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Capital

Fim da greve alivia, mas usuários não sentiram saudade da realidade dos ônibus

Motoristas do transporte coletivo selaram acordo após quatro dias de mobilização em Campo Grande

Por Izabela Cavalcanti e Geniffer Valeriano | 19/12/2025 08:42


RESUMO

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A greve dos motoristas de ônibus em Campo Grande chegou ao fim após quatro dias de paralisação, que ocorreu devido ao não pagamento integral dos salários da categoria. Durante o período, usuários recorreram a transportes alternativos e relataram não sentir saudade do serviço regular, criticando as condições precárias dos veículos. O acordo que encerrou a paralisação foi firmado entre Prefeitura, Câmara Municipal e Governo do Estado, garantindo o pagamento dos salários atrasados e do 13º salário. O Consórcio Guaicurus, responsável pelo transporte, admitiu ter recebido R$ 3 milhões da prefeitura, mas alegou complexidade financeira maior para justificar os atrasos.

A greve dos motoristas de ônibus em Campo Grande chegou ao fim após quatro dias e, com isso, a rotina dos trabalhadores teve que voltar ao normal na manhã desta sexta-feira (19). Apesar do alívio com a retomada do serviço, muitos usuários relataram que não sentiram saudade da realidade vivida diariamente dentro dos ônibus da Capital.

No ponto de ônibus da Praça Ary Coelho, o cenário já era de filas e mais barulho nas ruas com os ônibus rodando.

A garçonete Rita Roriz, que sai do Jardim Antártica para trabalhar no Parque dos Poderes, contou que não será uma tarefa tão fácil se acostumar com a realidade.

“Saudade eu não estava, porque o desconforto é sempre grande. Na semana que ficou de greve, meu patrão estava pagando Uber, então, não senti tanta falta”, disse.

Ao comparar as experiências, ela admite que o conforto dos aplicativos pesa. “A gente se acostuma facinho. Será difícil voltar para a realidade.”

A doméstica Regina Soares, de 59 anos, também utilizou transporte por aplicativo durante a paralisação. Ela trabalha no Parque dos Poderes e criticou as condições dos veículos.

“Os ônibus precisam ter um pouco mais de conforto. Tem uns que parece que está faltando parafuso, que o banco vai batendo do começo ao fim. Sai de lá quicando. No horário de pico, por volta de 6h30 não tem muito conforto para ninguém”, reclamou.

Fim da greve alivia, mas usuários não sentiram saudade da realidade dos ônibus
Regina aguardando ônibus na Praça Ary Coelho (Foto: Marcos Maluf)

Em tom irônico, Regina resumiu o sentimento do retorno: “ô que saudade. Estava morrendo de saudade dos apertos, das mochilas das costas, da bolsa acertando o meu rosto, e dos estudantes nos ônibus. É desse jeito”, ironizou.

Já a diarista Roseli Aruê, de 57 anos, afirmou que precisou arcar com os custos do transporte alternativo para não perder os dias de trabalho.

Estava difícil sem os ônibus. Sou diarista, preciso trabalhar, se eu não trabalho, eu não ganho. Tive que pagar do meu bolso para ir trabalhar. Tive que estar preparada para voltar a andar de ônibus, porque tenho que trabalhar”, relatou.

Apesar de reconhecer os problemas do transporte coletivo, ela destacou a importância do serviço. “Não senti falta dos transtornos, mas quem não sentiu saudade? Muita gente depende desse transporte. Apesar do aperto e da lotação, faz muita falta. É nosso meio para trabalhar. Mas durante esse tempo aproveitei o conforto dos carros de aplicativo”, completou.

A diarista Erica Pacheco, de 45 anos, que sai do Taveirópolis para o Parque dos Poderes, voltou apreensiva para a rotina.

“Durante esse tempo eu tive que ir de uber-moto e estava com receio de voltar e encontrar o ônibus lotado”, pontuou.

Fim da greve alivia, mas usuários não sentiram saudade da realidade dos ônibus
Erica aguardando ônibus na Praça Ary Coelho enquanto dá entrevista (Foto: Marcos Maluf)

Mesmo assim, ela reforça que o ônibus é a opção mais viável financeiramente. “É uma opção mais barata para ir ao serviço. Então, é o melhor para mim. Sinto saudade quando não tem, mas tenho que lidar com a rotina quando volta”, lamentou.

Para a auxiliar de garçom Ashiley Letícia, de 21 anos, as paralisações afetam diretamente quem vive do salário.

“Quanto menos os motoristas fizerem essas paralisações, é melhor para o trabalhador, porque é complicado para todo mundo. Muita gente depende dos ônibus e ficar pagando Uber para quem é CLT é horrível."

Fim da greve alivia, mas usuários não sentiram saudade da realidade dos ônibus
Passageiros subindo em ônibus na manhã desta sexta-feira (Foto: Marcos Maluf)

Entenda - A greve dos motoristas de ônibus foi decidida em assembleia no dia 11 de dezembro, após o não pagamento integral dos salários da categoria, que deveria ter ocorrido no dia 5 de dezembro.

Já no dia 12 de dezembro, o Consórcio Guaicurus informou ter efetuado o pagamento de 50% dos salários devidos, mas a medida não foi suficiente para suspender a paralisação. No dia 15 de dezembro, os trabalhadores deram início à mobilização.

Durante a coletiva de imprensa nos dias 15 e 16 de dezembro, a Prefeitura de Campo Grande afirmou ter repassado R$ 3 milhões.

Na audiência de conciliação, que foi realizada nesta terça-feira, no TRT-24 (Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região), o diretor-presidente do Consórcio Guaicurus, Themis Oliveira, foi questionado sobre os recursos repassados pela Prefeitura.

Ele confirmou que o município efetuou o repasse na sexta-feira (12), mas admitiu que o valor não foi direcionado prioritariamente para o pagamento da parcela salarial atrasada dos motoristas.

Fim da greve alivia, mas usuários não sentiram saudade da realidade dos ônibus
Usuários do transporte coletivo fazem fila para pegar ônibus (Foto: Marcos Maluf)

Segundo Themis, o consórcio enfrenta uma situação financeira mais ampla e complexa, e o pagamento de salários, por si só, não garantiria o retorno imediato dos ônibus às ruas. “Hoje o consórcio não tem caixa disponível para pagar essa outra parcela de 50%. Confirmo [o depósito da prefeitura], mas é preciso olhar isso de uma maneira maior. Só salário não faz a frota ir para rua. Eu tenho que pagar diesel, pagar peça e uma série de questões”, disse naquele dia.

O acordo que levou ao fim da greve foi selado na quinta-feira (18) após negociações entre a Prefeitura de Campo Grande, a Câmara Municipal e o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul. O principal ponto do acordo foi a garantia de pagamento imediato de parte dos salários atrasados e do 13º, viabilizada por uma antecipação de recursos estaduais.

O Ministério Público do Trabalho pediu a extinção da multa de R$ 520 mil aplicada ao sindicato durante a greve e o abono das faltas registradas entre os dias 15 e 18 de dezembro. A exclusão da multa ainda será analisada pelo desembargador César Palumbo Fernandes.

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