Sem provas suficientes, Justiça livra filha de “Pedreiro Assassino” de júri
Yasmin era acusada de ajudar o pai no assassinato do comerciante José Leonel, de 62 anos
Um ano e quatro meses depois de ser presa, a Justiça entendeu que não há provas suficientes da participação de Yasmin Natasha Gonçalves Carvalho, de 21 anos, filha de Cleber de Souza Carvalho – conhecido como “Pedreiro Assassino” –, na morte do comerciante José Leonel Ferreira dos Santos, de 62 anos.
A vítima foi encontrada enterrada no quintal da própria casa, na Vila Nasser, no dia 7 de maio do ano passado. Em audiência sobre o caso realizada no começo de novembro, Cleber confessou ter assassinado o idoso e se mudado para residência dele com a família, mas inocentou a filha de participação no crime.
Na delegacia, no entanto, Yasmin afirmou ter ajudado o pai no crime. Baseado nesse depoimento, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) denunciou Cleber de Souza Carvalho, a filha Yasmin Natasha e a esposa Roselaine Tavares Gonçalves por homicídio triplamente qualificado: por motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima, além de ocultação de cadáver.
Segundo a denúncia, Yasmin invadiu a casa de José Leonel junto com o pai durante a madrugada e o ajudou a matar a vítima, enquanto ela ainda dormia, para ficar com a casa dela.
José Leonel foi morto com golpes de barra de ferro e depois, arrastado para a varanda da casa, onde foi enterrado em uma cova feita por pai e filha. Yasmin foi presa no dia 8 de maio de 2020. Cleber só foi detido no dia 15 de maio e Roselaine no dia 25, quando a denúncia do crime foi aceita pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos.
No dia 3 de novembro de 2020, o juiz substituiu a prisão preventiva de Yasmin por recolhimento noturno. A pedido da defesa, ela também passou por exame de insanidade mental. O laudo, feito pela médica psiquiatra Danúbia Sales da Mata, constatou que a jovem é inimputável, ou seja, completamente incapaz de entender o que fazia ao ajudar o pai no assassinato.
A perícia indicou que a jovem possui "retardo mental não especificado e comprometimento significativo do comportamento". Também atestou que em seu atual estado, Yasmin pode oferecer perigo, se má influenciada, devido ao "seu comportamento e dificuldade de discernimento".
Com base no laudo, a defesa tentou anular o depoimento de Yasmin na DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio), alegando que ela era incapaz de relatar o que havia acontecido. Pediu a absolvição sumária, a impronúncia, a desclassificação da ocultação de cadáver e por fim, o afastamento das qualificadoras.
Ao definir a impronúncia, ou seja, que Yasmin não seria julgada pelo homicídio no tribunal do júri, o juiz considerou que em fase judicial ela negou qualquer participação no crime e que as provas recolhidas durante a investigação eram insuficientes para afirmar que ajudou a matar José Leonel.
Além disso, o magistrado também ponderou o exame de insanidade mental, que comprovou que a ré sofre de problemas mentais e declarou o depoimento dado por ela na delegacia “frágil”. O depoimento do próprio Cleber, que isentou a filha do crime, foi levado em consideração na decisão.
“Como se sabe, os filhos mormente com deficiência mental estabelecem uma relação de estrita confiança nos seus pais, de credibilidade, de proteção, aliás são os únicos em que podem e devem confiar, de tal forma que não havia motivos para a filha, ora acusada, deixar de acompanhar o pai e a mãe a morarem numa casa até então lhe dito que foi comprada, seja pela dependência de um novo lar, seja pela dependência econômica, seja pela dependência mental e hierárquica”.
Ao impronunciar Yasmin, o juiz Aluízio Pereira dos Santos também revogou as medidas cautelares impostas a jovem e por isso, ela ganhou liberdade integralmente. A decisão foi assinada no dia 16 de setembro.
Em série – Cleber está preso desde 15 de maio, quando confessou que matava as vítimas e enterrava os corpos. O primeiro caso a vir à tona foi o de José Leonel. A partir deste caso, o pedreiro confessou ter matado mais 6 pessoas e, inclusive, indicou o local onde elas estavam enterradas.
Além de José Leonel, Cleber responde pela morte de Timótio Pontes Roman, de 62 anos, José Jesus de Souza, de 45 anos, Roberto Geraldo Clariano, de 50 anos, Hélio Taíra, 74 anos, Flávio Pereira Cece, 34 anos e Claudionor Longo Xavier, de 47 anos.