Entre dragões e guerreiros esquecidos, guia fala de lendas em trilhas do Paxixi
Guia de Aquidauana mistura saberes indígenas e cultura local em percursos cheios de memória e encanto
Encantado desde criança pelas histórias e belezas de Aquidauana, no Pantanal de Mato Grosso do Sul, o professor de História Rubens dos Santos, de 37 anos, transformou o Morro do Paxixi, no distrito de Camisão, em palco de memória e encanto. Há oito anos, ele guia viajantes em passeios que unem vistas exuberantes a relatos de guerra e lendas que atravessam gerações.
RESUMO
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O Morro do Paxixi, localizado no distrito de Camisão, em Aquidauana, Mato Grosso do Sul, é um importante destino turístico guiado pelo professor de História Rubens dos Santos. Há oito anos, ele oferece passeios que combinam a beleza natural da região com relatos históricos e lendas locais, como a do Dragão dos Ventos, Tairandá. As trilhas do morro, que já foram sagradas para os povos originários, revelam a rica cultura pantaneira e a história da Guerra do Paraguai. Com o aumento do fluxo de visitantes, o Paxixi se destaca no ecoturismo, embora Rubens ressalte a necessidade de preservar o valor cultural e ambiental do local enquanto busca melhorias na infraestrutura.
Nascido em Aquidauana, Rubens cresceu ouvindo os causos do lugar e sempre gostou de aprender com os mais velhos. Desde menino, costumava percorrer o morro de bicicleta, explorando trilhas conhecidas e descobrindo novos caminhos.
A vivência ao ar livre despertou nele a vontade de compartilhar a riqueza natural e cultural da região.
“Eu pedalava por vários lugares e sempre mostrava aos amigos cenários de muita beleza natural. Com os incentivos que recebi, tive a ideia de me tornar guia e iniciar um trabalho com ecoturismo e atividades ligadas à natureza”, afirma.
Essa experiência e as memórias guardadas desde a infância são, hoje, os grandes atrativos das trilhas que ele conduz. Na voz dele, os percursos ganham vida ao misturar realidade e imaginação em uma experiência sensorial que envolve sons, aromas, texturas e histórias. A cada parada, mirantes panorâmicos, gastronomia local e muitos relatos revelam um pedaço da cultura pantaneira.
Rubens lembra que, antes mesmo da chegada dos europeus, o Paxixi já era considerado sagrado pelos povos originários. Em tupi-guarani, o nome significa “Morro que chora”. Segundo a tradição, as lágrimas dos deuses teriam dado origem às nascentes que brotam na região.
Trilha encantada
“A trilha começa em silêncio. Adentramos a mata como quem pede licença. Os galhos sussurram histórias antigas, e o chão úmido guarda os passos de quem veio antes”, afirma Rubens ao contar como começa o passeio.
O guia explica que, a cada trecho da trilha, o morro se revela, ora entre as folhas, ora imponente sob clarões de luz.
“Logo, os paredões de pedra surgem, gigantes silenciosos aos pés do morro, e é ali que o tempo começa a se desdobrar”, complementa.
O caminho segue até a Caverna do Guerreiro Esquecido, onde um pequeno fogão moldado nas pedras guarda a memória de alguém que, tempos atrás, buscou abrigo durante a Guerra do Paraguai.

As lendas do Morro
Entre névoas e silêncio, o guia conta a história de Tairandá, o Dragão dos Ventos. Diz a lenda que ele era guardião dos ciclos da natureza e que seu corpo era feito de nuvens e pedra.
“Não era uma fera de destruição, mas um protetor. Soprava chuvas, orientava ventos e descansava entre as pedras quando a harmonia estava preservada. Ao ver o respeito à terra, Tairandá se projetou na rocha, e sua cabeça virou pedra viva voltada para o horizonte”, afirma Rubens, ao ressaltar que o Dragão dos Ventos ainda permanece ali em vigília.
Entre as pedras, há também uma fenda triangular que, conforme o guia, era tida como o olho do morro sagrado. Conhecida como Fenda Olho do Morro, era vista como um portal de conexão entre a terra e o céu.
No passeio, Rubens guia os visitantes também até a Caverna do Coração da Montanha, onde muitos relatam sentir uma energia renovadora, e à Caverna do Guerreiro Esquecido, lembrança silenciosa de um homem anônimo que teria buscado abrigo ali durante a guerra.
Entre história e natureza
De acordo com o guia, o Paxixi também guarda memórias da Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), a famosa Guerra do Paraguai, quando serviu como ponto estratégico e refúgio. Seus mirantes eram utilizados para observação devido à visão panorâmica da região. Com seus paredões e nascentes, o local serviu também de abrigo para moradores e de esconderijo para fugitivos da guerra.
Turismo e sustentabilidade
O fluxo de visitantes no morro tem crescido a cada ano e, hoje, o local é reconhecido como um dos principais pontos turísticos de Mato Grosso do Sul. Com trilhas sinalizadas, miradouros e serviços de apoio, o Paxixi começa a se consolidar como referência no ecoturismo regional.
Para Rubens, ainda há desafios, como melhorar o acesso, ampliar a infraestrutura e fortalecer a consciência ambiental.
“O turismo precisa crescer sem apagar o valor cultural e natural do morro”, reforça.
Para saber mais sobre a trilha, basta acessar @trilha_paxixi.
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