ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
JULHO, QUINTA  10    CAMPO GRANDE 27º

Arquitetura

Projeto quer dar status de museu ao cemitério mais antigo de Capital

Único na Semana Nacional de Museus, Cemitério Santo Antônio revela arquitetura e 150 anos de história

Por Jéssica Fernandes | 10/07/2025 06:59
Projeto quer dar status de museu ao cemitério mais antigo de Capital
Estátuas e jazigos compõem cenário do Cemitério Santo Antônio, o mais antigo da Capital. (Foto: Osmar Veiga)

Entre jazigos, esculturas e lápides do século passado, o Cemitério Santo Antônio guarda parte da história de Campo Grande. É na Avenida Consolação que a memória e a arquitetura se encontram sob a sombra silenciosa do único cemitério da cidade a participar da 23ª Semana Nacional de Museus. Pela primeira vez no evento, o objetivo é mostrar que cemitérios não são lugares de esquecimento e que, assim como qualquer museu, merecem ser valorizados e vistos com um olhar mais cuidadoso.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

O Cemitério Santo Antônio, em Campo Grande, participou pela primeira vez da 23ª Semana Nacional de Museus, destacando-se como um espaço de memória e cultura. Fundado no início do século XX, o cemitério abriga túmulos históricos e personalidades que marcaram a história da cidade. Com atividades como palestras, visitas guiadas e exposições, o projeto busca conscientizar a comunidade sobre a importância de preservar esse patrimônio. A iniciativa também inclui o uso de QR Codes em túmulos históricos, que direcionam para histórias contadas no Instagram, reforçando o valor cultural do local.

Mais antigo da cidade, o Cemitério Santo Antônio foi fundado primeiro na região da Praça Ary Coelho, no início do século XX. Entre 1888 e 1913, foi transferido para o endereço onde hoje funciona a Casa da Indústria, na Av. Afonso Pena, 1206. Por fim, em 1914, chegou ao Bairro Vila Santa Dorotheia. Essas e outras informações constam em um banner dos 150 anos do cemitério, junto com fotos, logo na entrada pela avenida.

Servidor da Prefeitura de Campo Grande e encarregado do cemitério, Lilsson Souza é uma das pessoas à frente da inserção do lugar na 23ª Semana Nacional de Museus, que no ano de 2025 traz como tema “O Futuro dos Museus em Comunidades em Rápida Transformação”. A semana é uma temporada cultural coordenada pelo Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), aberta à participação de museus, instituições de memória, espaços e centros culturais brasileiros.

Projeto quer dar status de museu ao cemitério mais antigo de Capital
Lilsson fala sobre importância do Cemitério Santo Antônio para a memória. (Foto: Osmar Veiga)

O geógrafo explica que desenvolveu o projeto inicialmente no mestrado em antropologia social e, depois, surgiu a oportunidade de inscrevê-lo em abril deste ano na chamada do instituto.

É um projeto justamente para fomentar a importância do cemitério como história, cultura, memória, as personalidades, os túmulos históricos que contam a história da arquitetura, da simbologia, de tudo que tem dentro desse contexto”, destaca.

O primeiro passo para fazer esse trabalho de conscientização na comunidade foi dado em maio, com apoio da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, da gerência dos cemitérios públicos da Capital e também com o envolvimento de proprietários de jazigos e familiares.

Projeto quer dar status de museu ao cemitério mais antigo de Capital
Outro jazigo evidencia traços da cultura japonesa. (Foto: Osmar Veiga)
Projeto quer dar status de museu ao cemitério mais antigo de Capital
Túmulo da família José Abrão, que dá nome a um dos bairros da Capital. (Foto: Osmar Veiga)

Em maio, o cemitério serviu de ponto de encontro para primeira a atividade intitulada “Cemitério como Patrimônio Cultural”, onde a palestra deu sequência a uma visita guiada pelo lugar. A programação segue pelo restante do ano, permeada por palestras, oficinas e exposições. Em julho, é a vez da palestra “Raízes e Memórias: Legados dos Imigrantes Japoneses e a Formação Sociocultural e Econômica de Campo Grande”. A ação será realizada no sábado (12), das 15h às 17h, de forma presencial na capela do cemitério.

Nesse meio tempo, ocorreu a criação do coletivo “Guardiões da Memória CG”. Por meio dele, as ações da 23ª Semana Nacional de Museus vêm acontecendo. Um ponto positivo da ação, segundo o servidor, é ver diferentes gerações com as atenções voltadas para o cemitério.

“É um projeto que está nascendo e é bonito ver a participação. Ele une gerações, porque a gente tem arquiteto, advogado, empresário, todos com vínculo com o cemitério. Então, estamos unindo gerações em torno de valorizar o cemitério”, completa.

Projeto quer dar status de museu ao cemitério mais antigo de Capital
Detalhes da arquitetura de uma das estruturas erguidas no lugar. (Foto: Osmar Veiga)
Projeto quer dar status de museu ao cemitério mais antigo de Capital
À frente do projeto, Lilsson explica detalhes de pedra que constítuem jazigo. (Foto: Osmar Veiga)

Lilsson também cita uma das ideias que surgiram neste ano e já saíram do papel. “Tem a questão do uso de tecnologia simples, que é a colocação de QR Codes em túmulos históricos. O QR Code leva para o Instagram, onde essas histórias são contadas”, explica.

São histórias de personalidades importantes de Campo Grande, como a atriz Glauce Rocha, a artista visual Lídia Baís, o precursor do chamamé Zé Corrêa, entre outros.

Preservar a memória – Gerente dos cemitérios públicos da cidade, Denise Lima de Oliveira destaca que o Santo Antônio guarda túmulos que datam de 1914.

Se for analisar, ele representa totalmente a sociedade da época, na arquitetura e nos detalhes”, explica.

Projeto quer dar status de museu ao cemitério mais antigo de Capital
Placa com QR Code foram instalas no túmulo de personalidades, como Glauce Rocha. (Foto: Osmar Veiga)
Projeto quer dar status de museu ao cemitério mais antigo de Capital
Zé Corrêa é uma das figuras importantes enterradas no cemitério. (Foto: Osmar Veiga)

Ela reforça que a maior preocupação não é apenas com a estrutura, mas com a memória preservada em cada espaço. “Essa é a nossa visão, de tentar resgatar o que a gente guarda aqui. Nessas visitas guiadas isso é muito legal, porque você vai resgatando as memórias de uma cidade que foi se desenvolvendo aos poucos, e você consegue acompanhar, em cada visita e em cada túmulo, o desenvolvimento de Campo Grande”, frisa.

Mas, ao valorizar a história que o cemitério guarda e fomentar a educação patrimonial na comunidade, Lilsson explica que é possível fortalecer o sentimento de pertencimento. Com isso, casos de abandono de jazigos, placas e túmulos podem deixar de ser uma realidade no futuro.

São 15 mil lotes que formam o cenário onde estão enterradas personalidades que contribuíram para a formação da cidade e do Estado, como José Antônio Pereira, Ary Coelho, Manoel da Costa Lima, Coronel Antonino e muitos outros.

Projeto quer dar status de museu ao cemitério mais antigo de Capital
Túmulos coloridos de família japonesa são pintados anualmente. (Foto: Osmar Veiga)
Projeto quer dar status de museu ao cemitério mais antigo de Capital
Inspirada no costume dos Higa, outra família pintou túmulo de rosa choque. (Foto: Osmar Veiga)

No Cemitério Santo Antônio é possível vislumbrar incontáveis histórias. Em uma das quadras, estão seis túmulos, todos datados de 1945, de vítimas de um incêndio que atingiu a Base Aérea. Em outra parte do terreno, chamam atenção os túmulos coloridos da família Higa. Os tons vibrantes contrastam de forma curiosa com os acinzentados e o mármore de outros jazigos ao redor.

Esses túmulos coloridos são pintados anualmente, segundo Lilsson, sempre em uma cor diferente da anterior. O costume é tão presente que os familiares de uma mulher, que não tinha nenhuma relação com a família japonesa, decidiram pintar seu túmulo em um tom rosa-choque, onde o único detalhe preto é a cruz posicionada acima.

Outra curiosidade revelada durante a visita guiada pelo geógrafo é como o cemitério é capaz de representar a diversidade de religiões. “O cemitério é uma representação bem fiel do estado laico. Todas as religiões são representadas. Você tem as missas de segunda-feira, o pessoal das matrizes africanas que vem, os espíritas, budistas, maçonaria”, completa.

Projeto quer dar status de museu ao cemitério mais antigo de Capital
Túmulo onde estão enterradas algumas das freiras filhas de Maria Auxiliadora. (Foto: Osmar Veiga)
Projeto quer dar status de museu ao cemitério mais antigo de Capital
Datados de 1945, seis túmulos reúnem vítimas de incêndio. (Foto: Osmar Veiga)

Enquanto alguns jazigos, placas e túmulos são um retrato fiel de cuidado, seja pela limpeza ou pelas flores frescas deixadas ali, outros revelam os danos causados pelo abandono.

Ainda no âmbito da história da cidade, Lilsson mostra um monumento que serve de referência para ilustrar a passagem do tempo e uma era de Campo Grande que não volta. Datado de 1929, o túmulo de El Joseu Zambelli é um dos mais antigos do Cemitério Santo Antônio. Para além da própria arquitetura, com uma estrutura vertical de pedra que se afina em direção ao topo, onde repousa uma cruz, a placa revela a linguagem da época: “Saudades de seus paes”. A palavra “paes” era utilizada como plural de pai e mãe em períodos passados, antes da consolidação da grafia atual da língua portuguesa.

São essas e outras percepções que o projeto busca provocar. Futuramente, o geógrafo quer incluir escolas, para que as futuras gerações tenham esse olhar, e também universidades, já que o cemitério é um terreno fértil para diferentes possibilidades de pesquisa.

Projeto quer dar status de museu ao cemitério mais antigo de Capital
De 1929, túmulo de El Jseu é o mais antigo encontrado no cemitério. (Foto: Osmar Veiga)
Projeto quer dar status de museu ao cemitério mais antigo de Capital
Monumento serve como exemplo da passagem do tempo e história de outra Campo Grande. (Foto: Osmar Veiga)

Confira a galeria de imagens:

  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News

Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.

Nos siga no Google Notícias