Aposentada troca o tango pela oração durante a Quaresma
Devota revela como cumpre lista rigorosa de penitências, por 40 dias, desde a infância
Se a Quaresma fosse uma competição, dificilmente alguém estaria no páreo com Maria das Dores Rodrigues da Silva Brasil, de 66 anos. Ficar sem carne vermelha, refrigerante ou fruta favorita é moleza. Para a professora aposentada, nos próximos 40 dias, o maior desafio será ficar sem dançar.
A enquete da quarta-feira de cinzas (5) questionou os leitores se seguiam a tradição católica de cumprir promessas na quaresma. A maioria, 69%, votou que não, enquanto 31%, como Maria das Dores, tem essa devoção quaresmal.
RESUMO
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Maria das Dores Rodrigues da Silva Brasil, de 66 anos, é uma professora aposentada que leva a Quaresma a sério, abstendo-se de dançar, pintar as unhas de vermelho e comer carne vermelha durante os 40 dias do período. Criada em uma família católica, Maria cumpre penitências rigorosas desde criança, e já chegou a abrir mão de relações sexuais durante a Quaresma. Sua devoção é expressa através de orações e participação ativa em missas, buscando proteção e saúde para sua família e para a humanidade. Mesmo sendo uma dançarina premiada, Maria afirma que perde a vontade de dançar durante a Quaresma, dedicando-se inteiramente à sua fé.
Quem vê Maria usando véu e segurando a Bíblia Sagrada na Igreja Perpétuo Socorro, em Campo Grande, nem imagina que sua habilidade com a dança já a levou a diversos palcos. Em 2015, ela ficou em primeiro lugar na competição de tango realizada em Bonito. “Pensaram que eu fosse da Argentina”, revela.
Mas algo muda dentro da aposentada quando a Quarta-feira de Cinzas chega. Por mais que ame dançar, ela não se deixa levar por ritmo nenhum. O corpo trava de um jeito que nem Maria consegue explicar.

Eu perco a vontade de dançar. Eu não sei, pode tocar o que for. Não sei, tá em mim, mas eu não consigo enquanto estou na Quaresma”, afirma.
Criada em família católica, Maria cumpre a Quaresma de forma rígida desde criança, quando estudava em colégio de freiras. Com o passar do tempo, as penitências foram ficando mais complexas, conforme a importância de abrir mão de algo no período.
Antes de ficar viúva, há 19 anos, a aposentada não ‘nhanhava’ com o marido por quarenta dias. ‘Nhanhava’ é o termo que usa para se referir a sexo quando faz mais essa revelação à reportagem.
Quem assistiu à novela “A Indomada”, de 1997, vai sentir familiaridade com a gíria. Na trama, Luiza Thomé interpretava Scarlet, esposa do prefeito Ypiranga, que não vivia sem sexo e sempre perguntava ao marido: “Vamô nhanhá?”.
Voltando à conversa sobre Quaresma, a aposentada ressalta que todas as penitências que já cumpriu e que ainda irá cumprir são em nome da devoção e do amor a Deus. “Tem tempo que já faço isso, eu só tenho vitórias com isso”, completa.
Neste ano, o compromisso dela até 17 de abril envolve ficar sem dançar, sem pintar as unhas de vermelho e sem comer carne vermelha. Além disso, a devota reza o dobro do que o normal e em períodos que não costuma ter esse hábito. “Acordo de madrugada, coisa que antes disso não faço. Mas na Quaresma eu acordo, eu faço oração na madrugada, rezo a passagem da Bíblia”, conta.
A Bíblia também não sai de perto da professora aposentada, que mostra para a reportagem as passagens que faz questão de ler e rezar. Nos momentos de oração, seja em casa ou na missa, Maria pede proteção, saúde para a família e pela humanidade como um todo.
Com a aposentadoria, ela ganhou um fôlego a mais para se empenhar na devoção, principalmente para ir à missa. A programação está bem decorada e na ponta da língua quando questionada sobre qual é. “Santo Antônio toda terça, Perpétuo Socorro na quarta, quinta missa do Santíssimo e Jericó. Faço tudo isso porque tô aposentada”, pontua.
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