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Artes

Atriz leva Nelson Rodrigues para dentro das prisões femininas de Campo Grande

Teatro como libertação: 'Valsa nº 6' chega a presídios femininos de MS

Por Thailla Torres | 08/10/2025 10:18
Atriz leva Nelson Rodrigues para dentro das prisões femininas de Campo Grande
Em cena, Tauanne interpreta Sônia, uma jovem que tenta remontar sua própria história entre delírios e lembranças provocadas por um crime de feminicídio (Foto: Lunar Fotografia)

O drama “Valsa nº 6”, de Nelson Rodrigues, vai atravessar os muros das penitenciárias femininas de Campo Grande. A partir do dia 16 de outubro, a atriz Tauanne Gazoso inicia o projeto “A Valsa em Lugares Esquecidos”, uma proposta ousada e sensível de levar o teatro a espaços onde a arte quase nunca chega e onde o silêncio pode ser quebrado pela força da palavra.

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A atriz Tauanne Gazoso leva o espetáculo "Valsa nº 6", de Nelson Rodrigues, às penitenciárias femininas de Campo Grande, em um projeto inédito intitulado "A Valsa em Lugares Esquecidos". A primeira apresentação será aberta ao público no Sesc Teatro Prosa, no dia 16 de outubro, seguida por sessões exclusivas nos estabelecimentos penais femininos da cidade.Na peça, Tauanne interpreta Sônia, uma jovem que reconstrói sua história através de memórias e delírios após um crime de feminicídio. O projeto, que conta com recursos da Política Nacional Aldir Blanc, busca levar arte a espaços tradicionalmente privados de manifestações culturais, promovendo diálogo e reflexão sobre a violência contra a mulher.

Antes de entrar nas prisões, Tauanne faz uma apresentação aberta ao público no Sesc Teatro Prosa, no dia 16, às 19h. O espetáculo terá intérprete de Libras e ingressos gratuitos, disponíveis pelo Sympla no perfil do Sesc Cultura MS (@sescculturams).

Depois disso, a valsa segue outro ritmo: no dia 21, o espetáculo será apresentado no Estabelecimento Penal Feminino de Regime Semiaberto, Aberto e Assistência à Albergada, com uma mediação cultural no dia 20.

Já no Estabelecimento Penal Feminino Irmã Irma Zorzi, as mediações acontecem no dia 22 e as apresentações nos dias 23 e 24, em quatro sessões exclusivas para as internas.

Em cena, Tauanne interpreta Sônia, uma jovem que tenta remontar sua própria história entre delírios e lembranças provocadas por um crime de feminicídio. É uma personagem só, mas com mil vozes, a menina, a mulher, as memórias, as sombras. “A personagem transita entre planos da alucinação e da memória. Cada vez que volto a encená-la, algo novo aparece. É um processo vivo”, conta a atriz.

Atriz leva Nelson Rodrigues para dentro das prisões femininas de Campo Grande
É uma personagem só, mas com mil vozes, a menina, a mulher, as memórias, as sombras.

O projeto nasceu da inquietação de Tauanne e do produtor Halisson Nunes, que assina também a preparação corporal. “Chamamos de lugares esquecidos porque o teatro nunca esteve nesses espaços. Confirmamos com a Agepen que não há registro de apresentações nas penitenciárias femininas da cidade. Queremos mudar isso, ocupar e escutar”, explica Halisson.

Mais do que uma circulação, “A Valsa em Lugares Esquecidos” é uma travessia. Tauanne diz que a ideia é simples, mas profunda: “A arte precisa estar a serviço de todas as pessoas. O teatro é também um gesto político, uma forma de devolver a humanidade onde ela costuma ser negada.”

Com uma encenação minimalista, piano ao fundo e iluminação precisa, a atriz carrega sozinha o peso e a delicadeza da personagem de Nelson Rodrigues. Em tempos em que falar de violência contra a mulher ainda é urgente, a peça se torna um espelho incômodo e necessário. “Sônia vive a transição entre menina e mulher, num percurso que ainda diz muito sobre as mulheres de hoje”, diz Tauanne.

Para Halisson, apresentar essa história em um dos estados com altos índices de feminicídio é um ato de resistência. “Quando essas mulheres privadas de liberdade se veem na narrativa, algo se transforma. O teatro só existe no encontro entre quem faz e quem assiste”, afirma.

A cada sessão, o projeto quer provocar diálogo e memória. “O teatro é um espaço de liberdade, mesmo dentro de uma prisão”, diz Tauanne, citando Cecília Meireles: “Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.”

O projeto tem recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB).

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