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Capital

Pai de menina morta pelo padrasto depõe e apoio é silencioso do lado de fora

Jean Carlos Ocampo da Rosa, pai da vítima, foi o primeiro a ser ouvido pelo juiz Carlos Alberto Garcete

Anahi Zurutuza e Ana Beatriz Rodrigues | 17/04/2023 17:03
Jean Carlos Ocampo da Rosa, o pai da menina de 2 anos assassinada, emocionado ao depor. (Foto: Paulo Francis)
Jean Carlos Ocampo da Rosa, o pai da menina de 2 anos assassinada, emocionado ao depor. (Foto: Paulo Francis)

Enquanto o juiz Carlos Alberto Garcete ouvia o depoimento de Jean Carlos Ocampo da Rosa, o pai da menina de 2 anos que foi assassinada pelo padrasto em janeiro, em caso ocorrido em Campo Grande (MS) que comoveu o país, o apoio era silencioso do lado de fora. Impedidos de acompanhar as audiências de testemunhas convocadas pela acusação, o marido, Igor de Andrade Silva Trindade, e familiares de Jean protestaram do lado de fora do Fórum de Campo Grande.

Com cartazes contendo frases como “Assassina não é mãe” e “Omissão é a cópia autenticada de mentira”, o grupo de seis pessoas mostrava os cartazes para motoristas que paravam em frente ao Fórum. “A gente, como família, não estava preparada para isso, ver a cara desses dois”, disse a prima, Pâmela Rodrigues, sobre o fato de Stephanie de Jesus da Silva, 24 anos, e Christian Campoçano Leitheim, de 25 anos, os réus pela morte da criança, poderem acompanhar os depoimentos.

Familiares da Jean Carlos Ocampo da Rosa em protesto do lado de foram do Fórum. (Foto: Paulo Francis)
Familiares da Jean Carlos Ocampo da Rosa em protesto do lado de foram do Fórum. (Foto: Paulo Francis)

Stephanie estava no plenário da 1ª Vara do Tribunal do Júri quando Jean foi chamado para depor, às 16h08. Ele pediu que ela se retirasse e assim foi feito, embora a ré tenha o direito legal de ouvir o que as testemunhas têm a dizer. Já Christian não apareceu e a defesa dele não informou se ele está no Fórum, de alguma maneira, acompanhando de longe a movimentação.

O depoimento - Em testemunho emocionado, Jean contou o que já havia falado em entrevistas logo após o ocorrido. Começou narrando o que sabia sobre o relacionamento da ex, Stephanie, com o acusado de ser o algoz da filha. Ele se lembra de que após a separação, a mãe da filha chegou a ter outro relacionamento antes de conhecer Christian. “Logo engatou namoro com ele, comecei a notar pequenos hematomas na minha filha e a Stephanie falava que era culpa do enteado dela”.

O pai diz ter certeza que a ex sabia dos maus-tratos à filha dentro de casa, porque se ele, que via a filha só com autorização da mãe e, portanto, com pouca frequência, percebia hematomas no corpo da criança, Stephanie não tinha como não enxergar. “Quando eu falava: ‘filha, tá na hora de ir pra casa mamãe’, ela já entrada em desespero e diz: ‘mamãe não, mamãe não’, chorando muito”, narrou.

O pai afirmou ainda que a mãe da menina tentava enganá-lo sobre os problemas de saúde da criança. “A Stephanie a levou para o posto e disse que a neném estava com dor de barriga. Aí mandou mensagem dizendo que ela teria de internar porque estava com uma infecção no estômago. Eu pedi para ir avisando, caso precisasse de algo e ela sumiu. Quando eu pedi notícia, ela me disse que a minha filha teria de engessar a perna, porque estava com a perna quebrada. Questionei, ela parou de falar e só consegui ver a minha filha depois que ela já tinha tirado o gesso”.

O pai disse que não tem mais forças para viver. “Estou na base dos remédios, antes eu tinha força para trabalhar, porque eu tinha que dar o melhor para minha filha”, a frase foi interrompida pelo pranto. “Estou tentando uma forma de continuar. Ela era tudo que eu tinha nessa vida e que foi tirado de uma forma brutal”, continuou.

Stephanie de Jesus da Silva, 24 anos, no plenário, antes de começarem audiências. (Foto: Paulo Francis)
Stephanie de Jesus da Silva, 24 anos, no plenário, antes de começarem audiências. (Foto: Paulo Francis)

Frente a frente – Stephanie, presa desde 26 de janeiro, sob acusação de estar envolvida no assassinato da filha, fica frente a frente, pela primeira vez desde a morte da criança, com cinco pessoas, na tarde desta segunda-feira (17): o investigador de polícia, Babington Roberto Vieira da Costa; o pai biológico da criança, Jean Carlos Ocampo da Rosa; o pai dela e a mãe dela, Rogério da Silva e Delziene da Silva de Jesus (avós maternos da criança); e a ex-mulher do padrasto da vítima*.

A jovem deixou presídio do interior escoltada e entrou no prédio por acesso restrito, direto para um dos plenários do Tribunal do Júri, onde serão ouvidas as testemunhas.

O caso – No dia 26 de janeiro deste ano, a menina de dois anos e sete meses deu entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino, no norte de Campo Grande, já sem vida. Inicialmente, a mãe, que foi até lá sozinha com a garota nos braços, sustentou versão de que ela havia passado mal, mas investigação médica apontou lesões pelo corpo, além de constatar que a morte havia ocorrido cerca de quatro horas antes de chegar ao local.

O atestado de óbito apontou que a menininha sofreu lesão na coluna cervical. Exame necroscópico também mostrou que a criança sofria agressões há algum tempo e tinha ruptura cicatrizada do hímen – sinal de que também sofria violência sexual.

O padrasto responde pelo homicídio com as três qualificadoras e pelo estupro, já a mãe da menina pelo homicídio, como o Christian, mesmo que não tenha agredido a filha, mas porque no entendimento do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), responsável pela acusação, ela se omitiu pelo dever de cuidar.

A morte jogou luz sob processo lento e longo que a menina protagonizou com idas frequentes à unidade de saúde – mais de 30 em 2 anos –, tentativa do pai em obter a guarda após suspeita de que a criança era vítima de agressão e provocou série de audiências públicas, protestos e mobilização para criação da Casa da Criança, bem como soluções ao falho sistema de proteção à criança e ao adolescente, problema recorrente em todo o Brasil.

(*) O nome da ex-mulher de Christian foi preservado para evitar a identificação do filho do casal, como prevê o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

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