História está longe de final feliz, mas garoto torturado já é super-herói
Poderia ser ficção, mas a história desse super-herói é bastante real e há 11 dias vem sendo contada em meio a revolta, tristeza e esperança. Na quinta-feira (3), o choro de dor se foi. Deu espaço a gargalhadas. O menino de quatro anos torturado por familiares se tornou Homem Aranha e agora tenta se livrar das cicatrizes físicas e psicológicas do jeito mais simples para uma criança: brincando.
A fantasia do Homem Aranha foi um presente da Liga do Bem, grupo de voluntários que se vestem de super-heróis para alegrar crianças em hospitais. “Ele não tem noção do que passou. Não sabe que o que viveu foi uma tortura. Pensava que era normal sentir dor”, disse a psicóloga Alexandra do Nascimento, que é membro da equipe multidisciplinar que cuida do garoto.
A psicóloga não nega que o super-herói vai se lembrar das tristes aventuras que viveu nesse período – que durou cerca de nove meses. No entanto, explica que o tratamento e a vida daqui para frente é que garantirão a vitória sobre os vilões do trauma.
Para o garoto até tomar remédio é divertido agora. Mas o copo é especial: do Homem Aranha. E pode parecer mentira, mas esse super-herói também tem super-poderes. “Ele parece não sentir dor. Não reclama do tratamento, apesar de dolorosos. Não reclama de nada e ainda é carinhoso”, diz a médica pediatra Patrícia Otto, que o atende.
O menino, que chegou ao hospital debilitado, com graves ferimentos e que mal falava, agora é outro. E quem acompanha de longe, pensa até que essa história já chegou no tão esperado final feliz, mas não é bem assim. O prazo que ele deve permanecer no hospital ainda é indeterminado. Além de se recuperar dos traumas físicos, ele passa por tratamento psicológico.
Depois de receber alta, o garotinho será reencaminhado a um abrigo, onde deve aguardar adoção. Apesar das particularidades do caso, o processo de adoção deve durar de 6 meses a um ano.
A verdade é que este conto está só no começo. “Só o tempo pode dizer como ele vai responder ao tratamento, o importante é nós estarmos confiantes.”