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Capital

Namorada contesta versão oficial e diz que adolescente foi executado pela PM

Jovem relata ter visto namorado sendo levado à viatura, carregado pelos braços e pernas

Por Bruna Marques e Maria Gabriela Arcanjo | 25/11/2025 08:37
Namorada contesta versão oficial e diz que adolescente foi executado pela PM
Adolescente posando com armas nas mãos e também com armas na cintura (Foto: Direto das Ruas)

A versão apresentada pela namorada do adolescente de 17 anos, morto na noite de segunda-feira (24), na Rua Wega Neri, no Portal Caiobá, em Campo Grande, contradiz o que foi relatado no boletim de ocorrência. A jovem, também menor de idade, que mantinha relacionamento há oito meses com o rapaz, afirma que não houve confronto algum e que o caso foi execução.

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Um adolescente de 17 anos foi morto durante operação policial na Rua Wega Neri, no Portal Caiobá, em Campo Grande. A namorada do jovem contesta a versão oficial, afirmando que não houve confronto e que o namorado estava desarmado no momento da ação. Segundo a polícia, o adolescente, que tinha mandado de apreensão em aberto, foi encontrado no telhado de uma residência e teria apontado um revólver para os agentes. Após ser atingido, foi levado ao Hospital Regional, onde faleceu. No local, foram apreendidos 138 gramas de maconha e um revólver calibre .32.

A jovem conversou com o Campo Grande News na manhã de hoje. Ela insiste que o namorado não estava armado e que os policiais do Batalhão de Choque encontraram no local apenas maconha, supostamente para consumo dele e do amigo Moisés Osório Moreira de Souza, de 18 anos, que estava na residência e foi preso por tráfico de drogas.

A adolescente mora na casa onde tudo ocorreu. A irmã mais velha, que também vive no local, não estava no momento da ação. A jovem conta que o namorado estava hospedado ali desde a semana anterior, alegando problemas familiares. Eles tinham acabado de jantar quando ela foi ao quarto descansar. O namorado pediu que Moisés saísse para que ela pudesse dormir, mas o amigo voltou imediatamente avisando que havia “algo estranho” do lado de fora. Instantes depois, segundo o relato, o padrão de energia da casa foi desligado.

A adolescente afirma que passou a fazer uma ligação em vídeo para uma amiga justamente para contar que havia movimentação suspeita na rua. Enquanto isso, o namorado e Moisés teriam ido até a frente do terreno para entender o que estava acontecendo. Ela diz acreditar que, nesse momento, policiais confundiram a casa e entraram primeiro na residência ao lado, onde teriam abordado um homem apontando arma para ele antes de perceberem que procuravam outra pessoa.

A jovem relata que, ao perceber o erro, os agentes passaram a rondar o quintal onde ela estava. Conta que todos foram mandados para fora e que permaneceu sentada na rua, sem entender a situação. Ela diz que abaixou a cabeça para orar quando ouviu três disparos. Sem saber o que estava acontecendo, ouviu ainda a ordem para que todos virassem de costas. Nesse instante, segundo relatou, virou levemente o rosto e viu dois policiais carregando seu namorado pelos braços e pernas. “Acredito que ele já estava morto nessa hora. Ele estava mole, com a cabeça para trás”, disse, ainda chorando.

Ela relata que o corpo foi colocado dentro de uma viatura sem qualquer atendimento médico. “Quem coloca um morto na viatura? Não chamaram socorro. Colocaram ele lá dentro como se estivessem levando um preso”, afirmou.

A jovem admite que o namorado tinha passagens por porte de arma, tráfico e ameaça em Corumbá, algo que ela mesma sabia. Ainda assim, insistiu várias vezes que a situação poderia ter terminado com prisão, e não com tiros. “Poderiam ter prendido ele”, repetiu.

Ela conta que só percebeu a dimensão da ação quando saiu para a rua e viu que as esquinas estavam cercadas por viaturas. Segundo seu relato, entre 15 e 20 policiais estavam no local. A movimentação, conforme descreve, teria começado por volta das 23h, embora os tiros tenham sido ouvidos perto de 1h.

A adolescente afirmou que não prestou depoimento ainda porque passou mal após o ocorrido. Ela foi encaminhada à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Leblon, onde tomou soro e realizou exames, inclusive para confirmar a suspeita de gravidez. Ela faz 18 anos no próximo sábado e, segundo ela, os dois planejavam viajar à praia para comemorar. Segundo relatou, quando contou ao namorado sobre a possibilidade da gravidez, ele teria dito que ser pai era seu sonho.

Namorada contesta versão oficial e diz que adolescente foi executado pela PM
Revólver calibre .32 encontrado com o adolescente (Foto: Divulgação)

Sobre o motivo da ação, a adolescente acredita que alguma denúncia ou inimizade pode ter motivado a operação. “A gente não espera perder alguém que a gente ama. Sair matando os outros pra eles é normal. Ir atrás de justiça não vai adiantar nada. Vão puxar a ficha e falar que é bandido”, afirmou.

Apesar de a namorada afirmar que o jovem não tinha arma no momento da ação policial, fotos às quais a reportagem teve acesso mostram o adolescente posando com armas nas mãos e também com armas na cintura.

De acordo com o boletim de ocorrência, o adolescente morto teria apontado uma arma para a equipe, o que resultou na reação policial. Ele era procurado pela Justiça e tinha um mandado de apreensão em aberto.

O que diz a polícia - De acordo com o registro policial, a ocorrência começou após uma denúncia anônima informar que uma mulher estaria escondendo um foragido dentro do imóvel. Quando a equipe chegou ao endereço, encontrou uma adolescente de 17 anos na porta, acompanhada de um homem não identificado. Nesse momento, outro rapaz correu para os fundos da residência, o que aumentou a desconfiança dos militares.

Durante a verificação externa, os militares observaram sinais de acesso recente ao telhado. Um dos policiais subiu pela parte da frente do imóvel e encontrou o procurado agachado. Segundo a equipe, ao receber a ordem de identificação, o jovem se levantou apontando um revólver. Para se defender, o policial efetuou dois disparos.

O adolescente caiu no quintal da casa vizinha, ainda segurando a arma. Outro policial ordenou que ele largasse o revólver, mas o jovem teria continuado em movimento, o que resultou em mais dois tiros. Após a queda, ele tentou alcançar o muro, mas não conseguiu prosseguir.

Namorada contesta versão oficial e diz que adolescente foi executado pela PM
Viaturas do Batalhão de Choque em frente a casa onde ocorreu o confronto (Foto: Divulgação)

Ferido, o adolescente foi levado ao HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul), com vida, porém, morreu durante o atendimento médico.

Dentro da residência, os policiais encontraram Moisés Osório Moreira de Souza, de 18 anos, além de várias porções de maconha, totalizando 138 gramas. O material foi apreendido e encaminhado à Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico). A adolescente que mora no local relatou que Moisés teria levado a droga a pedido do jovem morto.

Moisés foi preso em flagrante por tráfico de drogas. A delegada plantonista da Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Cepol (Centro Especializado de Polícia) acompanhou os trabalhos da perícia no local. Na casa foram apreendidos três swabs, dois estojos deflagrados e o revólver calibre .32 encontrado com o adolescente.

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