JBS joga culpa por podridão nos bairros em lago de fábrica de bebidas
Em relatório com ações contra liberação odores, frigorifico e apontou lago da Refriko como possivel causador
As queixas continuam e as ações judiciais relacionadas ao mau cheiro sentido no Bairro Nova Campo Grande e áreas adjacentes também. A JBS elaborou um relatório apresentando as medidas utilizadas para neutralizar a emissão de odores em suas operações, mas também partiu para o ataque. A empresa de abate de bovinos sugeriu que o cheiro reclamado pelos moradores poderia ser proveniente de fábricas vizinhas ou de uma estação de tratamento de resíduos pertencente ao Grupo RFK, fabricante de refrigerantes, energéticos, cervejas e destilados.
“Importante registrar que a percepção de odores para além dos limites do empreendimento e subjetiva e pode ser afetada pela existência de outras fontes de emissão de substâncias odoríferas, o que ocorre na região, uma vez que o frigorifico está localizado em região onde estão localizadas outras indústrias, como curtume, graxaria e estação de tratamento de esgoto doméstico”, pontuou a JBS no relatório de ações desenvolvidas pela empresa.
Em processos judiciais buscando indenização por danos morais e culpando as operações do frigorífico pelo odor, a defesa dos moradores anexou vídeo de um tanque de tratamento de resíduos que dispersava um odor característico semelhante ao sentido na região, insinuando que pertencia à planta da JBS. (Confira o vídeo abaixo)
No entanto, o relatório elaborado pelo engenheiro agrônomo do grupo JBS, apontou que a lagoa de tratamento a céu aberto pertence empresa Refriko.
Utilizando imagens de satélite e durante visita presencial, o documento aponta que a distância da lagoa de tratamento de efluentes da empresa de bebidas até a empresa JBS é de aproximadamente 1,6 km, o que poderia causar a percepção errônea de que o mau odor poderia ser oriundo do frigorifico, justenta a defesa.
A reportagem tentou contato com o Grupo RFK, responsável pela fábrica Refriko em Campo Grande, para obter informações quanto ao lago citado na matéria, apontado com um possível causador do mau cheiro. Mas até o momento não obteve retorno. O espaço segue aberto.
Ações para evitar o odor – Conforme apresentado no relatório, a unidade I da JBS, próxima ao Bairro Nova Campo Grande, opera com medidas mitigatórias de odores, com estruturas, maquinas e equipamentos para não liberar odores nas regiões adjacentes à planta frigorifica.
Os gases provenientes do setor de subprodutos dos abates são enviados para lavadores de gases e biofiltros para eliminação de odores. A empresa garante que possui ainda um biodigestor na lagoa de tratamento impermeabilizada, onde todos os gases são retidos e seguem para um queimador, onde são eliminados os gases causadores de odores. A empresa possui ainda cortinas arbóreas no entorno das lagoas efluentes de tratamento do esgoto e resíduos
Todas as ações apresentadas pela empresa a fim de evitar a liberação de odores na região foram atestadas durante fiscalização do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) à planta da fábrica após denuncias de moradores dos bairros Nova Campo Grande, Jardim Carioca, entre outros localizados na saída para Aquidauana.
Após vistoria do órgão ambiental, foi constatado que a fábrica está operando com licença válida e dentro da capacidade permitida. Não foram identificados danos ambientais nos pontos fiscalizados ou despejo irregular dos resíduos ou afluentes.
Por fim, foi concluído que o frigorifico JBS opera cumprindo as determinações e normas ambientais vigentes e que os odores emitidos pela empresa são “intrínsecos da atividade”.
Podridão segue - Mas nada disso convence os moradores dos arredores da fábrica da JBS, localizada na Avenida Duque de Caxias, que seguem revoltados com o persistente mau cheiro que permeia a região.
"É um cheiro insuportável, parece que é uma coisa podre tipo carniça, não dá nem para descrever. Por conta do vento o cheiro vem com força e nos dias de calorão piora. Eu morei por muito tempo na cabeceira do aeroporto e de lá dava para sentir o fedor. É algo que incomoda, até desanima de continuar morando aqui, mas eles falam que vai melhorar então a gente fica na expectativa", comentou a técnica de enfermagem, Roselaine de Moraes, 47 anos, moradora da região há 5 anos.
Irene Monteiro Lejasnoski, de 59 anos, contou que já trabalhou na JBS por 17 anos, mas que recentemente o mau cheiro piorou. Além disso ela disse que a casa da mãe dela e da tia foram as primeiras a serem construídas nessa região.
"Aqui sempre dá para sentir um fedor, mas é um cheiro de couro, sangue, de algo podre mesmo. E é bem forte, a minha irmã que trabalha no Indubrasil disse que de lá dá para sentir também. Eu já trabalhei na JBS em 2004, nessa época eles disseram que tinham realizado um tratamento para diminuir esse cheiro. Eu não sei se o meu nariz já tinha se acostumado com o cheiro, mas naquela época eu não sentia, mas agora comecei a sentir o fedor", relatou.
A dona de casa, Eliane Ferreira, 37 anos, mora há um ano próximo ao frigorifico, segundo ela o mau cheiro é intermitente, sem dia e horário definido, mas que em todas a vezes é um odor muito forte.
“É um cheiro muito forte, mas não é sempre, nem tem um horário que sempre acontece. É um cheiro de lixo bem podre. Quando me mudei já sabia do problema, mas agora eu já me acostumei, não incomoda tanto como antes. Quando vem visita em casa, sempre comentam: 'que fedor', que podridão”, lamentou.