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Em Pauta

Kiki escrevia seu nome a bala no teto de zinco

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 05/08/2025 06:40
Kiki escrevia seu nome a bala no teto de zinco

Deitado de costas na rede escrevia suas iniciais, ou seu apelido, a bala, no zinco da coberta da casa. Frequentava os rodeios de toda a vizinhança na Vacaria, bom ginete, dominava pela força atlética. A sua força e coragem assombravam. Sempre bem arrumado, limpo e penteado, fazia diferença no começo do século passado. Aos vinte anos conquistava todo mundo com sua constante alegria. Era malicioso no jogo de baralho. Verdadeiro líder, amigo dos grandes e dos pequenos. O filósofo da fazenda Passatempo, nunca teve preguiça e era desprovido de ambição. Excelente amigo e mau inimigo, nobre e cavalheiro, nunca atacou pelas costas, até mesmo os animais.


Kiki escrevia seu nome a bala no teto de zinco

Ajudou o inglês.

O inglês que governava a fazenda Capão Bonito entregou alguns potros aos domadores, dois paraguaios preguiçosos para amansar. Ao invés de cumprir o contratado, devolveram os equinos no mesmo estado original. Ele, vendo aquilo, teve dó do inglês e procurou se divertir. Propôs amansar dez cavalos sem nada cobrar. Entregou-os mansos e obedientes.


Kiki escrevia seu nome a bala no teto de zinco

De pecuarista a ervateiro.

Enamorou-se de uma linda moça da região e casou-se com ela. Construiu um belo recanto próximo ao regato Arara. Só teve ambição quando nasceram dois filhos. Buscou no vizinho Paraguai um contingente de ervateiros práticos e levantou um aldeamento entre o rio Brilhante e o Vacaria. Oitenta homens muita erva fizeram. Teve boa aceitação no mercado de Buenos Aires. Enriqueceu o moço. Gastou desbragadamente, chegou a acender cigarro com cédulas, mas trouxe muito dinheiro para os homens que com ele trabalhavam.


Kiki escrevia seu nome a bala no teto de zinco

A Coluna Prestes.

Foi o Mato Grosso do Sul região de passagem da Coluna Prestes. Os fazendeiros da Vacaria tremeram até os alicerces. Ninguém se achava forte para enfrentá-los. Eram 1.800 soldados afeitos à luta e bem armados. Foi enviado de C.Grande um contingente de 300 homens para lhes barrar o caminho, comandados por um capitão do Exército e seis tenentes, mas tiveram medo dada a inferioridade em homens. Pediram ajuda aos civis da Vacaria. Todos recuaram, menos aquele moço que pulou à frente. Comandou trinta amigos para explorar as manobras da Coluna. Observou a cavalaria e a infantaria. Deduziu da munição e planejou um ataque. Voltou rápido ao capitão, conferenciou com ele e arrancou-lhe a promessa de que iria dar combate. Voltou a encontrar seus amigo e provocou os da Coluna. Arriscou a vida durante 24 horas em mais de dez vezes. O capitão não veio, a diferença de soldados o atemorizava. O moço gravou seu nome na história da Vacaria: Kiki. Um filho dos Barbosa.

 

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