Aos 23 anos, Ryanna se torna símbolo de mudança em cartilha de inclusão
Mulher trans rompe barreiras no mercado e inspira guia prático de respeito no trabalho
O batom vermelho acompanha o uniforme da rede varejista onde Ryanna Karlla Nunes Bezerra, de 23 anos, começou como operadora de caixa. Hoje, ela volta os olhos ao futuro como supervisora. Mas, nesta segunda-feira (28), a jovem foi além do balcão: entrou no auditório da Procuradoria-Geral de Justiça como protagonista de um evento que fala diretamente com sua história.
RESUMO
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O Ministério Público de Mato Grosso do Sul e a Secretaria de Estado da Cidadania lançaram a cartilha "Inclusão e TRANSformação", que visa orientar empresas na criação de ambientes de trabalho inclusivos para pessoas LGBTQIA+. O documento foi apresentado em evento na Procuradoria-Geral de Justiça. A iniciativa ganha destaque através da história de Ryanna Karlla Nunes Bezerra, de 23 anos, que superou barreiras e hoje atua como supervisora em uma rede varejista. Em um cenário onde mais de 90% das pessoas trans estão fora do mercado formal, a cartilha propõe ações concretas, desde o uso do nome social até políticas de não discriminação.
Ryanna foi uma das vozes do lançamento da cartilha Inclusão e TRANSformação, fruto de uma parceria entre o Ministério Público de Mato Grosso do Sul e a Secretaria de Estado da Cidadania. Mais do que um material técnico, o documento quer guiar empresas a criarem ambientes de trabalho inclusivos para pessoas LGBTQIA+, em especial para quem, como Ryanna, teve que enfrentar o medo do preconceito antes mesmo da entrevista de emprego.
“Para a gente chegar ao mercado de trabalho é sempre um desafio, porque tem aquela questão: será que eles vão aceitar a gente? Como será o local e os colegas de trabalho? A gente tem que quebrar esse tabu”, comparou.
Numa realidade em que mais de 90% das pessoas trans estão fora do mercado formal, e com uma expectativa de vida de apenas 35 anos, segundo a própria cartilha, a história de Ryanna é exceção. Ela sabe disso, mas quer que o caminho deixe de ser solitário.
“Eu tive sorte, e agora quero que as pessoas vejam que onde eu estou chegando, elas também podem chegar. A cartilha mostra que as coisas estão mudando, que a mente do ser humano está se abrindo, e também abre os olhos das pessoas trans que ainda têm receio de entrar no mercado de trabalho”, diz.
A publicação é voltada para contratantes, gestores de RH e lideranças empresariais, e propõe ações concretas: do uso do nome social à criação de políticas de não discriminação, passando por qualificação profissional e mudanças de mentalidade. Com linguagem acessível, explica conceitos sobre identidade de gênero e orientações sexuais, e propõe que a inclusão seja compromisso de todos, não apenas das pessoas LGBTQIA+.
Durante o evento, a vice-presidenta do Conselho Estadual LGBTQIA+, Bel Silva, destacou o uso correto dos pronomes e lembrou que “ser aplaudida no evento, mas adoecida no trabalho” ainda é uma realidade comum. “Trabalho é um determinante social de saúde. A cartilha chega para enfrentar essa realidade e abrir espaços de escuta e ação”, reforçou.
O subsecretário de Políticas Públicas para a População LGBTQIA+, Vagner Campos, destacou que a empregabilidade das pessoas trans é “uma urgência social”, enquanto o procurador-geral de Justiça, Romão Ávila Milian Júnior, apontou que “sem trabalho, ninguém tem dignidade”.
Com crachá no peito e um discurso firme, Ryanna sintetiza tudo aquilo que a cartilha defende. A promoção recente ao cargo de supervisora é só mais uma conquista num caminho que ela mesma abriu. Agora, ela quer que outras possam trilhar também.
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