Tráfico adota tática do contrabando para escoar cocaína em cargas de minério
Delegado aposentado da PF, Edgar Marcon, lembra que método é antigo na fronteira
O uso de cargas de minério para transportar cocaína a partir de Corumbá voltou ao centro do debate sobre segurança na fronteira. O delegado aposentado da Polícia Federal, Edgar Marcon, repercutiu as apreensões recentes e destacou que a estratégia, embora tenha voltado a ganhar força, não é nova — trata-se de um método já observado pela PF em décadas anteriores.
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O tráfico de drogas na fronteira de Corumbá tem utilizado cargas de minério para transportar cocaína, uma tática antiga que ganhou nova força. Segundo o delegado aposentado da Polícia Federal, Edgar Marcon, cerca de 600 caminhões carregados de minério deixam a cidade diariamente, criando oportunidades para o crime organizado. Nos últimos 30 dias, três carregamentos de cocaína foram apreendidos em meio a cargas de minério. A estratégia se assemelha ao "cavalo doido", método do contrabando que satura a fiscalização com múltiplos veículos. Marcon defende que apenas investimentos em tecnologia e sistemas integrados de inteligência podem combater efetivamente esse cenário.
Marcon lembra que, no período em que o escoamento de minério era majoritariamente ferroviário, sacolas com cocaína eram simplesmente depositadas sobre a carga, sem ocultação complexa. A retirada era feita no destino final, com facilidade e baixo custo para as organizações criminosas.
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Com a mudança logística na região e a redução do fluxo de trens, o transporte rodoviário passou a dominar. Hoje, cerca de 600 caminhões por dia deixam Corumbá carregados de minério. Para o delegado, o crime apenas se adaptou ao novo cenário, mantendo a mesma lógica operacional.
“É a repetição de um esquema antigo, agora com maior agilidade e menor custo”, analisa.
Nos últimos 30 dias, três carregamentos de cocaína ocultados em cargas de minério foram apreendidos em fiscalizações realizadas pelas forças de segurança.
Segundo Marcon, a prática se aproxima da tática do contrabando conhecida como “cavalo doido” ou “bonde do contrabando”, quando vários veículos são lançados simultaneamente para saturar a fiscalização e aumentar as chances de sucesso das cargas ilícitas.
O delegado reforça que o volume crescente de caminhões, aliado à capacidade limitada de inspeção, cria brechas para que criminosos utilizem meios legais para fins ilícitos. Ele defende que apenas investimentos robustos em tecnologia de varredura, monitoramento eletrônico e sistemas integrados de inteligência podem reduzir o espaço de atuação das organizações criminosas, hoje favorecidas pela agilidade do transporte rodoviário e pela dificuldade de fiscalizar cada carga que deixa a região.
Para Marcon, as apreensões recentes reforçam que a logística criminosa continua em evolução e que a fronteira precisa acompanhar esse ritmo. Ele destaca que a tecnologia é hoje o principal gargalo: scanners, sistemas de monitoramento e inspeção remota ainda são insuficientes diante do volume de cargas que deixam diariamente Corumbá.
“O crime se adapta rápido e usa o fluxo comercial legal a seu favor. Sem investimento pesado em inteligência, integração e tecnologia, a fiscalização continuará trabalhando no limite”, pontua o delegado aposentado.
Marcon também alerta que o fenômeno não se restringe a Corumbá. A combinação entre alto fluxo de cargas, pouca capacidade de inspeção e rotas fronteiriças extensas permite que organizações criminosas utilizem a mesma lógica em outros corredores logísticos do Centro-Oeste.
Apesar das limitações estruturais, as apreensões dos últimos dias mostram que as equipes de fiscalização conseguem resultados importantes. “É um jogo permanente de adaptação. Cada operação bem-sucedida é importante, mas o cenário exige respostas mais amplas”, finaliza.


