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Capital

Servidora alertou sobre “gambiarra” para libertar chefão do PCC

Investigação aponta que Divoncir já havia decidido libertar Palermo antes de pedido ser protocolado

Por Gustavo Bonotto e Anahi Zurutuza | 06/05/2024 20:44
Gabriela Soares Moraes compareceu a sede da Justiça Federal no início de abril. (Foto: Arquivo/Alex Machado)
Gabriela Soares Moraes compareceu a sede da Justiça Federal no início de abril. (Foto: Arquivo/Alex Machado)

Investigação contra o desembargador aposentado Divoncir Schreiner Maran aponta que ele decidiu conceder o habeas corpus que soltou o "chefão" do PCC (Primeiro Comando da Capital), Gerson Palermo, antes mesmo de a defesa fazer o pedido. Trechos que apontam para a decisão antecipada, além de "gambiarra", como classificou a servidora Gabriela Soares Moraes, foram destacados pela ministra do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Maria Isabel Gallotti, na decisão que remete os autos para a Justiça sul-mato-grossense.

De acordo com o despacho ao qual o Campo Grande News teve acesso, na tarde desta segunda-feira (6), o então chefe do gabinete de Divoncir havia pedido para que a servidora investigada iniciasse uma minuta de decisão que ele daria antes da distribuição processual. A investigação da PF (Polícia Federal) mostra que outro assessor do desembargador, chefe de Gabriela e que tinha acesso direto a Divoncir, guardava consigo, por exemplo, a senha única para assinar as decisões produzidas pelos servidores sob o comando do magistrado.

Ainda segundo o documento, Gabriela alertou o assessor dizendo que haveria a supressão de instância, no "juridiquês", para dar decisão favorável a Palermo. Avisou ainda que a defesa do narcotraficante alegava doenças para pedir a prisão domiciliar do cliente sem anexar laudos médicos.

A ministra pinçou na decisão trechos dos relatórios da investigação, que corre em sigilo. Um dos destaque mostra que a servidora comunicou ao chefe sobre a "gambiarra" para minutar a decisão.

"Qualquer assessor pode divergir da posição jurídica adotada por seu chefe. No caso concreto, contudo, o desembargador teve acesso à petição inicial do habeas corpus antes da sua distribuição, o que nunca havia acontecido antes. Ao que tudo indica, o investigado buscou acesso ao documento porque já sabia que seria impetrado, mesmo não havendo comprovante da doença alegada e ainda que o réu fosse multireincidente e um dos líderes do PCC", ponderou a ministra do STJ sobre os indícios contra Maran.

Além disso, a ministra lembra que, segundo a investigação, Divoncir apagou todas as mensagens trocadas com o chefe de gabinete de seu aparelho celular.

Chegada de Divoncir Maran à Justiça Federal de Campo Grande, em abril. (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)
Chegada de Divoncir Maran à Justiça Federal de Campo Grande, em abril. (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)

Suspeita de venda - Divoncir é investigado pela decisão que concedeu prisão domiciliar ao narcotraficante Gerson Palermo. Com pena de 126 anos de prisão, ele acabou fugindo. Primeiro, a legalidade da decisão passou a ser apurada pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Em 21 de abril de 2020, ainda no início da pandemia do coronavírus e feriado de Tiradentes, Palermo foi enquadrado no grupo de risco para a covid e obteve prisão domiciliar, com monitoramento eletrônico. A decisão aconteceu durante o plantão de Divoncir.

No habeas corpus, a defesa alegou que Palermo tinha mais de 60 anos, sofria de diabetes, hipertensão e por isso corria risco de contrair a covid-19 no cárcere. No dia seguinte, 22 de abril, o desembargador Jonas Hass Silva Júnior, relator do processo, revogou a liminar e restabeleceu a prisão. Oito horas após o benefício do regime domiciliar, o chefão do tráfico rompeu a tornozeleira eletrônica e desapareceu.

Palermo é piloto de avião, acumula passagens pela polícia desde 1991 e é chefe do tráfico de cocaína. O crime mais ousado foi no ano 2000, quando sequestrou um Boeing da Vasp.

Gerson Palermo é preso durante operação da Polícia Federal. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Gerson Palermo é preso durante operação da Polícia Federal. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Outro lado - O advogado de Divoncir Maran, André Borges, considerou que a decisão do STJ correta, ao enviar tudo para o foro estadual. “Divoncir está tranquilo, sabendo que os fatos serão esclarecidos. Inexistiu qualquer crime, como sempre repetido”, também afirmou.

O responsável pela defesa do desembargador diz ainda que “a investigação até agora foi confusa e recheada de suposições”. “Mas há tempo para que a verdade apareça”, completou.

(*) Matéria alterada às 17h27 do dia 7 de maio para o acréscimo do posicionamento da defesa.

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