Rota Bioceânica deve dobrar integração do comércio na América do Sul
Obra promete transformar a logística e elevar participação do continente em seu próprio comércio

A América do Sul, um dos continentes menos integrado comercialmente do mundo, poderá viver uma transformação com a consolidação da Rota Bioceânica. A previsão foi feita nesta quarta-feira (3) pela ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), durante a Rodada de Negócios Brasil–Chile, realizada na sede da Fiems (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul), em Campo Grande.
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A Rota Bioceânica, que conectará o Brasil ao Oceano Pacífico via Paraguai e Argentina, promete transformar o cenário comercial da América do Sul. Atualmente, apenas 15% do comércio do continente ocorre entre países sul-americanos, índice bem abaixo de regiões como Europa e Ásia. A expectativa é que, em oito anos, a rota dobre a integração comercial, impulsionada por melhorias na infraestrutura logística e na cooperação política entre os países envolvidos. A iniciativa, que reduzirá em até 12 dias o tempo de exportação para a Ásia, já mostra impactos positivos, como o aumento das transações entre Mato Grosso do Sul e o Chile. Governos e setor privado destacam a necessidade de desburocratização e investimentos para garantir a eficiência da rota. Com a consolidação do projeto, a América do Sul poderá superar sua histórica desconexão comercial e ampliar sua participação no mercado global.
Segundo a ministra, a rota, que ligará o Brasil ao Oceano Pacífico, deve dobrar a participação da América do Sul em seu próprio comércio em até oito anos, aproximando o continente de índices já alcançados por regiões mais integradas, como a Europa e a Ásia.
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Hoje, apenas 15% do comércio da América do Sul ocorre entre países do próprio continente. Em comparação, a Europa atinge 62%, a Ásia 58%, a América do Norte 40%, e a África 13%, segundo dados apresentados no evento. A Oceania aparece na última posição, com apenas 4%.
“Sempre ouvimos que a América do Sul é o continente que menos comercializa entre si. Isso é verdade, mas havia uma razão: faltava logística. Não tínhamos rodovias estruturadas, pontes, alfândegas integradas, segurança de fronteiras nem malha aérea suficiente. Agora, com a Rota Bioceânica e outras cinco rotas planejadas, essas condições estão sendo criadas. Nossa expectativa é que, até 2027, quando pelo menos três dessas rotas estarão prontas, já possamos ver os primeiros resultados. Em oito anos, podemos dobrar a balança comercial entre os países sul-americanos”, afirmou Simone Tebet.
A ministra destacou ainda a importância da vontade política dos governos para que a rota se torne realidade. “Hoje temos um governo no Brasil voltado para a América do Sul, um governo no Paraguai com posição ideológica distinta, assim como na Argentina, e no Chile uma sintonia maior. Mas, apesar das diferenças, existe uma sinergia e uma disposição comum para avançarmos. Isso é fundamental”, reforçou.
A Rota Bioceânica prevê a interligação do Mato Grosso do Sul, via Paraguai e Argentina, até os portos do norte do Chile, reduzindo em milhares de quilômetros a distância para exportação a países asiáticos. A via permitirá que cargas brasileiras cheguem ao Pacífico em até 12 dias a menos em relação às rotas tradicionais pelo Atlântico.
O governador Eduardo Riedel (PP) destacou que o estado já sente os efeitos iniciais da aproximação comercial. “Somente no ano passado, exportamos US$ 210 milhões para o Chile e importamos US$ 197 milhões. Esses números tendem a crescer exponencialmente. A rota não será importante apenas para o comércio com o Chile, mas também para ampliar relações com a Argentina, o Paraguai e outros mercados. Quando estivemos em missão pela Ásia, ouvimos grande interesse de vários países. Isso mostra que o Mato Grosso do Sul será um grande protagonista nesse processo”, afirmou Riedel.
A prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), reforçou o impacto local. “Estamos presenciando a concretização de um projeto histórico. A união de esforços entre governo federal, estadual e municípios fortalece o ambiente de negócios, estimula novos investimentos e abre oportunidades inéditas para empresários locais. Para Campo Grande, isso significa desenvolvimento, empregos e crescimento sustentável.”
O setor empresarial também vê a rota como oportunidade única de integração econômica. Para Sérgio Longen, presidente da Fiems, a iniciativa privada já considera a Rota Bioceânica uma realidade.
“A integração começou. Agora precisamos vencer os gargalos. O maior deles é a burocracia, muitas vezes criada pelo próprio Brasil, especialmente pela Receita Federal. Se quisermos que a rota seja competitiva, precisamos desburocratizar e simplificar processos. A rota não pode ser apenas um sonho; ela deve ser ágil, segura e eficiente para transformar de fato a logística e abrir espaço para a internacionalização das nossas empresas”, afirmou Longen.
Se confirmadas as projeções do governo federal, a América do Sul deixará de ser o continente com menor taxa de comércio intrarregional e poderá duplicar a circulação de mercadorias entre países vizinhos até 2033.