Atum vira espetáculo em cerimônia japonesa que a Capital aprendeu a apreciar
Última edição do ano do ritual Kaitai no Imakay traz chef de São Paulo e menu em seis passos

Campo Grande já se acostumou a ver salmão em tudo: no rodízio, no festival, no delivery da madrugada. O que ainda causa espanto é ver um atum inteiro entrar no salão como protagonista de show. É exatamente isso que o Imakay faz na Cerimônia Kaitai, ritual japonês que ganhou edição sul-mato-grossense e, a cada cerimônia, transforma o jantar em aula, leilão imaginário e experiência de alta gastronomia ao mesmo tempo.
Na próxima quarta-feira (3), às 19h30, o restaurante realiza a última Cerimônia Kaitai de 2025 em Campo Grande, com menu fechado de seis passos a R$ 297 por pessoa e presença do chef Neto Fonseca, responsável hoje pela casa de São Paulo.
A noite encerra o calendário do ano, mas também resume o momento do Imakay: um japonês moderno, autoral, que trocou a lógica do rodízio pela ideia de provar, entender e conversar sobre o que está no prato.
O “boi do mar” no meio do salão
Inspirado nos mercados de peixe de Tóquio, o ritual começa com o atum inteiro disposto diante dos clientes. O peixe, que pode chegar a dezenas de quilos, é apresentado corte a corte. Ricardo Merjan, um dos sócios do Imakay, gosta de lembrar que os japoneses tratam o atum como “rei dos mares” e, pela quantidade e variedade de partes, ele acaba sendo quase um “boi do mar”.
Enquanto facas deslizam pela carne vermelha, a equipe explica diferenças entre akami (parte mais magra), chutoro (gordura intermediária) e otoro (fatias mais nobres), além de cortes menos óbvios, como o colar, quase desconhecido do público brasileiro. Entre uma sequência e outra, o público descobre detalhes de origem, métodos de pesca, controle de qualidade e rastreabilidade do peixe. Cada exemplar chega com registro próprio, espécie de CPF marítimo, que permite saber quando foi capturado e processado.
Não é um truque de marketing, é um tempo inteiro dedicado a olhar para o ingrediente com atenção. Segundo Ricardo, a cerimônia dura em média de 40 a 60 minutos, dependendo do tamanho do peixe e da interação com os convidados, e é sempre seguida por um menu degustação criado exclusivamente para a ocasião.
Menu de seis passos e liberdade criativa
Quando o show do corte termina, começa outro espetáculo, mais silencioso: o menu Kaitai. São seis tempos, incluindo sobremesa, todos pensados para mostrar a versatilidade do atum. Em vez de repetir sashimi do início ao fim, os chefs brincam com texturas e técnicas: atum curado, crudo, versões quentes, combinações com parrilla, molhos mais gordos ou mais ácidos. Sushi e sashimi aparecem, claro, mas como parte de uma narrativa, não como único destino possível.
“É o momento em que a nossa equipe tem mais liberdade criativa”, resume Ricardo. No dia a dia, o cardápio precisa atender à expectativa de quem já chega com a ideia formada do que é um restaurante japonês. No Kaitai, o público se dispõe a experimentar e abre espaço para preparos que raramente entram em menu fixo. Desde que o projeto nasceu, há quatro anos, já foram abertas mais de duas toneladas de atum entre Campo Grande e São Paulo, com edições realizadas, em média, a cada três meses por aqui.
Do salão para eventos: o Kaitai que viaja
O sucesso da cerimônia dentro do restaurante fez o projeto ganhar um braço externo. Em São Paulo, o “Kaitai em Casa” já virou atração para empresas e anfitriões que querem impressionar convidados com algo além do coquetel padrão. A equipe leva o atum, a bancada e o menu degustação para condomínios, sedes corporativas e espaços de eventos, recriando a experiência fora do salão.
O Kaitai em casa já está atendendo em Campo Grande. Para quem organiza convenções, lançamentos de produtos ou encontros fechados, é a chance de transformar o jantar em pauta de conversa por muito tempo depois do brinde final.
Maré do Imakay: fim de semana com cheiro de praia
Se o Kaitai mira o público disposto a mergulhar no universo do atum, o projeto Maré do Imakay atende outro perfil: o almoço de fim de semana em família. A cidade costuma associar sábado e domingo a churrascaria, cantina ou pratos de carne vermelha farta. O japonês, por mais popular que seja, ainda é visto como programa de casal ou de grupo de amigos.
Para mudar esse roteiro, o Imakay criou um cardápio paralelo que começa na sexta-feira à noite e segue no sábado e domingo, no almoço e jantar. A lógica é simples: trabalhar com uma lista rotativa de produtos do mar que raramente chegam a cidade, sempre frescos, e transformá-los em pratos compartilháveis.
Um fim de semana pode ter ostras, mexilhões e peixe inteiro assado na parrilla; outro, camarão carabineiro enorme, camarão tigre e king crab. Nada é igual por muito tempo, porque o cardápio acompanha a sazonalidade e o que chega com melhor qualidade do mar. Em vez de porções individuais, a cozinha monta travessas para três ou quatro pessoas, com acompanhamentos que remetem à mesa de praia: arroz do mar, farofa de jamón de atum, croquetas de salmão e outros desdobramentos do mesmo mar.
É a intenção de trazer o clima de litoral para uma casa sofisticada da Rua Espírito Santo, sem forçar a barra com decoração temática, mas com foco no que realmente importa: o que vem da grelha para o centro da mesa.
Um japonês moderno em casa antiga
Aberto há 11 anos em Campo Grande, o Imakay ocupa o que já foi uma residência imponente, com mil metros de terreno e cerca de 600 metros de área construída. A estrutura de casa ainda se percebe na divisão dos ambientes, mas o projeto arquitetônico transformou salas em salão, quintal em espelho d’água e garagem em cave.
É nesse subsolo, escondido sob o espelho d’água, que fica a sala privativa para eventos. O espaço, chamado de Cave, recebe de 30 a 35 pessoas com conforto, mas pode ser adaptado para até cerca de 50 convidados, dependendo do layout. Ali a casa concentra boa parte dos eventos corporativos, jantares de celebração e aniversários com DJ e menu volante.
Para grupos, o restaurante costuma sugerir cardápio fechado de três passos, entrada, principal e sobremesa, mas pode ser ajustada conforme a proposta de cada empresa ou anfitrião. A vantagem da Cave é óbvia: música mais alta, discursos, brindes e fotos sem interferir na rotina de quem está no salão principal.
Almoço executivo: porta de entrada para quem só conhece rodízio
Numa cidade acostumada a perguntar primeiro “tem rodízio?” e depois “o que vocês servem?”, o Imakay se posiciona de forma quase contraintuitiva. A casa não trabalha com festival e já se acostumou a responder dezenas de vezes por dia que a proposta é à la carte, com foco em qualidade e não em volume.
Para aproximar esse público, o almoço executivo de segunda a sexta virou uma espécie de cartão de visitas. A partir de R$ 88, o cliente escolhe entrada, prato principal e sobremesa. É a chance de conhecer o ambiente, entender a cozinha autoral e perceber que, no fim das contas, a conta não fica tão distante de um rodízio mais caro da cidade.
Quem não come peixe encontra opções de pratos quentes, pensados justamente para que mesas mistas, com amantes de sushi e resistentes a frutos do mar, possam almoçar juntas sem conflito de cardápio.
Cozinha autoral, sem exageros
Na definição de Ricardo Merjan, o Imakay é “um restaurante japonês moderno”. Isso significa que a casa mantém um pé firme na tradição, especialmente no balcão, onde o omakase, batizado de Experiência Imakay, segue o ritual de deixar tudo nas mãos do chef, e outro na criação de pratos autorais.
Essa autoria não passa por invenções espalhafatosas ou puramente insta gramáveis. A inovação, aqui, nasce do encontro entre técnicas japonesas e ingredientes frescos, muitas vezes locais. Foi assim com a introdução de pescados como vieira, ouriço-do-mar e enguia de água doce, que aos poucos foram ganhando espaço no gosto de clientes curiosos.
Ao longo da última década, o restaurante viu pratos saírem de sua cozinha e reaparecerem em menus de outras casas da cidade, sinal de que o que acontece naquela bancada vira tendência. Ao mesmo tempo, escuta de clientes viajados comparações com restaurantes de grandes capitais brasileiras e até de Nova York.
Um convite a comer com atenção
Para quem está disposto a trocar a lógica do conhecer mais da culinária milenar japonesa pela experiência de acompanhar um atum ser aberto diante dos olhos, a próxima quarta-feira promete ser um bom ponto de partida. Depois do último leilão imaginário de 2025, o ano segue com finais de semana em maré alta e uma casa que, há 11 anos, insiste em lembrar que gastronomia japonesa vai muito além do salmão no festival.
Cerimônia Kaitai do Imakay
- Data: quarta-feira, 3 de dezembro, às 19h30
- Local: Imakay, Rua Espírito Santo, 568, Jardim dos Estados
- Menu Kaitai: 6 passos – R$ 297 por pessoa
- Reservas: (67) 99904-5317 (Clique aqui)
- Almoço executivo: de segunda a sexta, a partir das 11h30, com menus a partir de R$ 88.
Acompanhe todas as novidades no Instagram.




