Viagem perdida, dores sem fim e "falta de esperança" no 1º dia de greve
A viagem que começou à meia-noite e percorreu mais de 300 quilômetros entre Ponta Porã e Campo Grande terminou em frustração para a diarista Lúcia Gonçalves dos Santos, 33 anos. Ela veio à Capital para consulta com ortopedista no CEM (Centro de Especialidade Médica), mas perdeu a viagem devido à greve dos médicos. Agora, além de não ser atendida, terá que esperar até às 14h para iniciar o retorno ao lar.
“Não tinha especialista lá e me mandaram para cá”, conta a paciente, que procura solução para as dores que sente no braço após um acidente de motocicleta ocorrido em outubro do ano passado. A nova consulta só será agendada ao término da greve.
A consulta reagendada para a próxima semana soma a uma extensa lista de problemas para Lucineide Batista de Melo, 47 anos. Ela conta que o atendimento com psiquiatra foi cancelado nesta quarta-feira. “Preciso de um laudo novo para a perícia do INSS”, afirma.
Ela relata que vive um impasse, o órgão de previdência não aprova a aposentadoria por problema de saúde, mas o médico não a libera para que volte ao trabalho. Nesta situação, está desde dezembro sem salário, cenário agravado pelo desemprego do marido.
“Vou voltar para a perícia sem levar nada ao médico. Só por Deus”, diz. Contratada pela Omep (Organização Mundial para Educação Pré-Escola), ela trabalhava em Ceinf (Centro de Educação Infantil), se afastou há três anos.
O CEM, que um é representativo de uma das áreas mais delicadas da saúde, deixou de realizar quase 900 atendimentos nesse primeiro dia de greve, sendo 600 consultas com especialistas e o restante exames.
A fila por atendimento especializado na rede pública é grande. Na neurologia, a consulta já é agendada para agosto. O centro tem 100 médicos. Conforme o apurado pela reportagem, foram mantidos serviços como exames realizados por técnicos (raio-x, por exemplo), atendimento odontológico, urgências na ortopedia e consulta com psicólogos.
Funcionários do CEM estão ligando para os pacientes e alertando sobre a suspensão das consultas. O centro fica localizado na Travessa Guia Lopes.
Além do CEM, as consultas foram suspensas nas UBS (Unidade Básica de Saúde) e UBSF (Unidade Básica de Saúde da Família). De acordo com o comando de greve, os médicos vão aos locais, mas ficarão de braços cruzados. O primeiro atendimento só será feito se o estado for grave, com encaminhamento para a rede 24 horas.
Na UBS 26 de Agosto, no bairro São Francisco, uma média de 200 consultas não foram realizadas hoje e só há vagas para daqui duas semanas. De acordo com a gerente da unidade, Rita de Cássia Almeida, foram mantidos os atendimentos da enfermagem, que verifica pressão, glicemia; na área de odontologia, farmácia e aplicação de vacina. A unidade tem quatro clínicos, dois ginecologistas e um pediatra.
Urgência – Com a greve dos 1.400 médicos que atendem na rede pública municipal de saúde, os atendimentos foram mantidos nas UPAs (Unidade de Pronto Atendimento) e Centro Regional de Saúde. Mas, como apenas 30% do efetivo trabalha, a demora será maior. Os médicos querem reajuste salarial e a volta das gratificações. A prefeitura alega não ter recursos e acionou a Justiça contra a paralisação.