Odisseia de 1.888: uma viagem em carroça de Nioaque ao Paraguai
Ano de 1.888. Duas regiões lideram um pequeno surto de prosperidade no Mato Grosso do Sul: Nioaque e a Vacaria (a girante zona entre Jardim e N.Andradina). Para ambas, convergem as atenções de todos: homens de negócio, curiosos e aventureiros. Nioaque, principalmente, se apresentava como a terra da esperança. Da vilota histórica muito se falava por terras distantes. E foi de Jataí, no Paraná, que um moço elaborou planos, consultou a mãe e o sobrinho e decidiu com firmeza: mudaria para esse lugar distante. Vencendo duríssima rota por rios, matas, campos e vales, enfrentando os rigores do sol abrasador e as tempestades, chegaram a Nioaque. Tinham algumas moedas de prata. Era gente amável, sempre prontos a socorrer algum vizinho.
O comerciante na estrada.
Comprou uma carreta. Selecionou bois. Contratou um auxiliar paraguaio. Tangendo uma pequena boiada mansa, deixou a velha mãe chorosa e o sobrinho. Partiu com destino a Concepción, no Paraguai. A ideia era trocar o gado por sal, arame, querosene, ferragem, tecidos, açúcar, pólvora, chumbo e algum remédio.
O difícil itinerário.
Era uma odisseia. Tinha de passar por Canindé, Jardim, Cerrito, Santa Vitória, Piripucu, Machorra e Bela Vista. Penetrando o solo guarani, embicava na Estrada Real do Paraguai. Coisa de sessenta, oitenta e até cento e vinte dias de viagem. Só de ida.
Como transpor rios.
Às vezes, davam em um rio. Era preciso transpô-lo. Varavam a carga em uma pelota. Depois cruzariam a carreta. E o que era uma “pelota”? Um couro dobrado nas extremidades formando uma especie de saco. Dentro, colocavam os pertences. Jogada na água, era puxada, da margem oposta, por meio de um laço ou arame que o nadador havia conduzido. E a carreta? Tarefa mais difícil. Dentro da carreta sempre ia um bote. Era lançado na água. Do outro lado, os bois que a nado haviam atingido chão firme, puxavam-na com o auxilio de um cabo feito de arame grosso. Muitas rodavam com boi e tudo. Seria um desastre. Perigosa viagem.
O retorno do paraguaio fingido.
Após atravessar um rio, o paraguaio disse que estava arrebentando. Precisava retornar para procurar um médico. O paranaense deu-lhe seu cavalo, o único que dispunha. Extremo sacrifício. Meses depois, o paranaense retorna a Nioaque. Não encontrou sua mãe e nem o sobrinho. O paraguaio havia dito a eles que o filho estava enfraquecido e quase morrendo na estrada. Pediu que levasse as moedas de prata para pagar algum doutor. O paranaense nunca mais encontrou a mãe e o sobrinho, apesar de ter vasculhado todos os caminhos. As moedas de prata e a ganância do paraguaio mataram ambos.
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