No muro, artistas pintam a resistência e devolvem “vida” à escola da periferia
Cerca de 45 voluntários se uniram com 25 alunos da Escola Estadual Maestro Heitor Villa Lobos para integrar a cultura e educação
Para devolver “vida” à Escola Estadual Maestro Heitor Villa Lobos, artistas e alunos resolveram colorir muro. Cerca de 45 voluntários e 25 estudantes do Ensino Médio se uniram no final de semana para pintar o lugar. “A ideia é integrar a arte, cultura, educação e dar voz à periferia, fazendo os alunos se sentirem parte do ambiente”, explica Camila Jara.
Ela é estudante de Ciências Sociais da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e fala sobre a iniciativa em parceria com os artistas. “Conversamos com o diretor porque o local parecia mais uma prisão do que uma escola. Os alunos se sentiam desmotivados. Decidimos fazer os grafites, que dialogam com a realidade da juventude, principalmente a periférica”, afirma.
Camila relata que a fachada da escola aguardava por reforma há quatro anos, porém sem sucesso. O projeto começou com a ideia de reunir pessoas comuns para realizar ações de impactos sociais. A escola é um quarteirão, mas foi reformada apenas a fachada e uma parte da esquina.
O muro foi transformado com grafites, pinturas e colagens. Leonardo Mareco, Alvaro Herculado e Laurielen usaram a técnica "lambe-lambe", que é um cartaz fixado com cola na superfície. "No meu caso esse cartaz era um desenho. O trabalho chama-se Solo Imigrante e funciona como um alento a crise humanitária doa refugiados. Na imagem representada está uma mãe imigrante carregando seu filho, que apesar das dificuldades não demonstra fragilidade", explica Leonardo. "Fiz a pintura ao fundo e completei com a colagem".
Frida Kahlo é o simbolo da resistênica feminina e foi colada no muro pela artista Laurielen, enquanto as araras que representa o Estado foi trabalho de Álvaro. A bandeira do Brasil, o rosto de uma pessoa negra e um punho levantado preencheram os espaços vazios.
A diversidade de cores, rosa, preta, azul, amarela, vermelho transformaram a fachada, que antes era apenas um azul claro desbotado. A pedido dos alunos, asas foram grafitadas para que nos intervalos, possam tirar fotos. “Os alunos criaram a tag deles no muro. Escreveram seus nomes com outra característica”.
Nas portas dos banheiros mais cores e frases como “Acreditem mais em vocês”, “Se ame mais”, “Homem também chora”, “Está tudo bem ter sentimento”, foram gravadas com spray. “Fizemos intervenções, trabalhamos contra o machismo e pela valorização da mulher”, diz Camila.
A ação ocorreu em parceria com a Slam Manoel de Barros e com a CUFA (Central Única das Favelas). Foi quase um mês de preparação, e através de um grupo no WhatsApp conseguiram voluntários para trabalhar no dia, cozinhando e mexendo com a pintura. Os materiais como tintas e alimentos foram de doações que receberam.
“Os alunos, jovens e pré adolescentes, esquecem que é pertencente àquele lugar. Na escola tem regras e a cor apagada deixou o local sem vida. Eles não ficam livres para se expressar. Tem bullying e a gente precisa escutar”, destaca Lívia Lopes.
Ela é artista há dez anos e desde o começo de 2019 se tornou coordenadora do CUFA no Estado. “É uma ONG [Organização Não Governamental] que trabalha com ações para a comunidade periférica. Unimos iniciativas para conseguir apoio”.
Além da pintura, os alunos também tiveram curso de grafite e poesia falada. “Começamos às 8h do sábado e finalizamos às 16h. Foi nossa primeira ação na escola e queremos ampliar, levar em outras instituições com dança. A ideia é levar oficinas e contextualizar o grafite e a poesia falada nesses locais”.