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Economia

Sem dinheiro para aluguel, Correios fecham mais uma agência em Campo Grande

Unidade da Mascarenhas de Moraes será desativada em breve; dívidas e perda se acumulam: concursados no limbo

Por Viviane Monteiro, de Brasília | 04/12/2025 13:33
Sem dinheiro para aluguel, Correios fecham mais uma agência em Campo Grande
Agência localizada em complexo de lojas na Avenida Mascarenha de Moraes que será fechada (Foto: Paulo Francis)

Na esteira do agravamento da crise financeira dos Correios, Mato Grosso do Sul se prepara para fechar mais uma agência postal na capital em decorrência de atraso no pagamento do aluguel e de falta de orçamento para renovar um contrato já vencido. A próxima unidade fica na Avenida Mascarenhas de Moraes, em Campo Grande, informou o presidente do SINTECT-MS (Sindicato dos Trabalhadores dos Correios, Telégrafos e Similares de Mato Grosso do Sul), Wilton dos Santos Lopes ao Campo Grande News.

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Os Correios fecham mais uma agência em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, devido ao atraso no pagamento do aluguel e falta de orçamento para renovação contratual. A unidade localizada na Avenida Mascarenhas de Moraes é a mais recente afetada pela crise financeira da estatal. A empresa enfrenta seu pior momento histórico, com prejuízo de R$ 6 bilhões até setembro e previsão de déficit de R$ 10 bilhões até 2025. A estatal negocia empréstimo de R$ 20 bilhões com consórcio bancário, enquanto opera com metade do quadro funcional no estado, cerca de 1.100 funcionários.

“O aluguel estava atrasado, não havia orçamento para renovar o contrato, e esse contrato venceu. O locatário não quis manter, até porque já existiam parcelas pendentes, e a superintendência também não tinha verba para renovar. Por isso, foi feito um fechamento provisório, com previsão de buscar um novo ponto, uma nova locação, quando chegar o aporte financeiro”, disse o dirigente sindical.

Ao longo dos últimos anos, várias agências foram fechadas no Estado seguindo os planos de redução de custos e reorganização da rede de atendimento em todo o Brasil.

A expectativa agora é de regularizar as pendências financeiras e buscar uma nova locação com a entrada do eventual empréstimo de R$ 20 bilhões que a estatal negocia com um consórcio de bancos (Banco do Brasil, Citibank, BTG Pactual, ABC Brasil e Safra), com garantia da União. O Tesouro Nacional, entretanto, rejeitou o aval ao considerar elevada a taxa de juros da linha de socorro, 136% do CDI (equivalente a 20,4% ao ano, e determinou que não aceitará nenhum crédito acima de 120% do CDI (cerca de 18% ao ano).

O crédito bilionário integra o plano de reestruturação aprovado pelo conselho de administração dos Correios no sábado, 29 de novembro, em reunião extraordinária. Parte dos recursos seria utilizada para pagar dívidas, evitar colapso operacional, reestruturar a estatal e retomar investimentos.

No plano de reestruturação, os Correios informaram que o prejuízo registrado até setembro chegava a R$ 6 bilhões, e reiteraram o risco de o déficit aumentar até o fim de 2025 para R$ 10 bilhões. O rombo acumulado no primeiro semestre já ultrapassava R$ 4 bilhões.

A pior crise financeira da estatal em sua história impacta diretamente Mato Grosso do Sul e todas as regiões do país, com precarização dos serviços e falta de pessoal.

O dirigente SINTECT critica o plano de reestruturação da gestão nacional a partir do fechamento de unidades na tentativa de reduzir custos de aluguel. O entendimento é que o fechamento prejudica a distribuição dos serviços e sobrecarrega as unidades remanescentes no Estado.

“Isso acaba sendo uma economia burra. A gestão olha apenas para o lado das despesas, cortar para equilibrar, e esquece o lado da receita. O foco deveria ser recuperar a receita que nós perdemos”, disse.

Ele critica, nesse caso, a precarização do transporte de encomendas no governo anterior sob a justificativa de privatizar a estatal, aumentando os prazos de entrega. O exemplo é o atraso em entregas de Sedex, que antes era ‘D+1’, ou seja, chegava no dia seguinte. “Mesmo assim, os Correios são tão grandes que não conseguiram privatizar. Nós vencemos essa batalha, demonstrando que a estatal era sustentável.”

Segundo disse, os Correios eram superavitários e, no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, por exemplo, a estatal direcionou cerca de R$ 6 bilhões ao governo federal em dividendos. Pelas regras vigentes, toda estatal com lucro pode ter até 25% do resultado requisitado pelo governo, ou até mais, caso o governo decida.

O dirigente também criticou o governo Lula que, apesar de prometer fortalecer a estatal, não conseguiu reverter o processo de precarização herdado. “O governo Lula assumiu dizendo: ‘Não vamos privatizar os Correios, vamos fortalecer os Correios’. Colocou o presidente indicado, o Fabiano Silva, que não teve capacidade de reverter o processo de precarização. Há dois anos, tínhamos condições de nos reerguer com as próprias pernas. Só que ele continuou na mesma linha da gestão anterior e aprofundou a crise.”

Com isso, a crise se agravou e atingiu patamares inéditos. De forma generalizada, prestadores de serviços estão com pagamentos atrasados, assim como aluguéis, em razão do endividamento da estatal. A empresa também não tem honrado o pagamento do plano de saúde. “Nós pagamos 40% e a empresa 60%, mas ela não tem honrado.”

Para ele, dois fatores agravaram o quadro. O primeiro foi a Universalização Postal, que obriga a presença da estatal em todos os municípios, inclusive os que não dão lucro, um ônus bilionário. “Esse custo é estimado em R$ 5 bilhões anuais. Quando os Correios estavam bem, absorviam esse valor. Hoje não conseguem. O governo deveria fazer o aporte para garantir a presença, colocar isso no orçamento”, defende.

O segundo fator foi a taxação das importações no segmento eletrônico em que os Correios tinham exclusividade, a chamada taxação das blusinhas. “Os Correios tinham exclusividade para entregar encomendas internacionais de até 150 gramas. Com a mudança, perderam essa exclusividade e houve sobretaxa sobre importações. Isso reduziu as compras e o Correio perdeu cerca de R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões por ano. Somando os dois fatores, o valor perdido supera o déficit atual. Foi um tiro no pé, na minha visão, e a gestão dos Correios não teve competência para fazer contraponto dentro do governo.”

Metade do quadro de pessoal em operação - Hoje, as unidades sul-mato-grossenses operam com praticamente metade do quadro de funcionários – cerca de 1,1 mil trabalhadores concursados no modelo celetista. No passado, o número chegou a quase 2 mil. Não há reposição desde 2011, mesmo como diversos planos de demissão incentivada como o PDI (Desligamento Incentivado) e PDV (Demissão Voluntária). No Brasil, o total de trabalhadores caiu de 120 mil para 87 mil.

“Teve concurso nesta nova gestão, encerrado há quase um ano, mas até agora não contrataram ninguém”, disse.

Os Correios, antes marcados pelas entregas de cartas, serviço hoje praticamente inexistente, apostam no e-commerce para crescer e gerar receita. Mas defendem ser necessário recuperar processos precarizados. Hoje, segundo o presidente do sindicato, a estatal possui entre 30% e 35% do mercado de entregas postais, além de carregar o papel social de estar presente em municípios pequenos onde a iniciativa privada não atua.

Como exemplo, citou o programa do governo federal que utiliza a estatal para devolver dinheiro desviado do INSS. “Quem o governo enxergou por estar presente em todos os municípios e oferecer atendimento presencial, principalmente às pessoas idosas que não têm acesso à tecnologia? Esse é o papel dos Correios”, afirmou.

No mundo, segundo ele, 95% dos serviços postais ainda são estatais. “Os países que privatizaram estão voltando atrás. Nos EUA, privatizaram o ‘filé’ (encomendas), mas o postal é estatal e dá prejuízo. Mesmo assim, o governo subsidia, porque entende a importância social”.