenvolvimento cognitivo, Ana Carolina diz que nunca teve dificuldades. Já fez aulas de violino e considera “rápida” a forma como sempre aprendeu as matérias na escola.

“Meus pais acompanhavam minha evolução conversando sempre com os professores”, diz. Toda sua experiência resultou em um trabalho de conclusão do curso de Jornalismo, que ela disponibiliza através de seu blog, como forma de trocar experiências e orientar os pais que recebem o diagnóstico.

“A cirurgia é uma realidade, mas pouco divulgada pro falta de conhecimento. Mas ela não serve para todos os casos. É preciso ter uma avaliação correta de um neurocirurgião, por isso é importante não aceitar o primeiro diagnóstico”, afirma.

Hoje, Ana Carolina não precisa nem mesmo tomar os medicamentos para evitar convulsões, comuns entre os portadores de microcefalia,mas também passou por sessões de fisioterapia, fonoaudiologia e com psicólogos.

“Tive sorte porque a minha microcefalia é considerada primária, ou seja, não resultou de fatores externos, mas isso não impede outras crianças de também terem um diagnóstico mais adequado”, destaca. Para quem deseja conhecer mais sobre a história de Ana Carolina e trocar informações sobre a microcefalia, seu blog é o https://xcarolinacaceres.wordpress.com/

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