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Economia

Com direitos garantidos, empregadas domésticas lutam por independência

Mariana Castelar | 08/03/2016 08:23
Com dois de seus três filhos, Gleicir  se diz satisfeita em vê-los educados e bem criados. (Fotos: Alan Nantes)
Com dois de seus três filhos, Gleicir se diz satisfeita em vê-los educados e bem criados. (Fotos: Alan Nantes)

“Uma amiga comentou que conhecia uma pessoa que precisava de alguém para cuidar do filho, e eu fui. Tinha 16 anos e queria minha independência financeira”, é assim que Gleicir da Silva Rodrigues começa a contar a sua história. Hoje aos 40 anos, ela lembra que a vida não era fácil como empregada doméstica.

Sem qualquer direito trabalhista, separada e tendo que sustentar sozinha seus três filhos pequenos, torcia para que ela ou as crianças não ficassem doentes.

“Se algo acontecesse comigo, como um acidente não tinha direito a nada porque naquela época a gente trabalhava para receber só o salário, não havia seguro contra acidente ou algum outro benefício”.

Depois dos 30 anos, ela realizou um de seus sonhos e concluiu os estudos. (Fotos: Alan Nantes)
Depois dos 30 anos, ela realizou um de seus sonhos e concluiu os estudos. (Fotos: Alan Nantes)

Além desta dificuldade, ainda tinha de encarar o preconceito de ser separada. “Lembro que chegava sozinha com meus filhos em um evento e as pessoas me olhavam e me tratavam diferente”

Vinte anos se passaram, nesse tempo os empregados domésticos conquistaram vários benefícios e hoje são tratados como um trabalhador, com direito a carteira assinada, férias e décimo-terceiro. Além disso, as mulheres tem mais espaço na sociedade, com ou sem marido. Neste 8 de março, Gleicir afirma que "tudo está melhor".

“Hoje a mulher não precisa ter marido ou se casar. E se ela quiser casar e se separar, ela pode. Temos força e podemos ter mais coragem. Enfrentei muitas barreiras, mas consegui vencer boa parte delas", destaca.

Gleicir continua trabalhando como babá e conta com orgulho como conseguiu em meio a tantos preconceitos da época criar e sustentar, seus três filhos sozinha, que hoje são os maiores orgulhos da sua vida.

“Trabalhando como babá por mais de 20 anos consegui sustentar e criar meus filhos sozinhas. Hoje trabalho registrada e sempre tive a sorte de ter bons patrões. Meus filhos só foram atrás de emprego depois que fizeram 18 anos. Queria que estudassem e tivessem uma oportunidade melhor do que a minha. Me orgulho muito de falar isso”.

Mesmo com trabalho registrado, Val faz diversos bicos para aumentar a renda. (Fotos: Alan Nantes)
Mesmo com trabalho registrado, Val faz diversos bicos para aumentar a renda. (Fotos: Alan Nantes)

Conquista - A história de Vanilza Marcelina Leonel é parecida. Separada há cinco anos depois de um casamento de 26, a empregada doméstica resolveu colocar um ponto final em sua submissão que durou quase que uma vida toda.

Chamada de Val pelos amigos, começou a trabalhar aos 13 anos para parar de pedir dinheiro aos pais. Sem terminar a escola por não ter noção da falta quer faria futuramente, ela sempre trabalhou como atendente em diversos segmentos.

“Meu primeiro emprego foi trabalhar como recepcionista de um médico, depois trabalhei em imobiliária e comércio. O tempo foi passando e com a idade ficou cada vez mais difícil de arrumar emprego”.

Cozinheira de mão cheia, ela auxiliou por muito tempo a tia que tinha um restaurante de beira de estrada, mas este dom acabou ajudando quando ficou desempregada. Já separada e precisando estabilizar sua casa que estava um caos por conta da saída do marido, ela vivia de bicos.

“Sem terminar os estudos e com a idade mais avançada, as oportunidades de emprego foram se fechando pra mim”. Poucos meses depois, por indicação de sua ex-cunhada, ela conseguiu a chance de trabalhar como empregada doméstica na casa de um advogado trabalhista.

“Não pensei duas vezes e agarrei na hora. Trabalho meio período, ganho R$ 850, além de todos os meus direitos. Estou muito satisfeita porque hoje posso tirar férias tranquilamente, sem achar que serei demitida por aproveitar de um direito meu”.

Mãe de dois filhos, Val consegue pagar as contas de casa e se diz satisfeita de ter mudado de profissão. No Dia Internacional da Mulher, ela afirma que há muito que se comemorar.

“Antes tinha até vergonha de falar que sou trabalhadora doméstica. Mas, hoje não tenho o menor problema em falar porque temos os mesmos direitos que qualquer outro trabalhador. E os direitos trabalhistas conquistados para empregada doméstica como o FGTS, carteira assinada e férias deu mais independência às mulheres que trabalham nesta profissão. Hoje há muitas mulheres domésticas que sustentam seus lares e sinto honrada em ser uma delas”.

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