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Cidades

Gestantes brasileiras se desesperam com microcefalia associada ao zika vírus

Camila Maciel - Repórter da Agência Brasil | 12/12/2015 21:43

“Não saio de casa se não for para trabalhar. Estamos prisioneiras mesmo, porque o medo é muito grande aqui. Abri mão de tudo”, relata a policial militar pernambucana Monique Cordeiro, 27 anos, grávida de 11 semanas. Ela mora no município de Arcoverde, no sertão de Pernambuco, estado que registra o maior número de casos de microcefalia associado ao vírus Zika. Dos mais de 1,7 mil casos suspeitos, cerca de 800 são no estado. “Já tive crise de nervos, de achar que estava pintada [com manchas], sem estar. Está sendo muito difícil e a minha cidade tem muita gente doente [com sintomas de Zika]”, afirmou Monique.

Desde o fim de novembro, quando o Ministério da Saúde confirmou a relação do vírus com o aumento dos casos de malformação congênita, especialmente na Região Nordeste, Monique e grávidas de vários estados têm encarado uma gestação cheia de temores. “É meu primeiro filho e já tive um aborto há três anos, por isso é ainda maior a preocupação”, declarou. Ela lamenta que não esteja aproveitando, como gostaria, a gravidez. “São muitas notícias erradas, desencontradas, que deixam a gente com dúvidas e em pânico”, lamentou.

O uso constante de repelente, de roupas que encobrem todo o corpo, a instalação de telas contra mosquitos e a vistoria de criadouros da dengue são algumas das práticas comuns entre as mulheres entrevistadas pela Agência Brasil. No Ceará, estado que registra 40 casos suspeitos de microcefalia associada ao Zika, a analista de recursos humanos Fernanda Mendes, 34 anos, que está grávida há 17 semanas, adotou como medida principal o uso do repelente. "Comecei a ficar mais ansiosa para saber como me prevenir, buscar informações, mas também procuro não enlouquecer”, relatou.

Mas as dúvidas em relação ao uso do repelente também intrigam as gestantes. O médico Marcelo Burlá, presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro, informa que não existem estudos sobre o uso intenso e prolongado desse produto em grávidas. Por outro lado, também não há relatos de efeitos adversos em relação aos agentes químicos dos repelentes habituais. A substância que tem sido mais recomendada pelos médicos é a icaridina, cujo nível de concentração permite proteção mais prolongada. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o uso é seguro para mulheres grávidas.

Burlá orienta que o ideal é evitar o mosquito no ambiente em que se permanece a maior parte do dia, para que não seja necessário passar constantemente o repelente. “Quando sair para a rua, usar repelente e tentar, de maneira razoável, cobrir a superfície corporal o máximo possível”, sugeriu. A grande procura por repelentes fez com que a demanda no laboratório Osler, que produz a marca com icaridina no Brasil, aumentasse mais de 1000%, informou Paulo Guerra, diretor-geral da empresa. “Tínhamos a substância em estoque, mas fizemos adaptações. Como o produto é importado e trazíamos de navio, agora estamos trazendo semanalmente de avião”, acrescentou.

Apesar disso, algumas farmácias têm adotado estratégias para garantir a distribuição do produto, como lista de espera e limite de compra por cliente. “Estava procurando o Exposis, que todo mundo fala que é o que tem maior tempo de duração, mas aqui em Fortaleza ele praticamente esgotou em todos os lugares em que procurei. Deixei meu nome em uma loja e consegui comprar um frasco”, relatou.

Jacqueline Oliveira é vendedora em uma farmácia na capital paulista e também confirma a falta do produto. “Está com lista de espera. Não tem mais em lugar nenhum”. Nesta semana, o Ministério da Saúde anunciou que negocia parceria com o Exército para produzir repelente.

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