A 5,6 mil km de sua terra, Guido passou por 4 estados e agora tenta a vida em MS
Ele entrou no País por Roraima, com mulher e filho, que dormem na rodoviária e procuram emprego para fixar em Campo Grande
Seu nome é Guido Zacarias Garcia Leon, 43 anos. Na mão um cartaz com os dizeres: “Eu preciso trabalho. Ajuda”. A mensagem é um fio de esperança ainda tecido na mente de um pai de família que sonha com um futuro melhor para o filho de 9 anos e a mulher de 28. A família está a mais de 5,6 mil quilômetros de casa: Matanzas, cidade cubana banhada pelo Oceano Atlântico. Quem passa pelo local, percebe a presença de pai e filho, confunde Guido com as dezenas de venezuelanos andando pela cidade e surpreende-se ao descobrir a origem no país caribenho.
Para o cubano, Campo Grande tem algo que Matanzas não tem. A possibilidade de um futuro inalcançado na terra natal apesar do esforço. Um futuro que começa a partir do momento em que ele e a família se arrisca em um país estranho, numa cidade desconhecida, mas de coração aberto, como ele mesmo diz. A construção do sonho de uma vida de liberdade e prosperidade começa onde quem o vê de dentro do carro nem imagina a história.
“Minha mulher precisa de trabalho mexe com confeitaria de chocolate, faz trufas. Eu já trabalhei como ajudante de pedreiro e estou disposto a trabalhar como repositor, estoquista, atendente. Já ficamos até com depressão porque precisamos trabalhar, conseguir casa e escola pro meu filho”, disse.
Na sombra, o menino Diego Garcia Delgado, de 9 anos, sentado sobre um papelão ao lado de um lençol e alguns brinquedos junta algumas moedas doadas por pessoas que se sensibilizam a imagem dele ao lado do pai. “Meu filho é deficiente precisa de fisioterapia para o braço e de tomar remédio para a cabeça. Ele tem crises convulsivas. Eu vou enfrentar tudo e crescer para que ele estude. Eu ensino que é melhor pedir do que pegar dos outros”, disse.
Guido, motorista por 20 anos em Cuba abriu mão de tudo o que tinha para arriscar-se mundo afora. Entrou no Brasil pela Guiana Britânica, ao norte, acima do estado brasileiro de Roraima, uma rota de imigração ilegal que vem sendo usada nos últimos anos por centenas de cidadãos do País de Fidel Castro.
Uma série de experiências em busca de um novo lar para a família começaria em Boa Vista. Mas a primeira parada frustrou a expectativa. “Em Cuba, todos têm sonho de ir pros Estados Unidos ficar rico. Eu vim pra cá achando que era sim também, mas não é assim. Quando eu cheguei aqui eu chorava, sofria”, contou.
A entrada no Brasil - A família cubana começa, então, sua trajetória rumo ao sul do país. Sabendo sobre a fama de desenvolvida da região sudeste, aventurou-se em São Paulo. Entre uma parada e outra encontrava quem estivesse disposto ajudar com abrigo ou alimento. A procura de um lugar que desse a chance de instalar-se para cuidar da mulher e do filho, Guido ainda não estava satisfeito e se manteve otimista, ou positivo, como tenta expressar-se em ‘portunhol’.
Os três passaram por Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Joinville (SC), Nova Alvorada do Sul até Campo Grande. Terminais rodoviários serviam como o melhor hotel nesse caminho até a Capital. A primeira vez que estiveram em Campo Grande permaneceram por 25 dias. Em seguida, voltaram para o sul. Mas a chuva e o frio diferentes da realidade de Matanzas os fizeram voltar para o clima de cerrado na capital morena.
Vestido com a camisa 10 do Paris Saint- Germain de Neymar, Guido diz ter a certeza de ter encontrado o lugar certo para a família após ter percorrido dez estados. Só falta o emprego. “Não sinto falta de casa. Lá não tenho nada, aqui também não. Queremos trabalhar. Campo Grande tem um grande coração e vamos conseguir. Eu sou positivo”, disse esperançoso.