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Capital

Um dia após a entrega das chaves, já tem morador vendendo apartamento do Canguru

Moradores só podem mudar na segunda-feira, mas alguns já começaram a negociar os imóveis

Dayene Paz e Guilherme Correia | 01/07/2022 10:39
Publicação feita pela mulher foi apagada horas depois. (Foto: Direto das Ruas)
Publicação feita pela mulher foi apagada horas depois. (Foto: Direto das Ruas)

Poucas horas depois do presidente Jair Bolsonaro inaugurar o Residencial Canguru, em Campo Grande, nesta quinta-feira (30), alguns contemplados começaram a negociar os imóveis pelo Facebook e grupos no WhatsApp. "O meu peguei a chave hoje, não gostei do lugar, faço R$ 7 mil", disse um homem.

O comentário foi em resposta a uma publicação, na qual uma mulher - que tem medo de divulgar o nome - diz que procurava um apartamento na região. "Procuro apartamento recém entregue na Catiguá". O mesmo homem que ofereceu R$ 7 mil pelo imóvel dele afirma que aceitava "qualquer coisa no rolo".

Ao Campo Grande News a mulher que procurava apartamentos na região ainda revelou que pretendia apagar o post porque era "muito arriscado". No entanto, a publicação já havia rendido dezenas de comentários e propostas. "Acabei de ganhar, faço R$ 5 mil, me ligue, preciso do dinheiro", afirma um internauta, deixando o número do telefone.

Comentários em publicação no Facebook. (Foto: Direto das Ruas)
Comentários em publicação no Facebook. (Foto: Direto das Ruas)

Outro também responde: "4,5 mil pode vir buscar a chave". Em seguida, um homem afirma que aceita moto no imóvel. "Quem tiver uma moto 150 vem no meu zap".

Por outro lado, muitas pessoas lamentaram a venda ilegal. "Eu e meu esposo estamos na fila há anos esperando a contemplação de um imóvel e tem gente que não dá valor quando tem. É triste ver isso", relatou a secretária Paula dos Santos Oliveira, de 35 anos.

A síndica do residencial, a diarista Cléa Antunes Pereira, de 38 anos, afirmou que tomou conhecimento de que alguns moradores têm anunciado a venda de apartamento no Jardim Canguru, mesmo que as mudanças só possam ser feitas na segunda-feira.

Segundo ela, é proibido transferir a titularidade, mas isso não impediu alguns beneficiários do programa Casa Verde Amarela de tentar fazer negócio. "Não esperava isso, é muito decepcionante. Ja vi muito anúncios, até de gente que eu conheço", lamentou.

Síndica Cléa Antunes Pereira conversou com a reportagem nesta manhã. (Foto: Marcos Maluf)
Síndica Cléa Antunes Pereira conversou com a reportagem nesta manhã. (Foto: Marcos Maluf)

O empreendimento faz parte do programa Casa Verde e Amarela e foi inaugurado ontem, com a presença do presidente Jair Bolsonaro. São 18 blocos de 16 apartamentos cada e um bloco de 12 moradias, totalizando 300 unidades habitacionais. O investimento é de R$ 4 milhões do governo federal e contrapartida de R$ 5 mil do Estado. A prefeitura de Campo Grande participou da elaboração do projeto, doação da área e pavimentação do acesso.

Riscos com a venda - A Amhasf (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários) afirmou que, infelizmente, essa venda ilegal ocorre bastante. "Essas pessoas vendem ou tentam vender por bem menos que o valor real de mercado, posteriormente desabrigam os próprios filhos, tornam a invadir áreas públicas, causam um novo problema social habitacional para o município resolver", lamentou a pasta.

As agências municipais e estaduais são responsáveis pelo trabalho técnico social com as famílias, ficando a responsabilidade de fiscalização para a Caixa Econômica. "Elas cumpriram o seu papel na questão da contemplação das 300 famílias nesse residencial. Esses apartamentos foram construídos com recursos do FAR (Fundo de Arrendamento Residencial) do Programa Casa Verde Amarela, antigo Minha Casa Minha Vida. O agente financeiro desse programa é a Caixa, detentora legal do empreendimento. Essas pessoas assinam contrato junto ao banco e têm total consciência do que pode acontecer no caso de venda, aluguel ou cedência no prazo de 10 anos".

A Amhasf explica que as denúncias são feitas diretamente à Caixa "que faz a fiscalização, que entra com os procedimentos jurídicos de reintegração de posse e todos os ônus que vai pesar sobre a pessoa que vendeu o imóvel". Além disso, essas pessoas nunca mais serão beneficiadas com habitação. "Elas estão inscritas no Cadmut (Cadastro Nacional de Mutuários) e se já recebeu um benefício da moradia social não pode mais receber nenhum benefício habitacional, nunca mais, em nenhum lugar do Brasil".

A Agência também destaca a questão da pessoa que compra. "Ela comprou um imóvel que não pode ser vendido, um contrato de gaveta e ela não tem a titularidade. Ela vai pagar e vai correr o risco de perder o investimento, porque se a Caixa entra com reintegração de posse, o imóvel automaticamente volta para a carteira imobiliária do banco. Então quem vende perde, quem ganha corre o risco de perder, todo mundo sai perdendo".

A Agehab (Agência de Habitação Popular de Mato Grosso do Sul) também confirmou que após a entrega, o empreendimento é de responsabilidade da CEF (Caixa Econômica Federal). A reportagem entrou em contato com a instituição questionando o risco da venda ilegal e aguarda retorno. (Colaborou Gabrielle Tavares)

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