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Capital

Férias escolares viram tempo de perigo, com duas crianças mortas em uma semana

Mas questão não se resume ao período sem aula: tem criança há anos na fila da creche

Aline dos Santos | 17/01/2023 11:49
Paulo Henrique, 11 anos, é fã de futebol e gosta de soltar pipa. (Foto: Marcos Maluf)
Paulo Henrique, 11 anos, é fã de futebol e gosta de soltar pipa. (Foto: Marcos Maluf)

“Na rua, não!”. A afirmação de Elizabeth Alves, 32 anos, externa a preocupação de muitas mães nesse período de férias escolares, temporada de atenção redobrada com as crianças.

Eventos trágicos registrados em Campo Grande em uma semana – morte de uma menina de 7 anos atropelada ontem quando andava de bicicleta e o afogamento de adolescente na última quinta-feira (dia 12) – levam os pais a reforçarem os cuidados.

“Eu mesmo costumo levar para passear. Chega o fim de semana, saio cedo, levo para uma piscina, brinca o dia inteiro já para gastar energia do mês todinho”, diz Elizabeth, lembrando que as crianças têm muita disposição  e reclamam de ficar em casa.

Na manhã desta terça-feira (dia 17), ela caminhava pelas ruas do Bairro Paulo Coelho Machado com o filho Paulo Henrique, 11 anos, bem a vista. O menino conta que em 2023 vai trocar de escola e cursar o 6º ano do Ensino Fundamental.

Velório de Henrique, afogado em 11 de janeiro em córrego nas Moreninhas.
Velório de Henrique, afogado em 11 de janeiro em córrego nas Moreninhas.
Ontem, menina de sete anos morreu andando ebicicleta. (Foto: Henrique Kawaminami)
Ontem, menina de sete anos morreu andando ebicicleta. (Foto: Henrique Kawaminami)

Nas férias, as atividades favoritas são jogar bola e empinar pipa. O gosto pelo futebol fica nítido na camiseta com os nomes do time francês Paris Saint-Germain e do craque Messi.

Para proporcionar momentos de lazer para o menino, a mãe conta que se desdobra. “Trago aqui no centro comunitário, mas não há muita opção de lazer, levo no Jockey [Club]. Se enturma um monte de criança lá no campo, começam a jogar bola, soltam pipa. E também levo na Moreninha, que é longe, mas tem o Parque Jacques da Luz, que é um espaço bom para as crianças”, diz.

Elizabeth, que traz o terceiro filho no ventre, também é mãe de Maria Ester e trava uma luta de ligações para a central de matrículas há dois anos e seis meses em busca de vaga para a menina de 3 anos no Ceinf (Centro de Educação Infantil) Varandas do Campo.

Antes da gestação, ela e o marido tiravam R$ 400 do orçamento do mês para custear uma babá. Funcionária de mercado, ela trabalhava de domingo a domingo.

Elizabeth conta que tenta há anos vaga para a filha em Ceinf. (Foto: Marcos Maluf)
Elizabeth conta que tenta há anos vaga para a filha em Ceinf. (Foto: Marcos Maluf)

Eu só estou parada agora por causa da gestação. Mas tem quase três anos que eu espero uma vaga na creche e nada, nada, nada. Esses dias eu liguei e alimentaram a minha esperança, de que sairia na segunda opção. Mas não saiu. Diz que ela está em primeiro lugar na fila do Ceinf do Varandas, mas até agora nada. Eu ligo todo dia na Semed [Secretaria Municipal de Educação]. Nesses três anos, eu pago babá”, diz Elizabeth.

Sobre a vaga, a Semed informa que a criança está em 6º lugar na primeira opção e em 2º lugar para a segunda opção de Emei - de acordo com a inscrição.

"Apenas 37% das crianças contempladas com vagas nas Emeis na segunda listagem - que foi divulgada no dia 11 de janeiro de 2023 - tiveram a inscrição efetivada para o ano letivo de 2023. Com isso, um novo levantamento de vagas será encaminhado nos próximos dias. As vagas serão encaminhadas para crianças que estão aguardando designação. Devido a colocação da criança, provavelmente ela será contemplada. Orientamos que pais e responsáveis fiquem atentos aos prazos", informa nota enviada pela secretaria.

A recreadora Yara conta que busca atividades gratuitas para o lazer dos filhos. (Foto: Marcos Maluf)
A recreadora Yara conta que busca atividades gratuitas para o lazer dos filhos. (Foto: Marcos Maluf)
No detalhe, pingentes de Yara representam os 4 filhos. (Foto: Marcos Maluf)
No detalhe, pingentes de Yara representam os 4 filhos. (Foto: Marcos Maluf)

A recreadora Yara Lia Marque dos Santos, 31 anos, afirma que é privilegiada por trabalhar em ambiente escolar e ter férias no mesmo período das crianças.

Mãe de quatro filhos – de 3, 6, 7 e 12 anos -, ela relata que busca opções gratuitas de lazer.

“Eles brincam em casa, ficam comigo no quintal. Levei os quatro na Cidade do Natal e no Bioparque [Pantanal], só uma filha minha que não foi ainda”.

Ao lado da mãe, dona de uma loja de artigos diversos (utilidades, material escolar, brinquedos), o menino Adriano, 8 anos, conta que as atividades favoritas são soltar pipa, assistir desenho no celular e passear aos fins de semana com os pais.

De raciocínio rápido, o garoto se mostra afeito aos números e já sabe de cor alguns dos custos da família, como os R$ 300 pagos para que a irmã de 1 ano e 9 meses tenha babá.

“Pago babá para a neném e ele fica comigo na loja, mais brincando no celular. No fim de semana, levo para passear no parque, na pracinha. Também deixo ele lendo livro, porque não tem aula, mas a gente precisa incentivar para não ficar só preso no celular. Não deixo solto na rua, é muito perigoso, tenho medo”, diz Romácea Cristina de Rezende, 27 anos.

Romácea paga babá para a filha e leva Adriano para loja: "Não deixo solto na rua". (Foto: Marcos Maluf)
Romácea paga babá para a filha e leva Adriano para loja: "Não deixo solto na rua". (Foto: Marcos Maluf)


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