ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SÁBADO  23    CAMPO GRANDE 33º

Capital

Vítima de “piadas” na PM, capitão exige retratação pública da corporação

No centro da polêmica por denunciar homofobia na PM, Felipe Joseph se manifestou por nota

Anahi Zurutuza | 12/07/2021 14:16
Capitão da PMMS diz ser "orgulhosamente gay" por meio de nota assinada por advogados (Foto: Redes sociais/Reprodução)
Capitão da PMMS diz ser "orgulhosamente gay" por meio de nota assinada por advogados (Foto: Redes sociais/Reprodução)

Por receio de sofrer alguma punição por fazer parte de instituição militar, o capitão Felipe dos Santos Joseph, envolvido em discussão com superior hierárquico que acabou em prisão na semana passada, prefere não dar entrevista e se manifestou pela primeira vez sobre o assunto por meio de nota, assinada pelos advogados de defesa. O oficial da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul) revela no texto que “orgulhosamente gay”, há algum tempo, sofre preconceito dentro da corporação e quer ser retratado publicamente.

Segundo a defesa, o capitão já ouviu dos colegas todo tipo de “piada” sobre a sua condição sexual, como por exemplo, “sobre seu corte de cabelo, com sugestões de que era propício a determinadas práticas sexuais, ou que era portador de Aids (sic), dentre outras inverdades e ataques sofridos”.

No centro da polêmica, Joseph entende que o episódio da quinta-feira passada, dia 8, que terminou com ele autuado em flagrante por desobediência na Corregedoria da PM, servirá para o “amadurecimento da noção de uma polícia garantidora de direitos e cumpridora da lei, isenta de quaisquer convicções não-laicas”.

Advogado do PM, Anderson Yamada, em breve entrevista em frente à Corregedoria no fatídico dia 8 de julho (Foto: Paulo Francis/Arquivo)
Advogado do PM, Anderson Yamada, em breve entrevista em frente à Corregedoria no fatídico dia 8 de julho (Foto: Paulo Francis/Arquivo)

“O capitão Joseph segue profundamente magoado e abalado com o desfecho dos fatos, mas enxerga que esse episódio pode contribuir para o debate sobre o tipo de instituição policial que se deseja, e se coloca à disposição para participar ativamente de todos esses debates e, como sempre fez, buscará a construção de uma polícia sempre melhor”, afirmam os advogados Anderson Yukio Yamada e Saviani Guarnieri Martins Santana na nota.

Sobre o episódio - O capitão foi preso na tarde do dia 8 após por “dar as costas” para o tenente-coronel Antônio José Pereira Neto.

Segundo depoimentos dados à Corregedoria, a rivalidade entre o capitão e o tenente-coronel foi motivada por áudio considerado homofóbico em grupo de WhatsApp. O teor não foi divulgado, mas era piada de cunho pejorativo e homofóbico, relacionada à caça por Lázaro Barbosa, no interior de Goiás e havia sido repassada pelo tenente-coronel.

Homossexual dentro de uma corporação conservadora, o capitão sentiu-se ofendido, declarou sua opinião contrária, saiu do grupo e levou o caso ao MPM (Ministério Público Militar). Na quinta-feira passada, foi chamado para prestar esclarecimentos na sala do superior, supostamente sobre outros motivos, mas Joseph considerou se tratar de coação, negou dar respostas e acabou preso por desrespeitar um superior.

Segundo a nota escrita pela defesa de Felipe Joseph, “a ‘pretensa’ recusa de obediência se deu porque o capitão, educadamente, recusou-se a abordar com o investigado qualquer coisa que não estivesse nos estritos limites do serviço policial e mencionou que, se aquela coação se mantivesse, retirar-se-ia da sala”.

Os advogados explicitam ainda quer o tenente-coronel “valendo-se da sua condição funcional superior, e sob a alegação de ter uma conversa sobre serviço e sobre “a relação entre os dois”, desejava, em verdade, obter informações acerca das denúncias” feitas pelo capitão ao Ministério Público.

O oficial preso passou por audiência de custódia na manhã de sexta-feira, dia 9, e foi libertado depois que o juiz Albino Coimbra Neto considerou a prisão indevida e não homologou o flagrante. O magistrado entendeu que não houve desobediência, porque o assunto não tinha relação com o serviço militar. “Deve obediência o policial militar a assuntos de seu ofício militar, unicamente. Por isso, preenchidos os requisitos legais, deixo de homologar o auto de prisão em flagrante delito e determino o relaxamento da prisão”, registrou Coimbra Neto.

Polícia Militar - No dia da confusão no Comando-Geral, por meio de nota, a PMMS informou que "a prisão do referido oficial aconteceu em decorrência da negativa do mesmo em cumprir uma ordem legal e clara, emanada por um superior hierárquico, durante ato de serviço".

Ainda de acordo com a corporação, o artigo 163 do Código Penal Militar prevê punição para o servidor que "desobedecer a ordem do superior sobre assunto ou matéria de serviço, ou relativamente a dever imposto em lei, regulamento ou instrução".

As circunstâncias do ocorrido serão apuradas através de Inquérito Policial Militar.

Nos siga no Google Notícias