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Capital

Regularização veio como ‘bálsamo’ para quem espera ver vila prosperar

Moradores da Vila Bordon planejam investir nos imóveis e esperam ações do poder público

Por Jéssica Fernandes | 08/04/2025 15:27
Regularização veio como ‘bálsamo’ para quem espera ver vila prosperar
Moradoras da Vila Bordon percorre uma das ruas da comunidade. (Foto: Henrique Kawaminami)

Nas últimas décadas, a promessa de regularização fundiária bateu à porta, entre uma campanha eleitoral e outra, na residência de aproximadamente 250 famílias que construíram a vida no entorno do antigo Frigorífico Bordon, hoje a JBS. O que antes parecia um sonho distante agora, enfim, se torna realidade para os moradores que, em vez dos atuais contratos de gaveta, terão a escritura da casa e do terreno onde residem.

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Moradores da Vila Bordon, em Campo Grande, finalmente terão a regularização fundiária de suas casas, após décadas de espera. Através do programa 'Lar Legal' do TJMS, cerca de 250 famílias que vivem na área do antigo Frigorífico Bordon, agora JBS, receberão as escrituras de suas propriedades. A regularização é vista como um passo crucial para melhorias na infraestrutura local, que sofre com problemas de iluminação, vias precárias e descarte irregular de resíduos. Os moradores, que enfrentaram promessas não cumpridas por anos, agora têm esperança de que a situação melhore com a segurança jurídica das escrituras.

Através do “Lar Legal”, do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), a área recebeu neste mês sinal verde para ser regularizada. A notícia chegou aos moradores após reunião do desembargador e coordenador do programa, Luiz Tadeu Barbosa, com os representantes da empresa que deram anuência para que as escrituras fossem outorgadas pelo projeto.

Localizada na saída de Aquidauana, a Vila Bordon é formada por casas de madeira, alvenaria, igrejas e uma escola. Todas, sem exceção, construídas na área particular do frigorífico que chegou à Capital por volta da década de 1970. Posteriormente, o terreno passou para a multinacional.

Regularização veio como ‘bálsamo’ para quem espera ver vila prosperar
Hoje com 62 anos, Sandra vive na área desde os 16 anos. (Foto: Henrique Kawaminami)

Três ruas principais dão rumo aos caminhos tomados diariamente por moradores, como Sandra Cristina Fonseca Campozano, de 62 anos, Adriana Dias Basques, de 41 anos, e Laurie Espíndola Riquielme, de 42 anos.

Aposentada, Sandra está ali desde a adolescência quando, na época, morava com a mãe que foi uma das primeiras a chegar na vila. “Quando vim pra cá, entrei no frigorífico para trabalhar”, recorda. Ela relata que, naquele tempo, o trabalho na empresa já garantia uma casa na vila, por isso, a regularização estava longe de ser uma preocupação. “Eles [empresa] davam documentação para você morar e depois, quando você mudava, tinha que devolver”, fala.

Mas, em algum período, esse esquema de moradia garantida por meio do vínculo empregatício parou de existir. Alguns dos moradores e ex-funcionários ficaram, outros venderam o terreno ou passaram para a geração seguinte. Esse é o caso de Adriana Dias Basques, que hoje reside na casa que pertencia aos sogros.

Regularização veio como ‘bálsamo’ para quem espera ver vila prosperar
Presidente da associação da vila, Adriana fala sobre a regularização. (Foto: Henrique Kawaminami)

O lugar também serve de associação da vila, que tem Adriana como presidente. A reivindicação da escritura, segundo ela, sobreviveu graças à persistência. “Entrou prefeito, saiu prefeito, só promessa e nada. À base de muita oração apareceu um engenheiro aqui, apresentou o Lar Legal e eu abracei”, comenta.

Até esse momento crucial, o temor dela e das outras famílias era da unidade requerer a área. Isso nunca se concretizou, mas a possibilidade causava insegurança em alguns. A presidente destaca que, a partir do momento que o TJMS atendeu à demanda, tudo mudou.

Eu tô feliz desde o dia que saí da sala. O pessoal estava desacreditado porque era só promessa e nunca acontecia. Quando ele [desembargador] abraçou a causa foi uma felicidade”, afirma.

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Laurie em frente à casa onde construiu com investimento de R$ 200 mil. (Foto: Henrique Kawaminami)

Laurie Espíndola esclarece que nem ela e os demais residentes da área conheciam o programa Lar Legal. Líder religiosa, ela comprou o terreno onde mora com os filhos há 15 anos por R$ 13 mil. No lugar da casa de madeira, ela construiu uma de alvenaria, onde investiu R$ 200 mil.

Ela admite que foi uma das primeiras a questionar a validade do programa, pois não era a primeira vez que alguém dizia que iria ajudar a vila. “Tanta gente falou e nunca aconteceu nada. A comunidade estava desacreditada. Quando veio essa oportunidade e conversamos com o desembargador foi quando deu pra gente aquele bálsamo e as coisas começaram a andar”, diz.

A regularização é o primeiro passo do que os moradores esperam ser uma escalada de melhorias para a Vila Bordon. “Vai vir muita programação e projeto eficaz através disso. Sem a regularização aqui não move nada, porque era particular da JBS”, completa Adriana.

Regularização veio como ‘bálsamo’ para quem espera ver vila prosperar
Casa de madeira é uma das que preservam construção da época do frigorífico. (Foto: Henrique Kawaminami)
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Colada na árvore, placa improvisada indica um dos nomes da rua. (Foto: Henrique Kawaminami)

Esquecidos – O lugar que é descrito como esquecido pelos próprios moradores tem três ruas principais nomeadas como Rua Brigadeiro Luiz Carlos, Comandante Elias Ferreira e Padre José Luiz. Todas de terra batida, que são atravessadas por caminhos íngremes, pedregosos ou lameados.

Junto com as moradoras, a equipe de reportagem percorreu alguns desses locais na tarde desta terça-feira (08). Conforme caminhavam, as mulheres falavam um pouco sobre a origem da vila, mostravam as casas de madeira da época do frigorífico Bordon, falavam quem eram os mais antigos que residiam e, principalmente, os problemas que enfrentam com a infraestrutura e outras questões.

Por conta da iluminação pública, Laurie diz ter feito três reclamações. “Tem mais de anos, nós não somos atendidos, não somos ouvidos”, desabafa. “Aqui quando chove fica um rio”, completa Adriana.

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Sandra, Adriana e Laurie percorream trechos da comunidade nesta manhã. (Foto: Henrique Kawaminami)

Alguns trechos de vias são tão críticos que impediram a passagem de uma ambulância. O fato é lembrado pela presidente da vila, que explica que, no dia, os moradores precisaram ajudar a levar o paciente até o veículo. Quando chove, algumas casas da comunidade têm o terreno invadido pela água e, dependendo do trecho, a coleta de lixo também não consegue chegar.

Além da questão das vias e da iluminação pública, também foi possível notar que diversos pontos estavam com mato alto, inclusive ao lado da única escola da vila, a E.E. José Ferreira Barbosa. O descarte irregular de resíduos é mais um problema escancarado da vila.

Durante o curto trajeto pela vila, as moradoras recuperam o assunto do Lar Legal. Adriana expõe que soltará fogos quando sair a regularização e já sonha com a construção da associação. Laurie se conforta em saber que terá segurança jurídica, já que passará a ter escritura da casa. E Sandra planeja fazer alguns investimentos na residência onde mora com o marido.

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Única do bairro, escola estadual fica na Rua Comandante Elias Ferreira. (Foto: Henrique Kawaminami)

A regularização fundiária abre caminho para o acesso ampliado a serviços públicos essenciais. Para os moradores, a Vila Bordon finalmente poderá sair do status de esquecida. “Nós temos a consciência de que a prefeitura esqueceu a gente, não só a atual, mas as anteriores. Agora, com o Lar Legal, eu acredito que essa parte que cabe à prefeitura vai se desenrolar mais rápido”, frisa Laurie.

Antes da regularização, a área passará por um trabalho de levantamento topográfico, que já está sendo feito. Quanto tempo isso irá demorar, os moradores não sabem, mas garantem que isso está longe de ser um problema. “Isso aí, para quem já esperou uns 50 anos, não é nada”, conclui a presidente.

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