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Empregos

Mesmo proibidas, perguntas sobre filhos ainda eliminam mães que buscam emprego

Nada mudou e maternidade ainda é barreira para candidatas em processos seletivos

Por Murilo Medeiros | 16/05/2025 08:21
Mesmo proibidas, perguntas sobre filhos ainda eliminam mães que buscam emprego
Mãe com filho no colo procura oportunidade de emprego em evento da Funsat (Fundação Social do Trabalho) (Foto: Marcos Maluf)

Aos 36 anos, Adriana Chaves acordou cedo para, mais uma vez, procurar emprego ao lado da filha de 14 anos. “Hoje em dia, minha profissão é ser mãe, mas já fui vendedora, atendente de telemarketing, secretária, assistente financeira... já fui de tudo”, conta. Para ela, o maior obstáculo para sair da fila do desemprego é justamente a maternidade.

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Mães enfrentam discriminação no mercado de trabalho em Campo Grande. Mulheres relatam dificuldades em conseguir emprego após a maternidade, sendo questionadas sobre filhos e descartadas por empresas que temem imprevistos. Adriana Chaves, 36 anos, e Andressa Lanza, 24, exemplificam a situação, tendo sido demitidas após licença-maternidade e enfrentando preconceito em entrevistas. A legislação brasileira proíbe perguntas sobre maternidade, estado civil e gravidez em processos seletivos. A garantia de emprego para gestantes e mães até cinco meses após o parto é assegurada por lei, com possibilidade de reintegração ou indenização em caso de demissão injustificada. As entrevistadas relatam dificuldades financeiras e angústia por não conseguirem contribuir com o sustento familiar, demonstrando a urgência por igualdade de oportunidades no mercado de trabalho.

Nas entrevistas, Adriana percebe as portas se fecharem assim que menciona a filha, que está em acompanhamento psiquiátrico para um diagnóstico. “Quando falo que ela está em investigação de autismo, o pessoal já me descarta. O empregador pensa que vai contratar alguém que precisará sair para levar a filha ao médico ou à terapia. Um candidato homem já passa na minha frente.”

Mesmo proibidas, perguntas sobre filhos ainda eliminam mães que buscam emprego
Adriana Chaves ao lado da filha de 14 anos (Foto: Marcos Maluf)

Com o filho de apenas 1 ano e 6 meses no colo, Andressa Lanza, de 24 anos, também está em busca de uma vaga. Ela foi demitida do cargo de assistente administrativa logo após retornar da licença-maternidade. “Voltei a trabalhar, a empresa esperou o tempo e me mandou embora. Na hora da demissão, ainda escutei que imprevistos acontecem, mas precisam ser avisados com antecedência. Chamaram meu filho de imprevisto”, lamenta.

Assim como Adriana, Andressa sente que a maternidade a faz perder oportunidades de emprego. “A primeira coisa que perguntam é: você é mãe? Com quem a criança fica? Se adoecer, você vai precisar sair mais cedo? Quem vai cuidar? Ele tem pai? É todo um questionário muito maior do que se eu não tivesse filho.”

Mesmo proibidas, perguntas sobre filhos ainda eliminam mães que buscam emprego
Andressa Lanza com o filho no colo (Foto: Marcos Maluf)

Todas essas perguntas são ilegais em entrevistas de emprego no Brasil. É discriminatório questionar o estado civil, gravidez ou intenção de ter filhos. Também são proibidas perguntas sobre orientação sexual, religião, raça, etnia ou filiações políticas.

Para mulheres que já estão empregadas, a legislação garante estabilidade desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. Em caso de demissão sem justa causa nesse período, a funcionária tem direito à reintegração ou à indenização — mas, para isso, é necessário acionar a Justiça do Trabalho.

A demissão de Adriana, cujo último emprego foi como operadora de caixa, também aconteceu após uma licença. “Saí porque meu sogro estava com câncer. Fiz um acordo com a empresa para cuidar dele. Acabei perdendo o emprego... e meu sogro”, diz.

Sem trabalho há sete meses, Adriana enfrenta dificuldades para pagar as contas. “A gente sobrevive, não vive de verdade. Todo mês é um desespero quando as contas chegam e não tenho como ajudar. Fui criada para ser mãe e também auxiliar no sustento do meu lar. O sentimento é de impotência.”

Andressa compartilha da mesma angústia. Com o filho ainda bebê, ela luta todos os dias para garantir o básico. “É um sentimento de incapacidade, vulnerabilidade, desespero e, principalmente, medo. Não pode faltar nada para ele. Tenho que implorar por uma oportunidade. É muito cansativo, mas não dá para desistir. Uma hora vai dar certo.”

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