"Matou meu filho": mãe de guarda morto é retirada de júri após acusar réu
Ex-guarda civil Marcelo Rios prestava depoimento quando Terezinha Brandão levantou e passou a gritar
Acompanhando o segundo júri da Operação Omertà da planteia, a dona de casa Terezinha Brandão, 63 anos, mãe do guarda municipal Fred Brandão dos Reis, acabou se alterando e precisou ser retirada do plenário ao chamar o ex-guarda municipal Marcelo Rios de mentiroso. O réu prestava depoimento e respondia as perguntas da defesa na tarde desta terça-feira (17).
Marcelo falava sobre o período em que passou na sede da Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros) quando Terezinha se levantou e foi em direção ao réu gritando: “Para de ser mentiroso, Marcelo! Deixa de ser mentiroso. Você matou meu filho. Você matou meu Fred, desgraçado. Você deu um tiro na boca do meu filho, seu desgraçado”.
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Rapidamente, policiais militares que acompanham as sessões do júri retiraram a mulher e o juiz Aluízio Pereira dos Santos determinou que não a deixassem mais entrar na sala. A situação foi registrada em vídeo acima. Após sair, ela continuou gritando no saguão e foi levada para outra sala.
Aluízio dizia para o advogado Marcio de Campos Widal, que atua na defesa do ex-guarda, para que ele continuasse com as perguntas, enquanto Marcelo comentou que não entendeu o que aconteceu. O defensor então pediu que o cliente tomasse água e respirasse. “Eu não tenho nenhum processo doutor”, disse o ex-guarda.
Widal então pede a anulação do julgamento. “Excelência, por dever do ofício, eu quero registrar em ata o acontecimento do auditório e gostaria de consignar o pedido de nulidade do julgamento pelo fato poder influenciar na imparcialidade e isenção dos jurados”, pontuou o defensor.
Os promotores do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) se opuseram por entenderem que o fato em nada prejudicaria, já que existem outros acusados sendo também julgados no processo e que os jurados têm capacidade de fazer julgamento justo.
“Esse julgamento é extremamente técnico. Feito com base em prova feita pela acusação e pela defesa. Um fato isolado como esse jamais macularia o julgamento. Até porque os jurados são suficientemente idôneos e inteligentes para separar esse fato que não tem nada a ver com o que está sendo julgado e que vá os contaminar”, declarou Moisés Casarotto, promotor do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado).
Por fim, o juiz Aluízio alertou que as acusações feitas por Terezinha não tinha relação com o processo e que o júri é um ato público, não podendo ser feito de portas fechadas. Além disso, afirmou não ser a primeira vez que uma situação como esta acontece e há uma estrutura preparada para resolver.
“Eu não vejo motivo nenhum para dissolver o Conselho de Sentença, supondo que eles serão influenciados por uma palavra de uma pessoa. Um destempero de versão apresentada pelo acusado e isso pode ser melhorado com os debates, então podemos prosseguir normalmente com os debates”, finalizou o magistrado consultando os jurados e dando uma pausa no julgamento.
Caso - Fred Brandão dos Reis morreu com tiro na boca no dia 20 de abril de 2019. Naquela madrugada, por volta das 5h, as polícias Militar e Civil foram acionadas para ir a endereço no Jardim Alto São Francisco, em Campo Grande, onde um guarda municipal supostamente havia se suicidado.
Conforme relatado à polícia, o servidor teria tirado a própria vida após estuprar uma menina de 12 anos com quem tinha grau de parentesco, crime que não foi confirmado depois, ao longo das investigações.
O caso chegou a ir para as mãos dos promotores da Operação Omertà, por conta da ligação com Marcelo Rios e as inconsistências na versão de suicídio, como a inexistência de vestígios de chumbo nas mãos dele. O resíduo deveria ter ficado na pele da pessoa que atira.
A investigação foi realizada por meses, mas esbarrou em provas mais consistentes da participação de envolvidos na Omertà. O caso foi arquivado, mas com a ressalva de reabertura com novos indícios.
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