Mães se unem para vigiar crianças e reduzir tempo de tela em jogos online
Famílias criam rotina coletiva para equilibrar tecnologia, convivência e infância saudável
Para evitar que suas crianças fiquem mergulhadas no universo virtual e sofram as consequências dos efeitos das telas, muitas mães têm transformado o que poderia ser um problema em uma rede de apoio e vigilância. Elas combinam horários, trocam experiências e revezam cuidados em busca de equilíbrio entre o mundo online e o offline.
RESUMO
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Mães criam rede de apoio para monitorar o uso de jogos online por seus filhos, estabelecendo horários controlados e incentivando atividades ao ar livre. A iniciativa surgiu após preocupações com riscos como assédio virtual, bullying e dependência tecnológica. As participantes compartilham experiências e revezam a supervisão das crianças, limitando o tempo de tela a duas horas diárias. Além do controle parental, as mães incentivam atividades físicas, responsabilidades domésticas e interação social presencial, buscando equilíbrio entre os mundos virtual e real.
Thais Hickmann é radialista e mãe de José Eduardo, o Dudu, de 8 anos. Já Ana Letícia Sartori Xavier é bióloga e mãe de Íris, de 9 anos, colega de sala de Dudu no 3º ano do ensino fundamental. As duas participam de grupos de mães que funcionam como uma espécie de rede de apoio, troca e monitoramento.
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A ideia surgiu por conta dos riscos a que as crianças estão expostas, como assédio de estranhos, bullying e até casos em que a criança se vicia e se torna dependente da conexão virtual. Thais relata que houve um episódio em que o filho estava no computador, no escritório, e ela flagrou um estranho fazendo perguntas no chat do jogo. A partir daí, o controle foi redobrado.
Rede - Ana Letícia participa de dois grupos de mães, um na escola, como Thais, e outro no condomínio onde mora. Neste último, as mães se organizam para, além de trocar experiências, supervisionar brincadeiras e incentivar o contato entre os filhos.
A organização nasceu após reclamações de moradores de que as crianças estavam brincando sozinhas. Em vez de proibir, elas decidiram agir em conjunto. “A gente acredita que brincar livre é importante. Muitos pais têm medo de deixar os filhos brincando sozinhos, mas permitem que fiquem nas telas. O ambiente do condomínio é mais seguro que a internet”, defende.
Quando os pequenos do condomínio querem jogar, as mães combinam e eles se reúnem no playground com seus celulares, divertindo-se nos jogos online também.
Monitoramento - Em casa, Íris, filha de Ana, joga 99 Noites dentro do Roblox, o mesmo jogo que Dudu e os colegas de escola. Nem todos os dias a menina se conecta, mas há a regra de, no máximo, duas horas de tela por dia, com controle parental nos aplicativos e e-mails.
“Entre jogar e brincar, ela prefere sair com os amigos”, afirma Ana, lembrando que a menina mudou de comportamento quando ganhou o celular. “Eu tirei as telas por um tempo, e ela voltou a ser a mesma menina, fazendo acrobacias e brincando”, conta a mãe. Íris é praticante de arte circense, acroyoga e dança.

Na casa de Thais, o uso da tecnologia segue a mesma lógica. O filho não tem celular. “Ele só joga quando eu ou o pai estamos por perto. Pode ficar online com os amigos, mas nada de conversar com estranhos”, conta. Dudu não usa fone de ouvido e joga videogame na sala da casa, sob supervisão.
A rotina do menino é agitada. Entre a escola, o judô, o futsal, o kung fu e as aulas de Kumon de português e matemática, sobra pouco tempo para as telas. Mesmo assim, como qualquer criança da idade, ele adora jogar, especialmente o Roblox, plataforma que virou febre entre os pequenos.
Comunidade - Thais combina os jogos online no grupo da escola. “As crianças marcam os horários, e eu confirmo com as mães, e todos entram juntos”, explica Thais, ao afirmar que muitos pais programam o celular do filho para encerrar após uma hora ou uma hora e meia de conexão. E quando não há colegas online, ela orienta o filho a encerrar o jogo.
Dudu e seus amigos gostam de participar de eventos criados dentro do Roblox. “Eles formam equipes para disputar acessórios, armas e equipamentos para sobreviver mais tempo no jogo que ‘salva crianças’. O objetivo é ‘zerar’ as 99 noites na floresta”, explica, referindo-se a um dos jogos preferidos do grupo.
Apesar de o filho ter uma rotina intensa e saudável, com muito esporte e pouca ociosidade, ela percebeu os efeitos do uso excessivo dos jogos. “Depois que começou a jogar com mais frequência, ele ficou mais disperso. No fim de semana quer jogar mais tempo, mas a gente controla”, diz.
Exemplo - O contraste entre segurança e exposição é o ponto que mais preocupa as duas mães. “Muitos pais acham que o filho está protegido dentro do quarto com o celular, mas não está. A internet é um lugar sem controle, com conversas e pessoas que a gente nem imagina”, diz Ana.
Para Thais, o equilíbrio vem do exemplo e da presença. “A gente tenta reduzir o uso do celular na frente dele. Se nós, adultos, não conseguimos nos controlar, como vamos cobrar das crianças?” questiona.
Mais do que controlar o tempo de tela, as mães acreditam que é preciso ensinar responsabilidade e lidar com as frustrações, algo que Dudu aprende em casa, com suas obrigações diárias, como fazer a tarefa da escola e lavar a louça, e também nos esportes. “Ele é goleiro no futsal e, no kung fu, participa de campeonatos. Aprende que nem sempre as coisas acontecem do jeito que ele quer. Isso o ajuda a crescer”, diz Thais.
Ana complementa que não adianta tirar o celular sem oferecer algo melhor. “Levo a Íris para andar de bicicleta, subir na árvore, brincar na grama. Parece simples, mas é necessário.” No entanto, afirma que a filha também tem suas responsabilidades, como arrumar o quarto, limpar o tênis e passar a vassoura na sala.
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